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Em dia de campo, Embrapa lança nova cultivar de capim-elefante

Cerca de 600 produtores participaram do evento em Coronel Pacheco – MG


Um dia de campo comemorando os 40 anos de fundação da Embrapa Gado de Leite marcou o lançamento da BRS Capiaçu, a nova cultivar de capim-elefante desenvolvida pela instituição. Cerca de 600 produtores participaram do evento, que ocorreu nesta quarta-feira (26 de outubro), no Campo Experimental José Henrique Bruschi, em Coronel Pacheco – MG.

Os participantes puderam levar mudas da nova cultivar, que só estará no mercado em meados de 2017. Na cerimônia, que abril o dia de campo, ocorreu a assinatura de um contrato comercial entre a Embrapa e uma Associação de Santa Cruz do Sul – RS, que irá produzir e comercializar a BRS Capiaçu. Até o final deste ano, outras duas empresas de Minas Gerais e São Paulo estarão habilitadas para comercializar o produto.

Nem bem chegou ao mercado, a procura pela BRS Capiaçu é grande. Todos os dias, produtores do todo o pais entram em contato com a Embrapa Gado de Leite querendo adquirir mudas. O interesse se deve à qualidade da nova cultivar, cuja produção é de cerca de 50 toneladas de matéria seca por hectare/ano, média de 30% a mais do que as cultivares tradicionais. Entre as principais cultivares de capim-elefante, a BRS Capiaçu é também a que apresenta o maior teor de proteína (veja tabela 1).

Capiaçu, em tupi-guarani, significa "capim grande". A cultivar não nega o nome, ultrapassando cinco metros de altura. O resultado é alta produção de biomassa. "Essa é sua melhor característica", afirma o pesquisador Mirton Morenz. A gramínea é indicada para cultivo de capineiras. No período da seca, pode ser fornecida para os animais picado verde no cocho ou como silagem.

A vantagem de utilizar o capim verde é que, assim, apresenta maior valor nutritivo. Conforme explica Morenz, "quando o capim é cortado aos cinquenta dias, chega a ter 10% de proteína bruta, índice superior ao da silagem de milho, com cerca de 7%". O teor de proteína cai para 6,5%, com o corte aos 90 dias e 5,5%, cortado aos 110 dias. O processo de ensilagem também diminui a quantidade de proteína, que passa a ter um teor pouco acima de 5% (veja tabela 2).

Segundo o pesquisador Antônio Vander Pereira, que coordenou o desenvolvimento da cultivar, a forrageira representa uma alternativa para a produção de silagem de baixo custo. "O que se gasta com a produção de silagem de BRS Capiaçu é três vezes menos comparado à silagem de milho ou de sorgo", diz. O valor nutritivo é comparável à silagem das forrageiras tradicionais e superior ao da cana-de-açúcar.

Para atender aos requerimentos energéticos e proteicos do rebanho, tanto na silagem de milho quanto na de BRS Capiaçu, a suplementação concentrada é necessária. Comparando as duas silagens na alimentação de vacas em lactação, a silagem de BRS Capiaçu implica na necessidade de maior quantidade de concentrado na dieta. Mas, segundo Morenz, ainda assim, o seu uso é economicamente vantajoso, devido ao menor custo de produção.

Melhoramento genético do capim-elefante

A BRS Capiaçu foi obtida por meio do Programa de melhoramento genético de capim-elefante da Embrapa. A cultivar é o resultado do cruzamento de variedades pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Capim-elefante (BAGCE), mantido pela Embrapa. O Programa foi criado em 1991. A primeira cultivar desenvolvida foi o Pioneiro, lançada em 1996. Em 2012, lançou-se a BRS Kurumi, que por apresentar porte baixo é mais adaptada ao pastejo rotacionado.

Foram necessários 15 anos para se desenvolver esta nova variedade de capim-elefante. Vander explica que uma série de cruzamentos e avaliações foram realizados. Os cruzamentos deram origem a cerca de dois mil híbridos, tendo sido selecionados apenas 50 materiais promissores, que foram testados em 17 estados pela Rede de Ensaios em Capim-elefante. Os híbridos com melhores resultados foram a BRS Capiaçu, com boa adaptação em todo o Brasil, e a BRS Canará, que apresentou boa adaptabilidade em capineiras para os biomas amazônico e cerrado.

"A boa adaptabilidade das gramíneas africanas às condições brasileiras é responsável pelo sucesso da pecuária brasileira", avalia Vander. O uso das gramíneas nativas, foi sendo substituído paulatinamente, por variedades exóticas, que encontraram aqui as condições de solo e clima ideais para se propagarem. De forma acidental, essas variedades chegaram ao Brasil junto com os escravos, entre 1530 e 1850. Forrageiras como colonião, Jaraguá e capim gordura vieram como cama nos navios negreiros.

Em meados do século passado, foram introduzidas na pecuária nacional algumas variedades de braquiária. No entanto, foi nos anos 90 que o melhoramento genético ganhou o contorno que tem hoje, com o desenvolvimento de diversas cultivares. "O melhoramento genético de forrageiras tropicais é um dos pilares da pujante pecuária do Brasil, o segundo maior produtor mundial de carne e o quinto maior produtor de leite", conclui Vander. O país possui um dos maiores programas de melhoramento de forragens do mundo e exporta cultivares para a América Latina e para a própria África.

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