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Do coronel ao empresário: a evolução do produtor brasileiro

Coronéis do Cacau, Barões do Café e Estancieiros, onde andam os fazendeiros do Brasil?


Coronéis do Cacau, Barões do Café e Estancieiros, onde andam os fazendeiros do Brasil?

A agricultura e a pecuária como conhecemos hoje passaram, como tudo no mundo, por um longo e metódico processo de desenvolvimento. Cada lugar chegou ao resultado da evolução específica de cada região, mantendo hoje algumas de suas características políticas, econômicas ou até mesmo culturais. O Brasil, país com seus 8,5 milhões de km² de área, hospedou em seu solo a história de diversos tipos de fazendeiros, hoje grandes empresários rurais. Por isso, o Portal Agrolink comemora hoje o Dia do Fazendeiro (21 de setembro) mostrando a trajetória deste grande produtor desde sua chegada nas caravelas portuguesas até os dias tecnológicos atuais.


Toda história tem um começo

Com a chegada dos portugueses, o plantio da cana-de-açúcar para exportação foi a base da economia do Brasil colonial. Principalmente cultivada na região onde hoje fica Pernambuco, o responsável pela produção era o senhor de engenho, um fazendeiro proprietário de grandes terras que utilizava ampla mão-de-obra escrava. Com grandes latifúndios e concentração de riquezas, os fazendeiros passaram a diversificar a produção com algodão, tabaco e cacau.

Dessas, o cacau se espalhou com muita importância. Com autorização para ser produzido, ele foi implantado nos anos 1600 e, no século XVIII, foi introduzido na Bahia. Com terras conquistadas e matas transformadas em grandes plantações, os fazendeiros donos de grandes áreas cresceram junto da economia local, ficando ricos e influentes.

Mesmo sem ter nunca ingressado na vida militar, ficaram conhecidos como Coronéis do Cacau e, apesar da má fama de abusivos, o poder destes fazendeiros levou às suas regiões investimento e desenvolvimento. Com o auge do cacau no final do século XIX, os coronéis contribuíram consideravelmente na construção de grandes cidades, como Itabuna e Ilhéus.

Ainda no final do período colonial, outra cultura de grandes propriedades foi introduzido no país: o café. Com terras a baixo custo e o desaquecimento das minas de ouro, muitos pioneiros investiram em grandes áreas para plantar o novo grão. Assim como a cana-de-açúcar no Nordeste, o café no Sudeste, principalmente em São Paulo, tinha grande mercado externo. O desenvolvimento do comércio internacional e a venda quase certa da produção cafeeira gerou uma nova elite agrícola, os Barões do Café.

A mão-de-obra no início era escrava, mas não suficiente. O trabalho assalariado era uma solução, e com os conflitos na Europa, muitas pessoas fugiam nos navios em busca de refúgio, trabalho e dinheiro em outros países. Entretanto, com a escravidão implementada no país, muitos imigrantes acabaram desistindo com receio de serem submetidos ao mesmo regime de trabalho. Preocupados com a falta de mão-de-obra, os Barões do Café tiveram que apoiar as leis abolicionistas. Neste ponto, o governo imperialista investiu na imigração e na agricultura, e os primeiros europeus começaram a chegar.

Com a economia interna crescendo, os solos empobrecendo e as ferrovias sendo construídas, os Barões foram em busca de novas terras. O oeste paulista se desenvolveu e se urbanizou em função da produção cafeeira, que movimentava fortemente o comércio.

As grandes fazendas, todavia, não se destacaram apenas na agricultura. A pecuária também foi importante na formação dos grandes fazendeiros do Brasil. As primeiras estâncias gaúchas foram criadas em 1634, quando o padre jesuíta Cristóbal de Mendonza trouxe mil cabeças de gado da Argentina para acabar com a fome que varria os Sete Povos das Missões, na região oeste do Estado. Ele dividiu este gado em estâncias, grandes propriedades onde havia a casa, onde morava o patrão e sua família, o galpão, a casa do capataz, o potreiro, os currais, o piquete e as invernadas, onde o gado era cuidado.


Mas foi apenas em 1777, com o tratado de Santo Ildefonso, que definia novas fronteiras das terras portuguesas e espanholas, é que o regime das estâncias foi consolidado. Os militares que se destacaram na disputa receberam grandes terras, dando origem à aristocracia pastoril gaúcha. E, assim como Coronéis do Cacau e os Barões do Café, os Estancieiros tinham grande influência política, mesmo que por vezes abusiva, e desenvolveram fortemente a economia da região com a venda de charque para o resto do país.

.. ao empresário

Hoje, nem os Coronéis do Cacau, os Barões do Café ou os Estancieiros existem mais. O que sobrou foi a herança econômica e cultural passada aos ainda moram nessas regiões. A Bahia é atualmente responsável por 95% de toda produção cacaueira do Brasil, tornando-se grande exportador do produto. Por causa da vassoura-de-bruxa, doença causada por fungos, a produção caiu, mas não deixou de ser grande fonte de economia para o Estado. Além deste, outro grande legado dos Coronéis do Cacau foi a influência cultural direta e indireta. Diversas obras foram criadas baseadas na vida destes fazendeiros e também no cotidiano das cidades que eles ajudaram a desenvolver.

O café do oeste paulista se espalhou, e hoje também tem grande importância econômica nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná. Mesmo tendo passado por crises financeiras, o Brasil segue sendo o maior produtor mundial. Segundo estimativas da Conab, a safra 2012/13 em São Paulo será de 5,21 milhões de sacas cultivadas em 175,1 mil hectares com produtividade média de 29,77 sc/ha, 67,6% maior que a safra anterior. E o ouro negro é ainda tão importante para a região que recebeu Indicação Geográfica e certificação de cafés especiais.

Já no Rio Grande do Sul, apesar de a soja ter tomado grandes porções de terra e ter se tornado destaque na produção agrícola do Estado, a criação de gado segue importante fonte de economia e cultura. As propriedades, ainda chamadas de estâncias, mantêm até hoje os antigos costumes do peão gaúcho, mas com atenção no melhoramento genético e forte atuação no mercado externo. Prova disto é a Expointer, feira de agropecuária que acontece anualmente em Esteio, na Grande Porto Alegre. Com destaque internacional, ela é considerada a maior exposição de animais da América Latina e fechou, na edição de 2012, com recorde de mais de R$ 2 bilhões em vendas.

Alguns séculos depois dos primeiros produtores de cana do Brasil Colônia, ser fazendeiro mudou o conceito. Do rico produtor influente política e economicamente, hoje ele virou um empresário que cuida da produção, dos insumos, do bem-estar animal, do maquinário, do escoamento, da previsão do tempo, das cotações da bolsa, da sustentabilidade, das leis ambientais, das leis trabalhistas, entre outros mil detalhes. E é deste produtor que o Portal Agrolink tem orgulho e parabeniza pelo Dia do Fazendeiro!

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