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Projeto estimula pecuária sustentável no oeste da Bahia

Projeto também produziu 76 Guias de Avaliação Individual das Propriedades



Parceria entre a Fundação Solidaridad, Associação dos Criadores de Gado do Oeste da Bahia (Acrioeste) e a empresa de consultoria Profissional promove a gestão das propriedades ligadas à pecuária do ponto de vista econômico, social e ambiental

Em seu novo caderno, o pecuarista Genésio Pedroso Dias, 47, senta e começa a escrever apoiado na mesa da cozinha. Além de servir as refeições, este é o ponto de apoio para a nova rotina: registrar as despesas e rendas da sua propriedade localizada em Santa Maria da Vitória, na região Oeste da Bahia. Ao administrar as finanças da fazenda de 220 hectares, e do rebanho com 156 cabeças de gado, ele tenta se adaptar à nova rotina. “No mês passado foram vendidos dois bezerros e duas vacas e tivemos despesas com botijão de gás, roçagem da fazenda e cana e rapadura”, conta, ao apontar as informações com a letra de forma no caderno.

Embora pareça uma atividade simples para administrar qualquer negócio, Genésio somente passou a adotar a gestão financeira da sua fazenda há apenas dois meses, com o apoio especializado de técnicos ligados ao projeto de pecuária sustentável desenvolvido no Oeste da Bahia. Fruto das parcerias entre a Fundação Solidaridad, Associação dos Criadores de Gado do Oeste da Bahia (Acrioeste), consultoria Profissional e Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), o projeto inicia a segunda etapa, ligada à assistência técnica direta aos pecuaristas na região, visando apoiá-los em cinco eixos principais: gestão da propriedade, produção animal, legislação trabalhista, meio ambiente e relacionamento com comunidades no entorno. 

Antes da assistência técnica ligada ao projeto, Genésio apenas registrava o pagamento de funcionários em um caderno que carrega até hoje. De herança do avô, Izidoro Celestino da Cruz, a propriedade sustenta mais 14 pessoas da família, dentre irmãos e sobrinhos. “Agora consigo enxergar melhor o que entra e o que sai. Fica mais fácil para planejar. Quem sabe não consigo me organizar para comprar um carro”, almeja, ao ser perguntado em quê pretende investir com o lucro da criação de gado.

Além de Genésio, de Santa Maria da Vitória, o trabalho de treinamento, capacitação e acompanhamento também vem sendo realizado junto a outros quatro pecuaristas do oeste baiano, dos municípios de Angical, Correntina, Riachão das Neves e Wanderley, que deverão ser os disseminadores de uma gestão sustentável na pecuária. “A ideia é sensibilizar estes pecuaristas a seguirem uma nova prática de gestão, preocupada com a sustentabilidade financeira e ambiental, para que futuramente se transformem em modelos a serem adotados pelos módulos rurais mais próximos”, explica o engenheiro agrônomo da Profissional, Márcio Oliveira.

Diagnóstico – Proprietário da fazenda Alto da Serra, em Correntina, Noel Santiago de Souza, 50, também vem aprovando a assistência técnica especializada. “Estamos cumprindo tudo o que foi recomendado nos relatórios. É um conhecimento que agrega à propriedade como o combate de formigas e as anotações do rebanho para ajudar a monitorar o negócio”, explica ele, que administra 600 hectares de área com cerca de 250 cabeças de gado. 

Para ser selecionado no programa e ajudar a identificar pontos de melhorias em sua propriedade, Noel precisou passar pela primeira etapa com o trabalho de diagnóstico intitulado “Horizonte Rural”. “Eles vieram antes para acompanhar o nosso trabalho e saber o que estava errado e o que deveríamos corrigir”, aponta. O projeto utiliza a metodologia de melhoria contínua, desenvolvido pela Fundação Solidaridad. Tudo começa com a avaliação da propriedade por meio da aplicação do guia de auto-avaliação das práticas sociais, ambientais e de gestão na pecuária; Todos os produtores selecionados preencheram o guia com ajuda de técnicos da Profissional e da Acrioeste.

Além de Noel, os técnicos foram a campo e aplicaram questionários para 76 donos de pequenas e médias propriedades dedicadas à pecuária no oeste da Bahia. “Com base no relatório geral e individual gerados a partir das respostas dadas pelos pecuaristas foram identificadas as deficiências para que os técnicos possam dar suporte na gestão das propriedades e planejar a produção de gado de maneira sustentável nas perspectivas econômica, social e ambiental”, explica Márcio. 

O projeto também produziu 76 Guias de Avaliação Individual das Propriedades, entregues para cada pecuarista participante da pesquisa. Da coleta até a avaliação e entrega dos relatórios individuais, o trabalho foi realizado em cerca de dois anos. Nestes relatórios, foram incluídas as deficiências e os gargalos na administração das propriedades, seguidos pelo programa no oeste da Bahia. “No caso dos pecuaristas Genésio e Noel, um dos pontos identificados para o trabalho inicial para a assistência técnica é a gestão da propriedade com o registro das receitas e gastos da fazenda para planejar os investimentos e a comercialização para depois avançarmos na produção animal e nos critérios de adequação socioambiental das propriedades”, afirma Márcio.

Originação Sustentável – O recente trabalho de assistência técnica aos pecuaristas e do diagnóstico das propriedades está inserido nos projetos da Fundação Solidaridad, que, por meio de apoio e capacitação, fomentam estratégias para inserir o Oeste no conceito de região de originação sustentável e criação de ambientes favoráveis aos negócios. O representante da Solidaridad no Brasil, Harry van der Vliet, explica que os projetos desenvolvidos na região devem conectar e adequar a cadeia produtiva do Oeste baiano às demandas por uma produção mais sustentável e isto representa o grande desafio proposto pela Fundação Solidaridad. 

“O mercado europeu, por exemplo, é uma oportunidade interessante de negócios, que se apoia em exigências baseadas na sustentabilidade. Eles (os importadores) precisam ter certeza de que os produtos que compram não possuem originação duvidosa que coloquem em risco a imagem de seus empreendimentos, além de que muitos importadores incorporaram princípios de sustentabilidade na gestão dos seus negócios”, diz Harry. 

Dentre as intervenções propostas para os agricultores do Oeste se destacam a adoção de boas práticas agrícolas e de pecuária porteira adentro, com um trabalho de melhorias contínuas. Da porteira afora, a criação de corredores ecológicos e promoção de benefícios sociais para as comunidades, utilizando, por exemplo, mão de obra, produtos e serviços locais. Apoio para a adequação às conformidades legais é um dos objetivos da Fundação Solidaridad, através do projeto desenvolvido com a Acrioeste, Profissional e Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável.

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