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Helicoverpa armigera: “Estamos fazendo muita coisa errada”

Possivelmente a praga esteja no Brasil há mais tempo do imaginado



Houve muitos erros no enfrentamento à Helicoverpa armigera, tanto no surgimento e mesmo agora, quando novas moléculas foram autorizadas emergencialmente. Essa é a avaliação pesquisadora da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Cecília Czepak.


“Acho que esta lição ainda não foi aprendida, pois mesmo com todo o 'barulho', ainda estamos fazendo muita coisa errada, e é preciso ter coragem para dizer isso!”, afirma a doutora pela Universitá Di Degli Studi Di Perugia Perugia (Itália). Ela é fonte desta série de matérias do Portal Agrolink analisando o aparecimento, a realidade atual e o futuro de uma das pragas mais destrutivas da agricultura brasileira.

“O cenário da H. armigera é o mesmo de anos atrás, quando a mosca branca entrou no Brasil... Medidas emergenciais foram estabelecidas, palestras, caravanas, porém quando os produtos para controle da praga foram liberados de forma emergencial, passou-se a utilizá-los e, como naquela época, funcionavam muito bem, e esqueceram de buscar novas alternativas. Apesar dos avisos, ninguém tomou conhecimento e hoje, depois de quase vinte anos, a mosca branca continua sendo a praga do século XXI, com a diferença que agora divide lugar com a H. armigera”, relembra a especialista.

Foto: Cecilia CzepakDe acordo com ela, “possivelmente esta praga esteja no Brasil há mais tempo do que imaginamos. Ficamos como sempre no "achismo", identificando por eliminação... Um pouco porque é uma praga muito parecida com as espécies que já tínhamos no Brasil, e outro porque é cômodo, muitas vezes, só aplicar ao primeiro sinal da praga, sem mesmo saber qual a espécie que se apresenta, em que quantidade e onde ela se encontra!”.


“No ano passado, os produtores da Bahia enfrentaram surtos incontroláveis, e vários fatores podem ter agravado essa situação. Um deles foi a aplicação calendarizada, sem ao menos o monitoramento devido. Outro foi a manutenção de tigueras, restos de cultura, o plantio safrinha. Nos outros estados ela também apareceu... Em alguns lugares de forma também severa, e em outros somente para marcar a presença, tanto que no início da safra de 2014 todos se assustaram com as populações em soja recém emergida”, diz a pesquisadora.

Cecilia afirma que “não há 'solução' para a agricultura, e sim ferramentas que – bem utilizadas – funcionam, mas mal utilizadas só nos trazem prejuízos ao longo do tempo. Tapar o sol com a peneira é o que muitos estão fazendo não só em relação a H. armigera, mas também em relação à mosca branca, falsa medideira e outras pragas que estão por ai!”.

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Foto: Cecilia Czepak

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