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Plantio do arroz

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Arroz de sequeiro

A capacidade do solo em manter a produtividade das culturas no sistema de rotação é maior do que em monoculturas, principalmente quando se trata de sistemas de produção de arroz de sequeiro. Ao conduzir sistemas de produção em rotação e adotar manejos adequados de preparo do solo, promove-se a sustentabilidade desses solos. No caso específico do arroz de terras altas tem sido observado que a produtividade em solos de cerrado mantém-se ou decresce ligeiramente no segundo ano de monocultura e cai a níveis muito baixos em anos subseqüentes, entretanto quando rotacionado, pelo menos, a cada dois anos com soja, obtém-se aumentos significativos de sua produtividade. O bom preparo do solo com arado de aiveca ou escarificador, aplicados a, aproximadamente, 35 40 cm de profundidade, em solos mais argilosos, determina produtividades significativamente maiores que as observadas em solo preparado com grade aradora.

Por outro lado, a cultura do arroz de sequeiro, quando conduzida em solo sem impedimento ao crescimento radicular e recuperado quimicamente, não responde à aplicação de fertilizantes e ao preparo profundo. Além disto, o preparo excessivo do solo favorece a erosão e a perda de matéria orgânica e de outros componentes. Deve-se considerar que o preparo do solo bem conduzido melhora a estrutura física, a porosidade e a rugosidade superficial do solo. Todas estas características facilitam a penetração da água no solo e reduzem a possibilidade de ocorrer erosão.

O Sistema Plantio Direto (SPD), entre os sistemas de preparo do solo, tem tornado uma alternativa interessante, por proporcionar as vantagens descritas anteriormente e por facilitar a condução dos sistemas de produção. Por outro lado o sistema, no entanto, tem demonstrado ser de maior risco quando conduzido em solos que apresentam limitações ao crescimento radicular, o que agrava o efeito dos veranicos sobre as plantas. Em área em que o plantio direto foi iniciado recentemente, ou rico em palhada com alta relação C/N, têm sido recomendadas aplicações de doses mais elevadas de nitrogênio na semeadura para compensar a menor disponibilidade inicial deste nutriente no solo. Tem-se observado que o efeito do N aplicado no SPD de arroz cultivado após soja é baixo, se comparado a outros sistemas de produção. Além do mais, não tem sido observado efeito do manejo da adubação nitrogenada (N aplicado totalmente na semeadura ou parcelado na semeadura e em cobertura), sobre a produtividade.

O arroz apresenta um sistema radicular muito sensível à compactação do solo, ocasionada pelo tráfego excessivo de máquinas em sua superfície. Nestas condições, o sistema radicular é menos desenvolvido. Entretanto, quando as condições físicas do solo são favoráveis, o sistema radicular atinge maiores profundidades. Um sistema radicular pouco desenvolvido não acarreta grandes problemas à planta quando há boa disponibilidade hídrica no solo, porém, pode agravar o efeito dos veranicos, pela menor capacidade da planta para absorver água. Semeadoras equipadas com dispositivos para romper o solo a maiores profundidades, têm apresentado resultados positivos na indução do aprofundamento do sistema radicular do arroz de terras altas, comparativamente ao sistema radicular proporcionado com semeadoras convencionais.

Sistemas de produção de arroz conduzidos em áreas de pastagens tem-se mostrado muito eficientes. Entretanto, para algumas situações, tem surgido a necessidade de procedimentos alternativos para tornar a técnica de uso mais abrangente. Neste sentido desenvolveram-se sistemas com semeadura do capim após a emergência do arroz ou imediatamente após sua colheita, ou mesmo sistemas alternativos de preparo do solo. A semeadura retardada do capim diminui a competitividade entre as culturas consorciadas e permite que as cultivares de arroz expressem seu potencial produtivo. Além do mais, diminui o risco do sistema produtivo do arroz, torna-o de uso mais abrangente, pois adota a maquinaria agrícola geralmente disponível na propriedade rural.

Nas condições de solo em que existam camadas com limitação ao crescimento radicular, como na camada superficial das áreas de pastagens, o preparo do solo com arado é indispensável, principalmente nas regiões onde ocorre distribuição irregular das chuvas. O arado quebra estas compactações e melhora o ambiente para o crescimento radicular e a capacidade da planta em absorver água das camadas mais profundas do solo e conviver com os períodos de veranicos.

