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Produtores temem perdas com greve dos caminhoneiros

Situação afeta ao menos seis dos mais importantes estados agrícolas do Brasil



A greve dos caminhoneiros passou a ser um tema de preocupação dos produtores rurais e merece um olhar atento do mercado, porque a situação afeta pelo menos seis dos mais importantes estados agrícolas do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Trata-se dos maiores produtores de soja, milho, arroz, café, trigo e algodão.


A Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso divulgou um comunicado dizendo que "certamente a greve trará perdas comerciais" no curto prazo. Como o Mato Grosso se aproxima da colheita da segunda safra precoce de milho, que acontece em Junho, a armazenagem começa a ser motivo de preocupação.

"Estamos no pico das vendas e precisamos de fluxo. Os compradores precisam saber o preço do frete. No médio prazo, teremos problema de armazenagem porque precisaremos de mais espaço para o milho que será colhido", explicou Ricardo Tomczyk, presidente da associação, no comunicado. Ele também citou preocupação com os prazos dos contratos e a repercussão com os importadores.

Em termos de mercado, a única coisa certa é que a soja será pressionada nos próximos dias. "É ainda muito prematuro falar das consequências da greve para os embarques (de grãos) porque não sabemos a extensão dela. Se a greve for grande (em números e em duração), haverá atrasos nas entregas nos portos neste ano", prevê o analista de Porto Alegre Carlos Cogo em entrevista ao correspondente Luís Vieira, do Agriculture.com.

Neste momento, não há nenhuma indicação clara de quando o protesto terminará. O Secretário Geral da Presidência, Miguel Rossetto, que participou das negociações com os caminhoneiros, tem minimizado o impacto da greve e diz que o governo não tem muito o que fazer a respeito das demandas dos profissionais de transporte. "Não podemos fazer uma intervenção econômica sem suporte legal", anunciou Rossetto, que prometeu multar os caminhoneiros que interromperem rodovias.

No lado dos profissionais de carga, Carlos Dahmer, um dos líderes do movimento no Rio Grande do Sul, prometeu continuar a greve: "Nós começamos o protesto, mas só o governo pode acabar com ele", disse Dahmer, presidente da União Independente dos Trabalhadores de Carga de Ijuí. Como precaução, desta vez muitos caminhonheiros deixar de ir ao destino de carregamento do veículo para não correr o risco de sererem parados no caminho e arcarem com os prejuízos.


Em anos anteriores, a gigante brasileira do petróleo, a Petrobras, fixou o preço da gasolina e do diesel abaixo do valor internacional do barril. Atualmente, a companhia mudou a política de preços para recuperar perdas com corrupção e má administração. Enquanto isso, o governo aumentou os impostos sobre combustíveis desde 1 de Fevereiro como forma de estabeler um ajuste nas contas públicas.

"Os caminhoneiros autônomo acabam por sofre muito com essas mudanças. Já os proprietários de frota não querem reduzir as suas margens. Mas os preços de fretes não podem ser mudados assim de um dia para o outro", disse Augusto Pinho de Bem, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística.

Para Paulo Moura, professor de Ciência Política na Universidade Luterana do Brasil, a paralisação é resultado de uma crise politica e econômica maior que o país tem vivido nos últimos meses. Há uma severa recessão econômica com inflação anual próxima aos 9% e crescente desemprego, enquanto a Polícia Federal investiga casos de corrupção na Petrobras e em outras grandes empresas. Protestos de massa também pedem a saída da presidente Dilma Roussef. Moura afirma que a crise só deve piorar nas próximas semanas e meses.

"Eu acredito que os caminhoneiros se sentem enganados por este governo. Não haverá uma solução fácil e a radicalização dos protestos pode acontecer. O governo só deve desbloquear as rodovias se houver escassez severa. O segundo semestre no Brasil tende a ser ainda mais crítico [politicamente] com a abertura do processo de impeachment contra a presidente na Câmara dos Deputados", diz Paulo Moura ao Agriculture.com.

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