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Algodão pede espaço dos fios sintéticos de volta

Campanha de marketing promete alívio às fiações, que enfrentam crise e custos elevados


A produção de algodão do Paraná já chegou a 50% do volume nacional, em 1991/92, mas caiu a praticamente zero por razões técnicas. O estado completa uma década de colheita insignificante — de 1% ou menos da safra nacional –, mas ainda mantém um parque industrial representativo. Em oito indústrias, emprega 2 mil pessoas e produz 60 mil toneladas de fios, que agora estão amargando as consequências da crise econômica. Uma campanha nacional de estímulo ao consumo do algodão – reduzido pelo uso de fios sintéticos – promete sobrevida ao setor.

A campanha foi lançada no 10.º Congresso Brasileiro do Algodão, realizado no início deste mês em Foz do Iguaçu, e busca envolvimento do setor, conta o diretor de Marketing Estratégico da Bayer CropScience para Algodão, Fernando Prudente.

Ele afirma que a redução no uso do algodão é um fenômeno mundial. “Desde década de 60, nossa participação no mercado de fibra caiu de 60% para 32% no mercado global. Países como os Estados Unidos conseguiram manter o algodão em 45% com campanhas que estimulam o uso do produto. No Brasil, o share é de apenas 20%, o que mostra que temos sim como ganhar espaço.”

As novas tecnologias e a queda no preço no petróleo, fatores que tornam os fios sintéticos mais baratos que os de algodão, serão combatidos com informação, afirma o executivo. A intenção é mostrar para grupos de jovens entre 12 e 25 anos e mulheres de todas as idades que o algodão tem vantagens como conforto e poder de absorção. Hoje, no mercado brasileiro, o produto sustenta espaço comparado ao que detém nos Estados Unidos somente entre homens acima de 40 anos ou em segmentos como o de roupas de cama e banho, aponta Prudente.

Sobrevivência

Na lavoura de algodão, dificilmente o Paraná voltará a ganhar importância, aponta o analista da Organização das Cooperativas do estado (Ocepar) Robson Mafioletti. Com chuva na colheita, o estado não consegue competir em qualidade com regiões que avançaram em novas tecnologias e fizeram a colheita nacional dobrar nas últimas duas décadas, com previsão de 1,5 milhão de toneladas em 2014/15 (pluma). Mas as indústrias têm suas vantagens. “Como não estão mais ligadas a um grupo de produtores, podem comprar só a matéria-prima com perfil adequado à demanda, não tem sobras como antigamente”, observa.

Para sobreviver, o setor está se adaptando às novas tendências, conta gerente comercial de Fibras da Cocamar, Nilton de Camargo. A indústria de fios da cooperativa começou a usar material sintético em 2002. “Das 750 mil toneladas de matéria-prima que usamos por mês atualmente, 550 mil são de algodão e cerca de 200 mil são de produtos sintético.” O fio de poliéster obtido com a reciclagem de garrafas pet chega a representar 20% da produção. O algodão vem principalmente de Mato Grosso e os fardos de plástico, de São Paulo.

Mesmo assim, um crescimento no consumo interno de algodão será bem vindo, mesmo que ocorra apenas no longo prazo, afirma o executivo. Ele relata que o aumento nos custos de produção, puxado por itens como a energia elétrica, colocam o setor em situação de aperto sem precedentes. “Com a alta do dólar, os fios nacionais ficam mais competitivos, mas a indústria que atende redes de confecção ainda se baseia na importação. Até que haja uma virada, com uso maior do fio nacional, arcaremos com os problemas de um dólar alto e não teremos os benefícios de uma indústria nacional mais competitiva”, explica. Em sua avaliação, serão necessários cerca de seis meses para essa virada.

Estoque
Um estoque de 12 milhões de toneladas de algodão mantido pela China torna os preços do produto oscilantes. O volume é 2,2 vezes maior que o estoque mundial de cinco anos atrás e representa 55% do estoque global atual. Freio na produção e estímulo ao consumo seriam as saídas.

Mercado
O algodão é especialidade asiática, com China e Índia respondendo por metade da produção de cerca de 25 milhões de toneladas ao ano. Com 1,5 milhão (6%), o Brasil é o quinto maior produtor, mas tem o mercado interno “infestado” pelos fios sintéticos.

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