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Protestos bloqueiam tráfego de caminhões e afetam mercado de soja

Apenas veículos de passeio, ambulâncias e caminhões com cargas vivas podem passar livremente


Protestos de caminhoneiros bloqueavam o fluxo de caminhões em diversos pontos de rodovias do país nesta quinta-feira, após uma reunião entre representantes da categoria e o governo federal terminar sem acordo sobre um pedido de tabelamento do frete, na quarta-feira.

O número total de interdições era de 14 no fim da manhã, segundo relatório da Polícia Rodoviária Federal, impactando o transporte e o mercado de produtos agropecuários, especialmente a soja.

Na BR-163, em Mato Grosso, importante rota de escoamento de grãos da principal região produtora do país, havia cinco bloqueios no fim da manhã de quinta.

"Em Lucas do Rio Verde (MT)... é registrado o maior ponto de lentidão, com aproximadamente um quilômetro de fila", disse a concessionária Rota do Oeste, que administra o trecho mato-grossense da BR 163.

Apenas veículos de passeio, ambulâncias e caminhões com cargas vivas podem passar livremente.

No Rio Grande do Sul, havia seis pontos de bloqueio e no Paraná outros três pontos, em diferentes rodovias.

Houve registro de apedrejamento de caminhões que tentaram furar os bloqueios, informou a Polícia Rodoviária Federal no Rio Grande do Sul.

O setor de soja, principal produto do agronegócio nacional, manifestou-se contrário aos protestos.

"Este é o momento de pico de comercialização e precisa haver fluxo. As compradoras também precisam saber o valor do frete para compor os preços", disse em nota Ricardo Tomczyk, presidente da Aprosoja.

No médio prazo, se o protesto se prolongar, acrescentou Tomczyk, podem existir problemas de armazenagem, pois a soja precisa ser escoada para dar espaço ao milho que será colhido.

O mercado de farelo de soja na Europa, principal comprador do produto do Brasil, tinha suporte nesta quinta-feira por preocupações com o novo protesto dos caminhoneiros no Brasil.

Manifestações em fevereiro e início de março paralisaram dezenas de rodovias, afetando exportações brasileiras e a movimentação de cargas no país, com reflexos negativos para a economia.

Aqueles protestos geraram prejuízo de cerca de 700 milhões de reais para a indústria de carnes de aves e suínos, com os bloqueios de rodovias paralisando abates e afetando o transporte de insumos e produtos.

No auge dos protestos de fevereiro, chegaram a ser registrados mais de 100 pontos diferentes de bloqueios, em cerca de uma dezena de Estados.

Na avaliação do diretor da consultoria AGR Brasil, Pedro Dejneka, o protesto das dimensões atuais tem pouco potencial para atrapalhar o transporte de produtos agrícolas do país, após uma colheita recorde de soja nos últimos meses.

"O pessoal está fazendo tempestade em copo d´água", disse o analista.

Mas, segundo ele, importadores chineses estão bastante atentos aos desdobramentos das paralisações.

"Chineses vêm ativos já há algumas semanas tentando adiar carregamentos de soja de abril para maio e junho. Eles têm muita soja chegando por lá e querem atrasar um pouco os carregamentos", afirmou.

Os possíveis atrasos nos embarques de cargas de soja repercutirão mal no exterior, segundo produtores da oleaginosa. "Em algum momento essa conta virá para o produtor, pois o comprador aumentará a margem de risco", acrescentou o presidente da Aprosoja.

As indústrias que contratam frete, especialmente aquelas que trabalham com produtos agrícolas, são contrárias a um tabelamento reivindicado pelos caminhoneiros e sugeriram a criação de uma bolsa de fretes para dar transparência ao setor.

As empresas que precisam transportar cargas defendem que o tabelamento de fretes, além de ser inconstitucional, contraria a livre concorrência e a livre iniciativa, e poderia elevar a inflação.

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