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Calote da Argentina deve ter reflexos no agronegócio brasileiro

Opinião do analista de mercado Carlos Cogo



“O novo calote soberano da Argentina, consolidado após o país não chegar a um acordo com os credores que não participaram da reestruturação da dívida (os chamados “holdouts”), deve ter um forte impacto na corrente comercial do país com o Brasil”. A afirmação é do analista de mercado Carlos Cogo. 


“Além de aprofundar a crise na economia argentina, que prejudicará ainda mais a já debilitada demanda, a possibilidade de o país adotar novas medidas para tentar conter a saída de dólares não está descartada. A situação das trocas comerciais com a Argentina, que já era ruim, deve piorar. Com o default, nenhum banco vai oferecer cartas de crédito para o país, o que fará com que grande parte das importações seja paga praticamente à vista. Os exportadores brasileiros vão ter muito mais cautela nas negociações e podem mesmo deixar de exportar para a Argentina devido ao risco comercial”, analisa ele. 

No agronegócio, o calote pode dificultar ou frear as importações de trigo, arroz, feijão e lácteos da Argentina. “Nestes casos, poderia provocar uma pressão de alta sobre os preços no Brasil, caso a Argentina não consiga viabilizar exportações a partir de agora. Por outro lado, com o calote, a Argentina terá que buscar dólares das exportações e facilitar as mesmas ao máximo”, acrescenta. 

Para Cogo, “os mercados internacionais de dívida se fecharam definitivamente para o país, que agora tem como única fonte de divisas externas o comércio internacional. Pode afetar negativamente as exportações de máquinas e implementos agrícolas para aquele país, um dos principais destinos das vendas externas brasileiras destes segmentos”. 


O diretor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica lembra que o Brasil também é “grande exportador de alimentos processados para a Argentina (principalmente enlatados, conservas, etc.), segmento que também pode ser afetado. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina, que é nosso terceiro maior parceiro comercial, somaram US$ 7,42 bilhões, uma queda de 19,8% em relação ao mesmo período do ano passado”. 

“Agora, com o calote, esse ritmo de retração deve se aprofundar, fazendo com que o resultado no acumulado do ano fique bem distante dos US$ 19,61 bilhões vendidos aos nossos vizinhos em 2013. Com o calote, a atividade econômica na Argentina, que já está bastante fraca, deve se deteriorar ainda mais, com a desvalorização do peso e o aumento na inflação”, conclui.

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