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Sistema de interpretação de análise de solo para recomendação de adubação


Fabio Torres

Visando ajustar cada vez mais a necessidade nutricional da cultura com a dose do corretivo e fertilizante a ser recomendado, um grupo de pesquisadores desenvolveu um Sistema Computacional para recomendar calagem e fertilização com base no balanço nutricional, considerando-se a análise de solo e da planta e a produtividade esperada. A modelagem por balanço nutricional orienta-se em embasamentos teóricos bem fundamentados, o que dá a este Sistema a vantagem de superar o empirismo das atuais tabelas de recomendação amplamente empregadas. Sob o ponto de vista prático, a principal repercussão deste grupo fora a produção de "Softwares" para interpretação de análise de solo e recomendação de corretivo e fertilização para as principais culturas do agronegócio brasileiro.

A forma de disponibilizar esta tecnologia aos produtores é ainda o grande desafio. Uma das maneiras na qual podemos disponibilizar este Sistema é por meio da internet. A estratégia desta proposta é de já disponibilizar recomendação de calcário e gesso para algumas culturas. Dentre uma série de eventos esta seria a primeira colocação prática que se pode disponibilizar via internet. É válido lembrar que as recomendações que serão geradas pelos modelos jamais substituirão a experiência de anos de cultivo de uma lavoura numa propriedade. O objetivo desta proposta é balizar os técnicos em suas recomendações de forma a contribuir com informações para a sua tomada de decisão.

O Sistema é capaz de interpretar análise de solo e recomendar corretivos e fertilizantes para diversas culturas. Os modelos matemáticos são ordenados em uma seqüência de eventos que contém dentre outras informações sobre o acumulo de nutriente na planta e as interações destes com a parte química e física do solo. Um exemplo para ilustrar onde este Sistema pode chegar é uma regressão matemática capaz de recomendar potássio à cultura do milho mediante entrada de informações solicitadas. Utilizando o modelo para exemplificar a recomendação de K para milho projeta-se então uma produtividade esperada de 6.000 kg de grãos (PROD) e teor de K no solo de 40 mg/dm3 (TEOR) a recomendação gerada pelo modelo será de 77,3 kg/ha de K2O.

K Mehlich-1    Recom. K2O = – 81,1115 + 0,0370***(PROD) – 0,000265***(TEORxPROD)    R2 0,86

Este modelo matemático representa o resumo de uma seqüência de modelos que fundamentam este Sistema. A forma original que é utilizada no Sistema é constituída de aproximadamente 5 a 8 modelos matemáticos por nutriente. Esta variação no número de modelos ocorre de maneira a obedecer as interações do nutriente com a planta e também com características químicas e físicas do solo. É valido ressaltar que a cada mudança de produtividade esperada e teor de K no solo inserido no modelo, os valores recomendados variam proporcionalmente.

No modelo acima a variável produtividade esperada (PROD) representa a informação da planta que baliza a recomendação de potássio. O teor do nutriente no solo (TEOR) é o valor referente à parte química deste e atua de modo a contrabalançar a demanda nutricional da cultura. Mas, dentro do Sistema as informações sobre teor do nutriente na raiz, parte vegetativa e de grãos é a forma capaz de contabilizar a demanda total do nutriente pela cultura em função da produtividade. A taxa de recuperação do nutriente pela planta é variável em função de uma serie de fatores como raiz, fertilizante, dose, solo e entre outros. Quando um extrator é utilizado para extrair o nutriente do solo este deve simular o comportamento da raiz. Mas quando se analisa uma amostra de solo que recebeu dose de fertilizante percebe-se que o valor extraído é menor que o esperado. Então existe um erro de extração que é computado como taxa de recuperação do nutriente aplicado em função do recuperado pelo extrator. O acumulado do nutriente na planta, a taxa de recuperação do nutriente pela planta e recuperação do nutriente pelo extrator são elos que se interligam e fundamentam este trabalho. A informação que abre caminho para a maioria dos cálculos do Sistema é a Produtividade esperada, esta informação desencadeia uma série de cálculos que interligada com informações obtidas junto às análises químicas e físicas do solo configuram o modelo de cálculo deste Sistema.

Para calagem, os modelos de recomendação obedecem duas linhas de raciocínio. Um destes modelos credita na saturação de base ideal necessária a cultura o objetivo final de sua recomendação. Outro modelo prioriza a diminuição deos teores de Al3+ do solo e também o aumento dos teores de Ca2+ e Mg2+ como diretrizes de sua recomendação. Cada modelo tem seu melhor desempenho para a situação especifica almejada. Dentro desta proposta a dose de calcário recomendada deverá obedecer à profundidade de sua incorporação bem como o PRNT do calcário a ser utilizado.

No caso do gesso, os modelos priorizam como base de informação para recomendação a análise de solo em camadas subsuperficiais ou seja amostragem de solo também de 20 a 40 cm. Com base nesta informação deve-se atentar para os teores de Al3+, Ca2+ e S do solo. Existe um padrão de valores a ser seguido e havendo a necessidade de aplicação do gesso a dose a ser recomendada deverá obedecer aos teores de argila do solo ou seja maiores teores de argila maiores dose de gesso e menores teores de argila o inverso. Recomendar a gessagem é prática importante levando em conta os veranicos constantes a que as lavouras estão expostas. O gesso tem a capacidade de reduzir a acidez do solo nas camadas subsuperficias do solo sem alterar o seu ph. Também contribui de modo a enriquecer quimicamente o perfil do solo pois acondiciona nutrientes como Ca2+, Mg2+, K+ e S favorecendo assim o crescimento da raiz em ambientes subsuperficias.

