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Problema não é uso do agrotóxico, mas demora no registro de produtos

Almir Dalpasquale analisa pesquisa da Anvisa sobre resíduos em alimentos


Almir Dalpasquale analisa pesquisa da Anvisa sobre resíduos em alimentos

“O grande gargalo está na falta de produtos registrado para algumas culturas, as chamadas Minor Crops ou culturas de baixo suporte fitossanitários. O maior mal que aflige produtores e ameaça o abastecimento é justamente a falta de agilidade de novos registros, mais eficientes, com necessidade de doses menores e, portanto, de menor risco. E infelizmente, entram nessa conta também os biológicos.” A avaliação é de Almir Dalpasquale, presidente da Aprosoja Brasil e diretor-tesoureiro da Famasul (Fedaração da Agricultura e Pecuária de MS).


Ele comentou dados divulgados na última semana pela Anvisa, segundo o qual 98% dos alimentos foram considerados próprios para o consumo de acordo com o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos 2012 (PARA). “Os limites máximos de resíduo de agrotóxicos encontrados foram respeitados, sendo a maior parte das inconformidades do tipo produtos não registrados para a cultura analisada”, afirmou.

“São na maior parte frutas, legumes e verduras que consumimos. Por exemplo: melão, morango, goiaba, manga, mandioca, alface, cebola, pimentão, pepino, jiló, maxixe, vagem, quiabo, cebolinha, coentro. Para essas culturas, por uma questão de mercado, não é lucrativo registrar produtos fitossanitários (agrotóxicos) o que deixa esses produtores sem opção se não usar produtos registrados para um mesmo alvo (praga), mas para outra cultura”, explicou Dalpasquale.

De acordo com o especialista, “ficou claro que a grande questão não é o uso do produto, mas seu registro, o que é um grande gargalo hoje no Brasil. O sistema de processo de registro de agrotóxicos no país é provavelmente o mais burocrático e moroso do mundo. Chega a levar mais de 7 anos para sair um registro. Uma fila de mais de mil pedidos aguardando carimbos, análises e reanálises”.
 
“A grande surpresa foi a mudança de postura louvável da Agência, que fez a leitura correta dos dados, inclusive destacando que os consumidores poderiam consumir os alimentos, pois não haveria nenhum risco. Em divulgações anteriores a inconformidade se transformava em contaminação o que prejudicava profundamente os produtores daqueles produtos, normalmente produtores familiares de pimentão, berinjela, beterraba entre outras culturas”, ressaltou.

 
 Ele adverte que, com o passar dos anos e pela frequência de uso, “alguns produtos perdem eficiência assim como um antibiótico sendo usado para o mesmo agente infeccioso. Se não houver um novo produto para fazer uma rotação com o primeiro, a tendência é que a população da praga ou doença comece a sair do nível de controle e passe para o nível de dano da cultura (não se elimina a praga, apenas se aprende a conviver com ela)”.
 
“Ou mudamos o sistema de registro de novos produtos fitossanitários ou aos poucos vamos ver cada vez mais prejuízos nas plantações por falta de suporte fitossanitário adequado. Vimos com grande alegria os produtores no oeste baiano aprenderem a conviver com a Helicoverpa do jeito correto, usando produtos biológicos, entrando com controle químico só quando necessário”, sustenta.
 
“Agora precisamos de uma contrapartida do governo e do Congresso Nacional. Trabalharmos como uma nação pelo futuro do Brasil. Deixarmos de lado pensamentos xiitas e que não agregam nada. Se formos guiados pela lógica, ciência, bom senso, e pelos fatos, todos deveremos caminhar para o mesmo caminho. Uma revisão do marco legal de agrotóxicos em conjunto com o rito do processo de registro. Afinal, contra fatos não há argumentos como deixou claro o relatório da Anvisa”, conclui.

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