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Calor e seca em Mato Grosso reduzem safrinha no estado

Clima murcha plantas em área de Sapezal, principal região produtora e algodão do estado


Se no Paraná as temperaturas na lavoura superam os 60ºC na terra, conforme apuração da Expedição Safra Gazeta do Povo, imagina em Mato Grosso. O calor escaldante no estado do Centro-Oeste é tanto que não anima os produtores nem a olhar para lavoura, só depois que chover. Muitos ainda nem sequer tiraram as plantadeiras do barracão. E poucas são as regiões com lavouras em estágio normal de desenvolvimento, sem problemas pelo quadro climático, considerado inédito em algumas localidades. A falta de umidade e as altas temperaturas, além de ameaçarem o potencial produtivo das áreas plantadas, já estão comprometendo o plantio da safra de inverno no estado, conforme produtores e técnicos entrevistados.

Com mais de um terço do terreno ocupado pela oleaginosa, a região Medio-Norte mato-grossense está entre as mais prejudicadas pelo clima. “Com a situação de hoje, já comprometemos pelo menos de 25% a 30% da segunda safra”, estima o produtor e diretor do Sindicato Rural de Sorriso, Elso Pozzobom. O município é conhecido como a capital mundial da soja. Pozzobom aposta numa redução de área na safrinha em toda o entorno do município. “Ninguém se preveniu e comprou os insumos [para a segunda safra]. Diante dessa situação, o produtor vai preferir não plantar, porque o preço [do milho] não sinaliza nenhuma margem de lucro”, argumenta. Ele faz parte do grupo de produtores que ainda não conseguiu dar a largada com o plantio da safra 2014/15. Apesar do atraso, provocado pela falta de chuvas, a intenção de semear os 2,5 mil hectares com soja está mantida. “Mesmo que plante em dezembro vou ter de plantar. Vou sair do período ideal e provavelmente a produtividade vai cair, mas não vou mudar os planos agora no verão”, afirma ele, que dá graças por ainda não ter colocado as máquinas no campo.

De acordo com a Associação dos Produtores de Soja do estado (Aprosoja), o atraso nos trabalhos de campo observados até o momento prejudica principalmente aqueles que vão plantar algodão. A entidade também confirma que a área de milho pode ser impactada pelo quadro no verão. O uso de sementes precoces agrava a situação nesses casos. “Essas variedades tendem a ter maior redução na produtividade. Sem contar o ataque de pragas como a lagarta rosca, que só a chuva resolve”, acrescenta o diretor-técnico da Aprosoja, Neri Ribas.

Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de milho, soja e algodão. Para este temporada, as projeções oficiais dão conta de que o estado vai colher 2,5 milhões de toneladas da pluma (58% da produção nacional), 18,1 milhões de toneladas do cereal (36% do total) e mais de 28 milhões de toneladas a oleaginosa (30% do volume brasileiro).

Retrabalho

Boa parte dos produtores que cultivaram o solo em Mato Grosso ou já replantou ou terá de replantar algumas áreas. Como as margens do lucro nesta safra já estão apertadas no estado, que tem um dos maiores custos no país, a tendência é que a conta não feche para muita gente. “Ninguém sabe quanto vai ter de replantar. Se a chuva prevista para domingo ou segunda não chegar, será uma área grande”, afirma o produtor e presidente do sindicato rural de Sapezal (Oeste), principal polo de produção de algodão do estado. Dos 3,4 mil hectares que Scariote destina à soja neste ano, ao menos 150 hectares terão de ser replantados. “Estou vendo que o pessoal vai tirar o pé para a safrinha do próximo ano. O preço ainda esta lá embaixo””, acrescenta.

Ele calcula que haverá um aumento de quatro ou cinco sacos por hectare no custo da lavoura replantada. Com isso, a lavoura teria de render no mínimo 42 sacas por hectare para se pagar, afirma. “O produtor terá de aproveitar o fertilizante que já jogou na terra. Mas ainda tem o investimento em semente, que não é barata, o óleo diesel, a mão de obra, enfim, considerando o preço de hoje, a conta não fecha”, conclui o diretor da Aprosoja.

Clima

O clima quente e seco que predomina no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil é provocado por uma massa de ar quente e seco, que inibe a formação de chuvas  explica Fabio Rocha, meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo o especialista, o déficit hídrico em Mato Grosso é de 100 a 200 milímetros em média, dependendo da região.

Pancadas de chuvas estão previstas para a região Norte e Oeste de Mato Grosso a partir deste domingo, com volumes de 3 a 5 milímetros. Apesar de escassas, as precipitações tendem a salvar parte das lavouras mais afetadas.

“Eu estou em Mato Grosso desde 1985 e não vi nenhum ano de clima igual a esse para o arranque da safra. Já ficamos 15 dias sem chuvas. Mas de não conseguir dar arrancada com o plantio, nunca”, desabafa Pozzobom.

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