Arroz irrigado

Os sistemas de cultivo utilizados na cultura do arroz irrigado diferenciam-se, basicamente, quanto a forma de preparo do solo, aos métodos de semeadura e ao manejo inicial da água e são denominados:

a) Sistema convencional

b) Cultivo mínimo

c) Plantio direto

d) Pré germinado

e) Mix

f) Transplante de mudas

Sistema convencional

O preparo do solo, no sistema convencional, envolve o preparo primário, que consiste em operações mais profundas, normalmente realizadas com arado, que visam principalmente o rompimento de camadas compactadas e a eliminação e/ou enterrio da cobertura vegetal. No preparo secundário, as operações são mais superficiais, utilizandose grades ou plainas para nivelar, destorroar, destruir crostas superficiais, incorporar agroquímicos e eliminar plantas daninhas no início do seu desenvolvimento, criando assim um ambiente favorável à germinação, emergência e desenvolvimento da cultura implantada. Convém ressaltar que todas essas atividades concorrem para a deformação da estrutura do solo. No sistema convencional a semeadura é realizada a lanço ou em linha.

Um aspecto importante que deve ser considerado no preparo do solo é o ponto de umidade ideal, que pode ser determinado na prática pela condição em que o trator opera com o mínimo esforço, proporcionando melhores resultados à atividade que está sendo realizada. Quando o preparo é realizado com umidade elevada, o solo sofre danos físicos na estrutura (compactação no lugar onde trafegam as rodas do trator) e tende a aderir (principalmente em solos argilosos) com maior força nos implementos agrícolas, até mesmo inviabilizando a operação desejada. Por outro lado, quando o preparo é efetuado com o solo muito seco, há a formação de torrões difíceis de serem quebrados, exigindo maior número de passadas do implemento e, conseqüentemente, maior consumo de combustível e de tempo.

Cultivo mínimo

O cultivo mínimo é o sistema no qual se utiliza menor mobilização do solo, quando comparado ao sistema convencional. No caso da cultura do arroz irrigado, os trabalhos de preparo do solo tanto podem ser realizados no verão como no final do inverno e início da primavera, sendo, neste último caso, com uma antecedência mínima que permita a formação de uma cobertura vegetal. Por ocasião do preparo do solo é conveniente que se faça também o entaipamento, com taipas de base larga e de perfil baixo. Esse tipo de taipa, desde que bem construída, pode ser transposta por máquinas e tratores sem maiores danos à sua estrutura. Dessa forma, a semeadura do arroz pode ser realizada sobre a taipa previamente construída, uma vez que existem máquinas com dispositivos que permitem tal procedimento.

A semeadura é realizada diretamente sobre a cobertura vegetal previamente dessecada com herbicida, sem o revolvimento do solo. Desta forma, a incidência de plantas daninhas, principalmente arroz vermelho, é bastante reduzida.

Plantio direto

Segundo o vocabulário da ciência do solo, o plantio direto é definido como sendo o “sistema de semeadura, no qual a semente é colocada diretamente no solo não revolvido”. Abre-se um pequeno sulco (ou cova) de profundidade e largura suficientes para garantir uma boa cobertura e contato da semente com o solo, de forma que não mais de 25 a 30% da superfície do solo sejam movimentados. O controle de plantas daninhas antes e depois do plantio direto é geralmente feito com herbicidas.

O desenvolvimento inicial do plantio direto fundamenta-se em três princípios básicos:

a) A mínima movimentação do solo;

b) A permanente cobertura do solo;

c)  A prática de rotação de culturas.

Esses fundamentos viabilizam o objetivo principal do plantio direto, que é a conservação do solo. Entretanto, o plantio direto de arroz irrigado na várzea está mais relacionado ao controle do arroz vermelho e à redução dos custos de produção, do que à conservação do solo.

Neste sistema também se deve realizar o entaipamento, com taipas de base larga e de perfil baixo na adequação da área para o plantio direto do arroz irrigado, que compreende as operações de sistematização da superfície do solo ou aplainamento, calagem quando for necessário, e construção da infra-estrutura de irrigação e de drenagem e estradas.

Sistema pré germinado

Este sistema caracteriza-se pelo uso de sementes pré-germinadas em solo previamente inundado. No preparo do solo, há necessidade da formação de lama e o nivelamento e alisamento são realizados, normalmente, com o solo inundado.

A primeira fase do preparo do solo visa trabalhar a camada superficial para a formação de lama, podendo ser realizada em solo seco com posterior inundação ou em solo já inundado. As principais técnicas utilizadas nessa fase envolvem:

a) aração em solo úmido, seguida de destorroamento sob inundação com enxada rotativa;

b) aração seguida de destorroamento com grade de disco ou enxada rotativa em solo seco, sendo a lama formada após a inundação, utilizando-se de enxada rotativa;

c) uso de enxada rotativa sem aração, preferencialmente em solo inundado, repetindo-se a operação, de modo a permitir a formação de lama sem deixar restos de plantas daninhas. Uma alternativa para a formação da lama é a utilização da roda de ferro tipo “gaiola”, que oferece maior sustentação e deixa menos rastro das rodas do trator.

