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“Não adianta ser sustentável se não mantém o homem no campo”

Afirmação é de Fátima Marchezan, diretora técnica da Associação dos Arrozeiros de Alegrete


“De nada adianta uma cadeia ser sustentável ambientalmente se não mantém o homem no campo, produzindo alimentos para os centros urbanos. Sem a oferta suficiente de alimentos, impera sem dó a mão invisível do mercado – a sociedade vai pagar caro por isso”. A afirmação é de Fátima Marchezan, produtora, bióloga e diretora técnica da Associação dos Arrozeiros de Alegrete.

Segundo ela, “o Brasil possui milhões de hectares potencialmente produtivos sem precisa avançar em áreas de campos nativos ou de preservação. Uma gestão racional dos ambientes naturais, o cuidado com a preservação e a proteção do solo, dos recursos hídricos e da biodiversidade e a conscientização de que nenhuma atividade econômica é viável em um mundo degradado, podem garantir a nossa sobrevivência”. 

“Obviamente, a explosão demográfica também precisa de atenção, mas isso é assunto para outra hora.
A melhoria na qualidade de vida das pessoas deve partir de algumas premissas que incluem consumir alimentos que tenham sua origem em cadeias produtivas sustentáveis social, econômica e ambientalmente”, aponta.

Porém, a especialista sustenta que “produzir alimentos baratos sob o rolo compressor dos custos de produção e preservar os recursos naturais vai ser o grande divisor de águas de quem fica e de quem sai do campo. No cenário atual, o produtor está à mercê de gestores incompetentes e corruptos, pressionado por uma legislação ambiental muitas vezes equivocada, nas mãos dos pacotes tecnológico das grandes multinacionais e continua sendo um mero tomador de preços”.

“Infelizmente, de acordo com o próprio Ministério Público do Rio Grande do Sul, ainda temos muitos problemas de ordem legal tanto na pesquisa quanto na experimentação, produção, embalagem, rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, publicidade e utilização dos venenos utilizados para produzir alimentos”, lamenta ela. 

Fátima descreve algumas situações que caracterizam essas ilegalidades: “A prescrição e assinatura de receituários sem que o técnico tenha vistoriado e diagnosticado a lavoura (que médico receita pelo telefone?) não é raro. Apesar da lei federal (9.294/96) impor restrições à propaganda, essa não obedece qualquer dispositivo legal, sendo veiculada na televisão, no rádio, nos jornais, na internet, e até mesmo em cartazes, placas, faixas e outdoors, como se fossem inócuas à vida. Propaganda enganosa ou criminosa? Lamentável também a condução das vendas desses produtos”. 

“Felizmente, no contraponto, muitas boas práticas de produção já estão consolidadas e sendo utilizadas pelos agricultores há alguns anos, como a integração lavoura pecuária, o plantio direto e o cultivo mínimo, mas ainda temos muito que aprender e evoluir no que diz respeito ao manejo integrado de pragas e seu controle biológico”, destaca. 

“O controle biológico está se tornando uma tendência mundial dentro das estratégias da produção sustentável, pois representa os princípios do manejo integrado de pragas e doenças e uma tecnologia limpa. O biocontrole apresenta menor risco de atingir organismos não alvos, não deixa resíduos tóxicos no ambiente e nos alimentos e, por isso, não apresenta período de carência entre a liberação do inimigo natural e a colheita”, conclui a bióloga.

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