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Biotecnologia pode contribuir para preservação da água

Hoje, variedades transgênicas conseguem alcançar grandes índices de produtividade durante a seca


Dia 22 de março diversas ações em diferentes pontos do mundo abordaram um tema que é sinônimo de vida: a água. Criado pela ONU (Organização das Nações Unidas), o Dia Mundial da Água é uma oportunidade para lançar luz sobre a importância de preservar esse recurso fundamental e de envolver a sociedade na reflexão sobre a escassez de água potável. Diminuir o uso, preservar e reaproveitar são medidas necessárias, da produção agrícola à indústria, do consumo doméstico à esfera pública.

Nesse sentido, a biotecnologia se soma a outros esforços, podendo colaborar de forma significativa para a prevenção de uma crise hídrica maior. Possibilitar aos agricultores acesso às tecnologias permite o uso mais eficaz da água disponível. Sementes mais produtivas, que necessitam de menos insumos, são inovações que estão em consonância com os preceitos de sustentabilidade.

A biotecnologia pode dar outras contribuições para a preservação da água. Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), por exemplo, está identificando genes que fazem com que algumas plantas absorvam metais pesados em grande quantidade. “Uma vez desvendado esse mecanismo genético, é possível superexpressar esses genes, desenvolvendo variedades transgênicas com alta capacidade de absorção para serem utilizadas na recuperação de solos e águas contaminadas”, explica Adriana Brondani, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

Tolerância a estresse hídrico

Outro exemplo é o desenvolvimento de plantas tolerantes à seca. No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) saiu na frente e já têm sementes de soja em estágio avançado de testes no campo. Os pesquisadores trabalham com 15 construções gênicas, das quais cinco já estão em campos experimentais da Embrapa, com autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (Ctnbio). “Manifestar a característica de tolerância à seca é um processo complexo, pois envolve o estudo de diferentes rotas metabólicas”, afirma Alexandre Nepomuceno, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja. Os resultados obtidos são promissores e a mesma tecnologia está sendo transferida também para cana-de-açúcar, milho, algodão, café e braquiária.

Na safra 2013/14, quando a região Sul sofreu muito com a seca, uma das variedades transgênicas de soja teve aumento de 13,5% na produtividade quando comparada com similares sem o gene. Durante o período, choveu muito pouco na fase mais crítica do desenvolvimento da planta (44mm entre janeiro e fevereiro, quando a média histórica é superior a 300mm) e as temperaturas foram extremas, chegando a marca de 40°C. Também foram realizadas simulações com seca drástica em condições reais de campo, com utilização de telhados móveis, chegando-se a resultados ainda melhores: 44% de aumento de produtividade da soja geneticamente modificada (GM) em relação a mesma variedade sem o gene. A expectativa da Embrapa é que em breve os testes de campo com a nova soja sejam levados para outras regiões do país.

Biorremediação das águas

No que diz respeito ao reaproveitamento de recursos hídricos, a utilização de microrganismos selecionados e multiplicados por meio da biotecnologia tem se mostrado promissor. Fabricio Drumond, COO (Chief Operations Officer) da SuperBAC, empresa que desenvolve esse tipo de bactéria, afirma que diversos setores utilizam soluções biotecnológicas no tratamento de efluentes no Brasil. O resultado dessa estratégia é a diminuição do consumo, pois muitas das águas retornam para os processos de produção, além da preservação de mananciais, já que a água segue limpa para o descarte. “Entender cada vez mais quais são os melhores agentes para cada aplicação e a forma mais eficiente de utilizá-los nos fará ampliar a adesão a essa tecnologia”, avalia Drumond.

Além de tratar efluentes, os chamados consórcios de bactérias também são aplicados para despoluir aquíferos. Rio Sena em Paris (França), Tâmisa em Londres (Reino Unido), Tejo em Lisboa (Portugal), Cuyahoga em Cleveland (EUA), Cheonggyecheon e Han, em Seul (Coreia do Sul), Reno na Europa e Canais de Copenhague na Dinamarca, são exemplos de recuperação via agentes biológicos. No Brasil, projetos com a utilização de bactérias despoluentes já foram testados no rio Pinheiros, em São Paulo, e estão aguardando aprovação.   “Acredito que a biotecnologia pode revisitar revoluções como a agrícola e industrial, modernizando processos e fazendo as atividades serem ainda mais sustentáveis”, pondera Fabricio Drumond.

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