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CIB contesta estudo sobre distorção nos testes com ratos

"Há várias falhas científicas técnicas, estatísticas e epidemiológicas"



O Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) enviou nota contestando o estudo do professor francês Gilles-Eric Séralini (Testes de toxicidade em ratos são distorcidos, diz estudo). Segundo a pesquisa, os testes de toxicidade de produtos químicos realizados em ratos de laboratório estariam distorcidos, em função da alimentação das cobaias conter contaminantes como pesticidas e transgênicos. 

“As dietas de laboratório certificadas são controladas e monitoradas há quase meio século. Os estudos conduzidos sob as Boas Práticas de Laboratório (BPL) exigem que as dietas dos animais de laboratório sejam analisadas quanto ao conteúdo, incluindo a garantia de que os contaminantes estejam abaixo dos níveis de concentração aceitos. Isso garante que as dietas não afetem os resultados do estudo”, afirma o CIB.


Ainda de acordo com o Conselho, “os níveis de resíduos de pesticidas, metais pesados, e PCBs (bifenilos policlorados) mensurados no estudo de Mesnage, et al. estão dentro dos limites certificados já definidos pelos fabricantes de alimentos para animais e estão em conformidade com os níveis estabelecidos pela Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) e outras agências equivalentes”.

Confira o artigo do CIB na íntegra:

Esclarecimentos sobre o estudo da CRIIGEN

Os protocolos e padrões para alimentação de animais de laboratório, assim como a qualidade correspondente dos resultados dos testes, estão consolidados por décadas de literatura. Todos os principais fornecedores de alimentos para animais de laboratório atendem às normas de BPL que estabelecem os máximos níveis permitidos de resíduos de defensivos químicos, hidrocarbonetos clorados e metais pesados. Estes fornecedores verificam e certificam todos os lotes de dieta para animais. 

Os níveis de resíduos de pesticidas, metais pesados, e PCBs (bifenilos policlorados) mensurados no estudo de Mesnage, et al. estão dentro dos limites certificados já definidos pelos fabricantes de alimentos para animais e estão em conformidade com os níveis estabelecidos pela Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) e outras agências equivalentes. 

Em 1956, a alta incidência de tumores em ratos fêmeas da linhagem Sprague-Dawley foi investigada, muito antes da introdução da biotecnologia na agricultura. De acordo com este estudo, foi detectado que três de 105 animais do grupo controle desenvolveram carcinomas da glândula sebácea do conduto auditivo externo com uma idade média de 115 semanas. A comparação com o referido relatório divulgado pela CRIIGEN torna-se necessária porque contradiz a argumentação de que os carcinomas teriam sido causados por uma dieta à base de produtos geneticamente modificados (GM) produzidos com uso de defensivos químicos. 

Além da dieta, deve-se considerar as influências da hereditariedade para as condições de saúde e capacidade funcional das linhagens de ratos usados em testes laboratoriais. Elas são criadas para experimentação por meio de diversos cruzamentos. Os animais são provenientes de diversas linhagens e cada uma apresenta susceptibilidade a doenças para as quais foram desenvolvidos. 

Constata-se que no recente estudo do Criigen, os valores de resíduos encontrados pelo grupo estão abaixo dos limites máximos de resíduos, com exceção de Chumbo e Arsênico, este último usado na agricultura orgânica. É sabido e aceito na comunidade científica que grãos de rações contém muitos dos compostos testados no presente estudo em um nível aceitável, que são considerados seguros com base nas normas de BPL e, como tal, não têm impacto sobre os resultados do estudo.Mesnage, et al. inapropriadamente acreditam que há uma nova necessidade de analisar a composição das dietas de laboratório quando já existem orientações rigorosas unânimes sobre as dietas de animais há mais de 45 anos. 

As afirmações de Mesnage, et al. de que as rações animais contaminadas, e não uma predisposição genética em animais de laboratório, causam efeitos negativos à saúde são equivocadas. Os dados de saúde e de controle para animais de laboratório, tais como incidências de tumores entre ratos Sprague-Dawley (citados por Seralini, 2014), foram estabelecidos há mais de 50 anos. 


Uma revisão de 2013 publicada no Critical Reviews in Toxicity 1 analisou os estudos de animais alimentados com ração integral biotecnológica e não encontrou qualquer evidência que demonstrasse preocupações com toxicidade, saúde ou segurança. Bartholomaeus, et al. concluíram que os estudos de toxicidade em animais alimentados com ração integral são desnecessários e cientificamente não justificados. 

Há várias falhas científicas técnicas, estatísticas e epidemiológicas nos estudos de Mesnage, et al., que põem em dúvida as suas conclusões. 

o   O método para calcular os Quocientes de Perigo 2 no documento é baseado em suposições incorretas e em fatores de incerteza significativamente inadequados. Isto resultou em perigos individuais que são superestimados em pelo menos 100 vezes. 

o   Não há nenhuma referência específica sobre as fontes para os IDAs (níveis de ingestão diária aceitáveis para a exposição humana) usados no estudo. Alguns dos valores dos IDAs parecem não estar consistentes com aqueles usados pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

o   Mesnage, et al. supõem erroneamente que os níveis de toxicidade para animais de laboratório são os mesmos que para os seres humanos. O estudo utiliza IDAs estabelecidos para seres humanos como forma de avaliar a toxicidade de roedores. As conclusões de Mesnage, et al de que as concentrações de componentes em rações “provavelmente causam doenças graves” são falhas. 

o   Os autores não reconhecem as fontes de variabilidade entendidas e aceitas há tempos em bioensaios de longo prazo. O estudo sugere que estas variações estão ligadas aos contaminantes em dietas, quando, de fato, tem sido descrito e entendido que estas variações podem ser atribuídas à patologia de envelhecimento das espécies de ratos de laboratório.

o   Dados históricos de controle (HCD) oferecem uma visão relevante se usados corretamente: 

¦ Os HCD têm que ser qualificados e aceitáveis apenas se derivarem do mesmo laboratório, usando as mesmas espécies, mantidos sobre as mesmas condições e gerados dentro de cinco anos do estudo ao qual são aplicados. 

¦ Os HCD não são uma ferramenta que os toxicologistas usam para desconsiderar dados inconvenientes; pelo contrário, são usados para fornecer uma visão sobre a variação em uma população mais ampla de animais não tratados.  

¦ Um severo controle das condições de laboratório, incluindo dieta de laboratório, um padrão que vem sendo aplicado há mais de 45 anos, garante a manutenção dos bancos de dados históricos. 

1 http://parrottlab.uga.edu/parrottlab/Publications/Bartholomaeusetal2013.pdf

2 A hazard quotient is the ratio of the potential exposure to a substance and the level at which no adverse effects are expected. If the Hazard Quotient is calculated to be less than 1, then no adverse health effects are expected as a result of exposure. If the Hazard Quotient is greater than 1, then adverse health effects are possible. 

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