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Integrar lavoura e pecuária surge como alternativa para produção conservacionista

Assunto foi tema de painel realizado no 31º Congresso Nacional de Milho e Sorgo


Um sistema que integra produção agrícola e pecuária não é visto com bons olhos por muitos produtores rurais, mas é uma alternativa viável e lucrativa para produzir alimentos de forma sustentável. O assunto foi tema de painel realizado no 31º Congresso Nacional de Milho e Sorgo nesta quarta-feira (28), com mediação da pesquisadora da Fepagro Carolina Bremm.

O professor Ibanor Anghinoni, da UFRGS, falou sobre como a fertilidade do solo é construída no sistema de integração lavoura e pecuária. Ele ressaltou que a inserção do animal no sistema cria novas rotas de nutrientes no solo. “O animal em pastejo é um reciclador, ele muda o comportamento do sistema. Temos 15 anos de resultados de integração de produção de soja com bovinos de corte, e a ciclagem de nutrientes nesse sistema é grande”, apontou.

O professor Paulo Cesar de Faccio Carvalho, também da UFRGS, apresentou argumentos para a adoção de sistemas integrados de produção agropecuária para reconciliar a produção de alimentos com a conservação do ambiente. Carvalho destacou que o uso exclusivo de insumos agrícolas para o aumento de produtividade está com os dias contados, pois, em nível global, a produção já estaria atingindo o teto. “Será muito difícil aumentar a produtividade de monocultivos ou poucos cultivos apenas com o uso de insumos. O desafio, agora, é regular o processo ecológico, e a reciclagem de nutrientes é central em tudo. No futuro, seremos manejadores de ciclos de nutrientes no sistema, e não abridores de sacos de adubo".

Em termos de conservação ambiental, uma medição confiável é o nível de estoques de carbono que uma cultura ou sistema pode garantir. De acordo com o professor, a pastagem utilizada num sistema integrado de lavoura-pecuária é reconhecida como um componente que contribui de forma muito positiva a nesses estoques. “É o único que emparelha com as florestas nesse sentido”, informou.

Concluindo o painel, o professor Aníbal de Moraes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apresentou algumas ideias de como elaborar um planejamento espaço-temporal em sistemas integrados de produção agropecuária. Segundo o professor, no planejamento de um sistema integrado não se deve privilegiar uma determinada cultura num ano de preços mais favoráveis, mas trabalhar com a diversificação mantendo as rotações e visando a sustentabilidade do sistema como um todo. “Com a diversificação, não importa o preço da soja, do milho, porque sempre vai ter um bom ou ruim e, na média, teremos uma arrecadação equilibrada. A atividade agrícola tem um risco muito elevado, que a pecuária diminui”.

Para Aníbal, a dica para planejar o sistema é fazer um levantamento e determinar um parâmetro de resposta animal à alimentação ao longo do ano, para quantificar a oferta de pasto no inverno e no verão necessária para suprir a carga animal. “A ineficiência da nossa agricultura não é o inverno, mas o que se deixa de ganhar no verão, com as áreas paradas, ociosas, sem uso durante o inverno”, lembrou.

Ganhos de 49% - Em um estudo de caso, os professores Aníbal e Paulo apresentaram resultados de um produtor que resolveu diversificar sua atividade. Com uma área de 500 hectares, 400 deles dedicados integralmente à agricultura, este produtor resolveu adotar o sistema integrado de lavoura e pecuária, com a inserção de 1.200 cabeças de gado. O resultado é que, enquanto no sistema puramente agrícola o produtor conseguia 17% de margem de lucro com sua atividade, hoje sua propriedade consegue gerar 49% de margem de lucro com o sistema integrado. “E isso apenas mudando o sistema, não precisando de nova variedade, adubo, nada. Apenas inserindo a pecuária. O gado é menos suscetível às variações climáticas. Num ano de safra ruim, é ele que vai te segurar”, completou Paulo.

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