Uma tecnologia que requer a utilização dos Sistemas de Recomendação é a Agricultura de Precisão. Os modelos matemáticos já são utilizados com desenvoltura para interpretar os mapas de fertilidade e consequentemente gerarem os mapas de aplicação dos fertilizantes. A Agricultura de Precisão é uma técnica recém implantada no país e encontra adeptos a seus conceitos principalmente pela dificuldade de acerto nas aplicações dos corretivos e fertilizantes conduzidos nos modelos convencionais. Outra vantagem da Agricultura de Precisão é seu poder investigativo pois uma série de análises de solo de um mesmo talhão são gerados implicando assim em um maior conhecimento das características químicas e físicas desta área.

Alem de outras vantagens, o uso do Sistema impõe uma maior exatidão nas recomendações em comparação ao uso das tabelas de interpretação de análise de solo utilizadas atualmente. Recomendar fertilizante dentro de faixa de valores acarreta em menor poder de exatidão bem como dificulta acrescentar variáveis que são necessárias a obtenção de ajustes cada vez maior nos programas de adubação. Relacionar variáveis como demanda do nutriente pela planta em função da produtividade esperada, taxa de recuperação do nutriente aplicado, nutriente recuperado pelo extrator em função do aplicado e além relacioná-las com o teor de argila implicam em grau de detalhamento necessário aos ajustes dos programas de adubação. 

A agricultura brasileira altamente competitiva e produtiva exige programas de adubação que sejam mais criteriosos e que tenham capacidade de interpretar as diferentes situações de maneira eficiente, com qualidade e desenvoltura mínima aos nossos padrões de agricultura. O aumento nos preços dos fertilizantes bem como a necessidade de ganhos crescentes em produtividade nas lavouras é realidade vivenciada por todos e dentro de um programa de manejo de solo em base sustentável a valorização da matéria orgânica é o caminho que traz resultados diretos sem necessariamente aumento no custo de produção. A matéria orgânica é o “elixir da juventude” para os nossos solos tropicais “velhos” e intemperizados e o manejo de solo valorizando o aporte de palhada, rotação de cultura, consórcio e o plantio direto são alternativas para conduzir de forma sustentável a agricultura brasileira. Projetar ganhos em produtividade sem que os teores de matéria orgânica do solo aumentem em seus valores absolutos poderá ser estratégia de difícil alcance.

Este paralelo entre o Sistema de Recomendação de Adubação e o manejo de solo envolvendo a matéria orgânica objetiva dizer que a fertilização química é incipiente quando tratada de maneira isolada. O solo é um ambiente vivo que requer para a atividade biológica dos microorganismos carbono, água, oxigênio e minerais. As atividades de troca química do solo são dependentes da matéria orgânica e esta dos microorganismos, toda e qualquer absorção de nutriente do solo é dependente da troca química. A matéria orgânica representa o maior percentual de cargas dos nossos solos e a eficiência dos fertilizantes é dependente diretamente dessas cargas geradas pela matéria orgânica. A riqueza de um solo é medida diretamente pelo seu teor de matéria orgânica.

Desenvolver Programas de Adubação separadamente ao manejo da matéria orgânica do solo pode ser uma falha que induzirá a prejuízos às lavouras. A utilização de técnicas agronômicas que se beneficiem da parte inorgânica oriunda dos fertilizantes bem como da matéria orgânica do solo é a forma equilibrada para enfrentar os desafios da sustentabilidade na agricultura. Esta sustentabilidade envolve os fatores sociais, ambientais e econômicos e deve priorizar a matriz de todo o sistema produtivo que é o solo.  

Ao aliar os dois elos do manejo de solo que é a matéria orgânica e mais a parte inorgânica com os corretivos e fertilizantes haverá ganhos à todas as partes deste sistema produtivo. O Sistema de Recomendação que é o alvo deste texto é apenas um elo desta corrente mas ganha atenção quando se considera o valor econômico deste fator de produção. Vale ressaltar que esta proposta que se desenvolve não é a melhor e nem a única que poderá balizar a tomada de decisão aos investimentos dos agricultores.

O Sistema de recomendação é um avanço frente as tabelas de recomendação amplamente utilizadas mas outras opções certamente virão com o tempo e assim como uma escada novos degraus serão construídos sendo os antigos conceitos a base para o desenvolvimento de novas idéias. O profissionalismo da agricultura pode ser traduzido como estratégia empresarial de um negócio rentável economicamente mas diferente dos outros negócios por ser este dependente de um fator não mensurável e impossível de ser contabilizado que é o clima. Por isto que o estudo prévio de todas as condições que cercam a implantação e condução de uma lavoura deve ser exaurido de modo a minimizar as conseqüências das constantes intempéries relacionadas ao clima.
 

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