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Universidade foca em projetos de desenvolvimento sustentável



Com projeto pedagógico diferenciado, UFPR Litoral quer transformar a região fomentando projetos de desenvolvimento sustentável

Desde sua chegada a Matinhos, em 2005, a UFPR Litoral deixou claro que não estava lá para ser uma instituição formadora de alunos convencionais, nem atenderia aos apelos pelo lançamento de cursos superconcorridos, como Direito e engenharias. Nascida com um projeto pedagógico focado no desenvolvimento sustentável da região e no fortalecimento da identidade local, a unidade tem hoje o funcionamento mais distinto de todos os setores da instituição. Prestes a completar uma década, dirigentes e alunos orgulham-se de lutar por mudanças contundentes nos municípios litorâneos.

À frente da instituição desde sua implantação, o diretor Valdo Cavallet gosta de se referir ao Setor Litoral como um projeto. “Este não pode ser só mais um local onde a universidade funciona. A UFPR Litoral é um projeto de 30 anos que chegou para mexer e mudar a história do Litoral paranaense, visto até hoje de forma predominantemente negativa”, diz. Para Cavallet, a ideia de que não há nada para se fazer no Litoral fora da temporada acabou assimilada pela população local, que por anos viveu apenas dos ciclos do turismo e do Porto de Paranaguá.

“Política pública, em geral, só funciona aqui do Natal ao carnaval. Nesse período, desce saúde, desce segurança, descem canais de tevê etc. Mas, depois do carnaval, toda essa estrutura é retirada, e sabemos que ficaremos sozinhos por dez meses”, lamenta o diretor. Ele aponta como tarefa da universidade ajudar os habitantes a trabalharem nas potencialidades de sua região, mesmo nesse tempo de “abandono”, mas sem sacrificar suas riquezas peculiares, como o trecho de Mata Atlântica mais bem preservado do país.

Cursos

Para atender a esse objetivo, a universidade optou por investir em cursos considerados incomuns na capital, como as graduações em Saúde Coletiva, Gestão Desportiva e do Lazer e Agroecologia. Esta última, aliás, foi uma das principais inspirações para a criação da cooperativa Motirõ Sociedade Cooperativa, fundada por egressos da universidade. Uma das atividades da cooperativa é o acompanhamento de pequenos agricultores comprometidos com técnicas sustentáveis de produção, mediando a comercialização dos produtos e garantindo maior renda para a agricultura familiar local.

Cavallet admite que a comunidade reclama da falta de cursos considerados mais prestigiosos, mas cita a prioridade ao desenvolvimento local como justificativa para não ceder. “Se abrirmos um curso de engenharia, quantos engenheiros terão vaga aqui Litoral na atual conjuntura? Talvez meia dúzia. Se você forma uma turma você já esgota o mercado, e os demais deixarão a região para trabalhar Brasil afora.”
 






















Construindo um novo modo de vida

Encantado pelo projeto pedagógico da UFPR Litoral, o estudante Tiago Tischer Coelho, 31 anos, escolheu trancar a matrícula no tecnólogo de Gestão Pública da USP para se matricular no curso de Agroecologia da instituição paranaense. “Em São Paulo eu só pensava em desconstruir e atacar o sistema, mas aqui eu tenho a possibilidade real de construir um novo modo de vida junto da comunidade litorânea”, diz Coelho, que trocou a metrópole paulista por Matinhos há um ano. Seu projeto de vida para os próximos anos é auxiliar os agricultores locais a migrarem da plantação convencional para a produção agroecológica, que prevê o cultivo de diferentes espécies vegetais no mesmo solo, seguindo ciclos mais próximos dos que ocorrem na mata nativa. É o avesso das extensas plantações homogêneas de soja e trigo, por exemplo.
 

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