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O efeito de geada em cereais de inverno e em milho


Dirceu N. Gassen

A geada é um dos elementos climáticos de risco que afeta o desenvolvimento de plantas. O mecanismo de ação de geadas se expressa com temperaturas abaixo do ponto de congelamento (Figura 1).

A severidade de danos depende do estádio de desenvolvimento e do teor de umidade na planta, das características da cultivar, do tempo de duração da geada, da cobertura de solo, da exposição da lavoura, de correntes de ar e de outras variáveis. A severidade da geada varia a curtas distâncias na lavoura e é difícil de ser determinada.

Teores de umidade e de sais na planta

O solo atua como reservatório de calor, estabilizando a temperatura. Os solos úmidos e compactos são melhores condutores de calor e transferem para a superfície o calor armazenado durante o dia. Por outro lado, solos secos e descompactados (aerados) são isolantes térmicos e transferem com dificuldade para a superfície o calor armazenado, favorecendo a formação de geada.

A concentração de sais nas plantas é importante fator para diminuir a severidade da geada. Solos com elevados teores de nu-trientes e plantas bem nutridas tendem a so-frer menos de geada por causa de teores de sais mais elevados no conteúdo celular, reduzindo seu ponto de congelamento. Plantas com estresse hídrico apresentam menor teor de água e maior relação sais/água reduzindo seu ponto de congelamento. Em café usa-se potássio para nutrir melhor as plantas e concentrar sais na seiva, em períodos de geada, para diminuir os danos.

Cobertura de solo e exposição da lavoura

A exposição da lavoura para o oeste (sol poente) mantém a temperatura mais elevada na tarde anterior à geada, aquecendo o solo e reduzindo o risco de congelamento. Por outro lado, na manhã seguinte não haverá exposição direta de sol e o descongelamento será lento e gradativo. A exposição da lavoura para o leste tende a apresentar danos mais severos de geadas. A exposição leste resulta na ausência de aquecimento do solo no entardecer e incidência de sol já nas primeiras horas da manhã, com descongelamento rápido e danos mais severos nas plantas.


Figura 1. Geada em trigo.

Os solos cobertos com palhas (Figura 2) refletem os raios solares do dia anterior e resultam em danos mais severos. O solo nu absorve mais calor durante o dia anterior à geada. O gado bovino, nas noites frias se reúne em áreas de solo nu, pela temperatura amena.


Figura 2. Geada em lavoura de trigo sobre palha de milho.

Milho

O dano visual de geadas nas plantas de milho, no primeiro dia, é de coloração verde-escuro. Nos dias seguintes as partes danificadas tornam-se marronzeados e claras em função do extravasamento do conteúdo das células provocado pelo rompimento da parede celular causado pelos cristais de gelo. Sintomas mais severos aparecem nas extremidades superiores e nas folhas jovens, com maior teor de água, menor de sais e mais distante da planta (menor reserva de calor).


Figura 3. Dano de geada em plântula de milho.

Alguns dados indicam que a planta jovem de milho tolera até 50 % de secamento de folhas por geada. Até a fase de seis folhas, o ponto de crescimento do milho está dentro do solo. A morte de plantas poderá ocorrer se o frio for prolongado e a temperatura de congelamento atingir o ponto de crescimento dentro do solo. Em milho o dano aparece na extremidade das folhas jovens (Figura 3).

Trigo e cevada

O trigo na fase vegetativa tolera frios e geadas.
A cevada é mais sensível ao dano de geadas nas fases de crescimento vegetativo e, principalmente, na fase reprodutiva.

Os danos ocorrem a partir da fase de formação de espiga dentro da bainha da folha.

A fase mais crítica é a de antese (fecundação) ou floração, quando a planta libera as anteras. Os sintomas aparecem na morte da espiga (Figura 4) ou na formação do grão (Figuras 5).

Na fase de espigamento é difícil constatar os danos e estimar as perdas. As espigas e os grãos encontram-se em diferentes fases de desenvolvimento, dificultando a avaliação a campo.

A gluma (espigueta) do trigo e da cevada mantém a forma e a cor da espiga por alguns dias, mas o grão pode não se desenvolver mais (Figura 5).


Figura 4. Dano de geada em espigas de trigo.

Para estimar o dano de geadas sugere-se determinar o tamanho dos grãos na espiga de trigo em vários pontos da lavoura. Uma semana depois examinar as espigas dos mesmos locais e comprovar o crescimento ou a morte dos grãos (Figura 5). As espigas mortas pela geada, quando amassadas na mão apresentam textura esponjosa e o desenvolvimento de grãos paralisado.


Figura 5. Grãos de trigo em desenvolvimento normal (E) e grãos de cevada mortos (D) oito dias depois da geada.

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