CI

Plantio avançou menos de 1% da 3ª para 4ª semana em MT. Faltam chuvas

MT teme por nova crise


Atraso no plantio da safra aniquilou janela ideal e perdas na produtividade inevitáveis

Mato Grosso, maior produtor de grãos e fibras do país, perdeu o melhor momento para o cultivo da soja. A chamada janela ideal, período que permite as melhores condições climáticas para garantia de boa produtividade, está se fechando nesse início de semana e menos de 10% da área prevista pôde ser semeada por falta de chuvas. Os impactos do atraso do plantio começam a ser contabilizados pelo segmento e só aumentam a preocupação de uma safra que mesmo antes de ser iniciada já havia cravado o menor valor internacional à saca dos últimos anos. Somente a perda física, ou seja, de produtividade, pode tirar de circulação mais de R$ 2,5 bilhões da economia local, valor que pode ser ampliando por quebras decorrentes de pragas, doenças, outros veranicos, chuvas intensas e ainda pela perda de potencial produtivo das safrinhas de milho e algodão.

A estimativa de perda, feita pelo produtor de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá) e ex-presidente do Sindicato Rural local, Antônio Galvan, considera uma perda média de cinco sacas por hectares, volume que deixará de ser comercializado.

Como explica, somente esse atraso no plantio deve impor uma perda de produtividade de quatro a seis sacas por hectare, já que a maior parte da nova safra será cultivada na última semana do mês, quando há previsões de chuvas. A janela ideal foi de 1º a 20 de outubro.

Além da perda agronômica direta em função do fechamento da janela ideal, que vai impactar na produtividade e na produção final, o atraso no plantio reduz o tempo hábil para o cultivo da safrinha, em especial, a do milho, cuja janela se encerra a partir de 20 de fevereiro, justamente quando deve ser colhida a soja que for semeada dessa semana em diante.

Não fossem a estiagem e as altas temperaturas, Mato Grosso já deveria ter plantado mais de 30% da área prevista à sojicultura 2014/15, com alguns municípios próximos de uma cobertura de 50%. Sem chuvas o plantio parou em praticamente todo o Estado na semana passada e registrou um avanço no ritmo dos trabalhos de menos de 1% entre a terceira e quarta semana de plantio. A janela ideal está fechando nesse início de semana e as previsões de chuvas em volume e maior abrangência dentro do Estado ficaram para a partir do dia 25, quando a nova safra entra na sua sexta semana de trabalhos.

Conforme novo acompanhamento do plantio divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o plantio atingiu 9,3% da área estimada de 8,8 milhões de hectares, atraso de 18,06 pontos percentuais (p.p.) em relação a igual momento do ano passado quando o ritmo era de 27,39% de cobertura da área.

O que aumenta a preocupação em relação aos impactos das perdas físicas é que a região médio norte, que concentra 35% da oferta estadual, é a mais atrasada. Dos 3,03 milhões de hectares destinados à soja, apenas 10,27% estão cobertos ante quase 38% há um ano. Mesmo diante da perda da janela, o Imea ainda acha prematuro fazer uma revisão das projeções. O médio norte deve colher 9,57 milhões de toneladas das mais de 27 milhões projetadas para esta safra. A perspectiva de recorde de produção e de área plantada permanece.

AGRAVANTES - Como destaca Galvan, essa perda de produtividade leva em conta apenas o impacto direto da perda da janela. “Temos muito chão pela frente. Temos um cenário de pragas e doenças, podemos sofrer com chuvas incessantes na colheita, como foram os dois últimos anos a partir de meados de janeiro e se houver mais um atraso {na colheita}, a safrinha com milho estará completamente comprometida”. Ele mesmo que costuma plantar a partir do dia 15 de outubro está parado à espera de chuvas. “E o que vemos são as previsões empurrarem cada vez mais as chuvas para perto do final do mês. Plantar a gente vai plantar, mas o que vai render no final é mais que nunca uma incógnita”, exclama.

Para ele é certa uma perda de até 50% na produção final do milho segunda safra justamente pela falta de janela. “Depois de 20 de fevereiro o risco climático ao milho passa a ser muito grande e quem plantar para além da data não vai saber o que vai colher”. Como destaca, “vamos {os produtores} perder duas vezes, com baixa produtividade na soja e no milho e todo esse dinheiro que vai deixar de entrar no nosso bolso será o mesmo que deixará de circular na economia das nossas cidades e do Estado. E vou além, como a seca atinge os maiores estados produtores de soja do país, estamos iniciando uma crise econômico-financeira de grandes proporções e que vai impactar nos novos governos”.

Há dez anos, o segmento agrícola mato-grossense viveu o início de uma crise financeira que ainda hoje é paga pelos produtores. O cenário atual é idêntico ao da safra 2004/05: custo alto, preços baixos e na época perdas físicas com a ferrugem asiática.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.