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Agroecologia é apresentada com suas perspectivas sustentáveis

Os princípios e dimensões da agroecologia e da transição agroecológica foram apresentados de seminário


Os princípios e dimensões da agroecologia e da transição agroecológica foram apresentados pelo pesquisador Luiz Octávio Ramos Filho, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), no II Seminário de Agricultura Orgânica Território Noroeste Paulista, em Jales, SP, em 7 de outubro.

"Nos deparamos com um grande desafio: otimizar a ocupação do solo, conciliando a produção de alimentos com a diminuição da pressão sobre os recursos naturais solo, água e  biodiversidade, conservando-os para as gerações futuras", disse o pesquisador.

Ele abordou inicialmente o termo sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, ressaltando seu caráter: polissêmico, impreciso e relativo, e defendeu a necessidade de trabalharmos com indicadores vinculados à ideia de equidade, principalmente no tocante à estrutura fundiária e o acesso à propriedade da terra.

Também falou sobre o conceito de etnoecossistema, como um nível de análise superior aos agroecossistemas que incorpora elementos de caráter social, econômico, cultural e político. Para ele, a sustentabilidade é entendida como a articulação de uma série de elementos que permitem a perdurabilidade, no tempo, de mecanismos socioeconômicos e ecológicos de reprodução de um etnoecossistema.

Neste sentido, a Agroecologia é considerada uma perspectiva multidimensional de sustentabilidade (ecológica, social, econômica, cultural e política), que a partir de um enfoque sistêmico e holístico, elabora uma visão  críticas ao reducionismo científico. Para o pesquisador, a agroecologia é por definição um campo de conhecimento interdisciplinar – interação entre várias disciplinas, como agronomia,  ecologia,  ciências sociais, etc,  e também transdisciplinar, na medida que busca o  diálogo de saberes entre o conhecimento científico e os conhecimentos tradicionais/locais. Ressalta, portanto, que a agroecologia não nega nem dispensa o conhecimento técnico-científico, mas reconhece e respeita outras formas de conhecimento baseados em um contexto histórico e sociocultural local, buscando a construção endógena e participativa do conhecimento.

Explicou também que a transição agroecológica é um conceito em evolução, com ênfase na biodiversidade como fator de crescente estabilidade dos agroecosistemas, mas nos últimos anos crescendo também a percepção da importância das mudanças que precisam ocorrer "da porteira para fora", como a mudança de valores, hábitos de consumo, políticas públicas e marco normativo, envolvendo a articulação de diferentes atores sociais.

Sob este aspecto, Luiz Octávio destacou as dificuldades para a P&D e ATER voltadas à transição agroecológica, já que se trata de  biodiversos e complexos, muito intensivos em conhecimento interdisciplinar e na fronteira do conhecimento, exigindo metodologias inovadoras e maiores investimentos em P&D&I, sendo importante a continuidade dos trabalhos de pesquisa  projetos com prazos mais longos.

Outros pontos discutidos foram a limitação de recursos orçamentários para a reforma agrária agroecológica, a necessidade de maiores investimentos em assistência técnica com caráter emancipador, aumentando a quantidade de técnicos e investindo  na sua formação agroecológica, a necessidade de pesquisa participativa e diálogo horizontal de saberes, com reconhecimento e respeito à diversidade sócio-cultural; apropriação crítica de conhecimentos pelos agricultores, criação de um ambiente favorável ao resgate e emergência das memórias camponesas e a continuidade e avanço das políticas públicas.  Por fim, o pesquisador ressaltou que atualmente a agricultura familiar conta com reduzida disponibilidade de mão de obra  e uma tendência de "envelhecimento" da população do campo, o que reforça a necessidade da busca por tecnologias poupadoras de mão de obra e políticas dirigidas a criar atrativos para os jovens permanecerem no campo.

"A participação de agricultores familiares foi muito grande, motivados pela ampla rede de organizações regionais e particularmente pelo Bispo Emérito de Jales Dom Demetrio, defensor das causas da agricultura familiar e da agroecologia", conclui o pesquisador.

O seminário também abordou manejo na agricultura orgânica e mudanças de pensamento, sistema de produção agroflorestal de frutas na Fazenda da Toca, legislação para certificação de produtos orgânicos e experiências de organização e comercialização de produtos orgânicos.

A Feira apresentou produtos da agricultura familiar, como queijos, mel, doces, e houve troca de sementes, de sabores e saberes. O Seminário aconteceu na Escola Vocacional de Jales, com participação de vários parceiros: Faculdades de Tecnologia de São Paulo (Fatec), Cento Paula Souza, Escola Técnica Estadual (Etec), Núcleo de Extensão Rural em Desenvolvimento Territorial ((Nedec), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Aberta do Brasil- Polo Regional de Jales, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Embrapa, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Instituto Biossistêmico (IBS), Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Instituto Agronômico (IAC) e Consórcio Público de Desenvolvimento do Noroeste Paulista (Codenop).
 

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