A segunda fase compreende o renivelamento e o alisamento do terreno, após a formação da lama, utilizando-se de pranchões de madeira, com o intuito de tornar a superfície lisa e nivelada, própria para receber a semente pré germinada.

As operações descritas foram desenvolvidas, principalmente, para pequenas áreas, características das propriedades de Santa Catarina. Na zona sul do Rio Grande do Sul, em função das áreas serem mais extensas, vem se buscando um sistema próprio de preparo do solo, que compreende basicamente as seguintes operações:

a) uma ou duas arações em solo seco;

b) uma ou duas gradagens para destorroar o solo, tendo-se o cuidado de não pulverizá-lo para que pequenos torrões impeçam o arraste de sementes pelo vento;

c) aplainamento e entaipamento do terreno;

d) inundação da área com uma lâmina de no máximo 10 cm, mantendo-a por, no mínimo, 15 dias antes da semeadura, para controlar o arroz vermelho;

e) alisamento com pranchões de madeira;

f) semeadura das sementes pré-germinadas.

Sistema mix

Este sistema é uma variante do sistema pré-germinado. Através de operações mecânicas de preparo antecipado do solo estimula-se a germinação das sementes de plantas daninhas. Cerca de 15-20 dias antes da semeadura deve ser feita a dessecação da cobertura vegetal e a inundação do solo. Um dos pontos importantes a ser observado neste sistema é o desenvolvimento da cobertura vegetal. Ela deve ser a mínima possível, pois o excesso não permite que as sementes pré-germinadas atinjam o solo e a decomposição de muita matéria orgânica dentro da água gera a produção de ácidos orgânicos, que interferem negativamente no desenvolvimento das sementes.

Sistema de transplante de mudas

O método de cultivo por transplante de mudas objetiva, principalmente, a obtenção de sementes de alta qualidade. Para se conseguir alta pureza varietal, o “roguing” é prática fundamental, sendo facilitado, neste sistema, pelo fato de o transplante ser realizado em linhas. O sistema compreende as fases de produção de mudas e de transplante.

Produção de mudas

As mudas são produzidas em caixas, com fundo perfurado, com dimensões de 60 cm de comprimento x 30 cm de largura x 5 cm de altura (as medidas de largura e de comprimento das caixas, poderão variar de acordo com o tipo de transplantadora). O solo a ser utilizado deve apresentar, preferencialmente, textura franco arenosa, baixo teor de matéria orgânica e ser livre de sementes nocivas. Após passar por peneiras com abertura de malha de 5 mm, o solo é colocado nas caixas numa espessura de 2,5 cm. São semeadas em torno de 300 gramas de sementes prégerminadas por caixa e cobertas com uma camada de solo com 1 cm de espessura. Após a semeadura, as caixas são irrigadas abundantemente, empilhadas e cobertas com lona plástica por 2 a 4 dias, até a emergência das plântulas. A duração desta fase varia em função da temperatura.

Quando as plântulas iniciam a emergência, as caixas são espalhadas em um viveiro protegido contra o ataque de pássaros e ratos e irrigadas diariamente, até a fase de duas folhas (12 a 18 dias). No caso de ocorrência de doenças nas plântulas, estas devem ser controladas com a aplicação de fungicidas específicos. 

Transplante

O transplante é feito quando as mudas alcançam de 10 a 12 cm de altura (12 a 18 dias após a semeadura). No momento do transplante, as caixas devem estar com umidade adequada, para facilitar o desempenho da transplantadora. Esta operação deve ser realizada com a área previamente drenada.

As transplantadoras normalmente utilizadas são de fabricação japonesa. O sistema de regulagem permite o plantio de 3 a 10 mudas por cova, espaçamentos entre 14 e 22 cm entre covas e 30 cm entre linhas. O rendimento médio de uma transplantadora com 6 linhas é em torno de 3.000 m2 por hora, sendo necessárias 110 a 130 caixas de mudas por hectare (30 a 40 kg ha-1 de semente). A inundação permanente deve ser evitada por uns 2 a 3 dias até o pegamento das mudas. O preparo do solo, manejo d’água, controle de plantas daninhas, de pragas e de doenças é idêntico ao recomendado para o sistema pré germinado.

 

José Luis da Silva Nunes

Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia
 

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