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Big data no campo vira opção para reduzir custos

Tendência foi observada durante a 23ª Agrishow, encerrada nesta sexta-feira


Enquanto o setor de máquinas agrícolas enfrenta um momento de queda nas vendas, equipamentos que visam oferecer ao produtor um grande volume de informações (big data) estiveram em evidência durante a última edição da Agrishow, encerrada nesta sexta-feira em Ribeirão Preto (SP). As empresas do setor apostam que, em vez de frear investimentos, a crise é um incentivo para que o agricultor aposte em ferramentas menores, que possam reduzir as perdas na lavoura. Embora exijam muitas vezes um investimento considerável, essas tecnologias demonstram preocupação com a redução de custos.

Os drones voltados à produção agrícola não chegam a ser uma novidade na Agrishow – as duas últimas edições da feira contaram com lançamentos neste segmento. Mas um dos modelos mais recentes atraiu olhares curiosos durante a última edição do evento pelo seu formato, que lembra um morcego. O Batmap, desenvolvido pela startup Droneng, de Presidente Prudente (SP), custa R$ 61 mil e chegou ao mercado em fevereiro deste ano, em pleno ápice da crise econômica. No entanto, isso não é visto como um fato negativo pelos seus criadores.

“O drone chega num momento em que é essencial a redução de custos”, afirma o engenheiro cartógrafo Manoel Silva Neto, 27 anos, um dos quatro sócios da Droneng. A empresa visa levar ao produtor uma ferramenta que o ajude a identificar falhas na lavoura, e desta forma, reduzir as perdas. Em um voo, é possível mapear uma área de mil hectares, o que levaria cerca de quatro meses com trabalhadores no chão. A ferramenta, que pode sobrevoar a até 2,5 mil metros, possui uma câmera de 24 megapixels e tem autonomia de voo de 90 minutos. Além de captar imagens, o drone possui sensores de infravermelho que identificam informações não visíveis a olho nu, como o estado nutricional da planta. O formato de morcego não é apenas uma questão estética, já que ajuda a garantir estabilidade de voo, uma vez que o drone pesa apenas 2,5 kg. “Assim como temos hoje um cenário de cidades inteligentes, vamos começar a ter de fazendas inteligentes”, aposta Silva Neto.

O conceito de conectividade no campo passa também pelas máquinas que atuam dentro da plantação. A californiana Trimble apresentou durante a Agrishow a sua linha de monitores para máquinas agrícolas, que podem ser instalados em equipamentos de qualquer marca. “É basicamente um raio-x de tudo o que acontece na lavoura”, explica Flávia Lledó, especialista de vendas e marketing da multinacional.

Além de identificar áreas que já foram semeadas ou pulverizadas, de modo a evitar o desperdício de insumos, o monitor realiza manobra automática de cabeceiras. A tecnologia possibilita a conexão por 3G e Wi-Fi. Embora a Internet ainda seja precária na zona rural, Flávia acredita essa barreira tende a ser vencida num curto espaço de tempo. O monitor integra um sistema chamado de connected farm (fazenda conectada), com o qual o produtor pode controlar informações como delimitações de seus campos, dados de tarefas e mapas de vigor das culturas. “Hoje nós vemos muito as máquinas voltando para trazer o pen drive com as informações a serem analisadas”, explica Flávia. Com a automatização do processo, o agricultor poderá ter uma visão clara de todo o processo - e sem precisar do pen drive.

O vice-presidente da Abimaq, João Carlos Marchesan, afirma que, se por um lado o produtor não pode controlar uma série de fatores da porteira para fora (clima, preços das commodities, políticas governamentais, etc), por outro, é necessário ter um controle cada vez maior do que ocorre da porteira para dentro. “E para isso o agricultor precisa continuar investindo e buscando novas tecnologias”, observa. Na opinião dele, a utilização de um grande volume de dados (big data) por meio da agricultura de precisão, como o sistema de telemetria, por exemplo, representa o futuro da produção rural.

Para o professor Renato Levien, da Faculdade de Agronomia da Ufrgs, as novidades apresentadas na feira podem até não ter “reiventado a roda”, mas aperfeiçoaram pequenos processos que deverão gerar ganhos expressivos. “Essa é a filosofia que a gente viu na feira: melhor gestão da máquina, dos processos e da propriedade”, disse o especialista, que coordena a comissão julgadora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra, entregue durante a Agrishow. Além da eficiência, o conceito de lavoura inteligente pode contribuir para trazer mais segurança a quem trabalha no campo. Segundo Levien, a própria legislação tem levado a uma automatização crescente dos processos produtivos. “Antigamente as pessoas ficavam em cima da máquina de semeadura observando a lavoura pelos sentidos: o cheiro, a audição e a visão”, recorda. 

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