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Reajuste no preço mínimo do trigo é insuficiente para sanar crise no setor

Aumento de 4,6% anunciado pelo governo federal cobre os custos de apenas algumas regiões produtivas


O recente ajuste no preço mínimo do trigo tipo pão, que chegou a R$ 34,98 por saca de 60 kg (ou R$ 583 por tonelada) não será suficiente para impedir uma possível redução na área de plantio desta safra, nem alavancar os moinhos. 

Em entrevista ao DCI, o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, disse que a elevação de 4,6% no valor base definido pelo governo federal - vigente de julho de 2015 a junho de 2016 para a Região Sul - é atrativa e pode estimular a produção, mas ainda assim a expectativa é que haja uma queda de 10% na área dedicada ao cultivo gaúcho - segundo maior estado produtor do cereal. 

"Os produtores estão receosos de não haver verba suficiente para sustentar o preço mínimo devido a carência de recursos para a agricultura", afirma o executivo. 

Em nota, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) informa que a divulgação, realizada no último dia 14, "não vem sendo feita na data estabelecida pela legislação, 60 dias antes do plantio". Segundo a entidade, o anúncio desta safra ocorreu com cinco meses de atraso, quando 30% da área já havia sido plantada. 

O Paraná é o maior produtor de trigo no País, com expectativa de colher quatro milhões de toneladas neste ano, enquanto a produção nacional poderá atingir 7,5 milhões de toneladas, de acordo com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

Antes do reajuste, o valor era de R$ 33,45 por saca 60 kg ou R$ 557,50 por tonelada, porém, o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Lucílio Alves, alerta que de acordo com cálculos realizados pelo instituto, considerando-se os preços dos insumos e também os recebidos pelo produtor em abril, esse mínimo cobriria os gastos apenas de parte das regiões pesquisadas. 

"Na praça de Castro (PR), o produtor precisaria receber R$ 42,48 por saca, considerando-se produtividade de 51,67 sacas por hectare, para cobrir os custos estimados em abril de 2015, de R$ 2.195 por hectare", explica o especialista. A federação paranaense, com base nos cálculos da Conab, destaca que o custo variável para os municípios de Cascavel, Londrina e Ubiratã são estimados em R$ 36,73, R$ 37,26 e R$ 38,22, respectivamente. Todos superiores aos R$ 34,98 obtidos com o ajuste. 

No mercado 
"Os preços no mercado internacional estão muito baixos e tendem a cair mais ainda devido ao excesso de oferta. Muitos países exportadores desvalorizaram as suas moedas tornando o produto barato. Os produtores devem ter um ano de muita dificuldade na comercialização pois os moinhos até agora não conseguiram repassar a valorização do câmbio e não terão condições dos pagar mais para o trigo", projeta o executivo do Moinho Pacífico. 

Pih conta que a demanda de farinha está fraca, os moinhos seguem descapitalizados e há carência de financiamento. Quando o crédito é concedido, as altas taxas de juros, entre 18% e 25% ao ano, são o principal entrave da operação. 
Como alternativa, muitos moinhos recorreram a tradings para obter financiamento, mesmo que em dólares. Com a desvalorização do real ante a moeda norte-americana, a dívida "dolarizada" aumentou significativamente, mas, lembra o presidente, a farinha foi vendida antes, a um preço que refletia um câmbio bem menor. Neste contexto, "já há moinhos inadimplentes juntos às tradings. A situação é bastante difícil neste momento". 

Na última sexta-feira (22), o cereal tipo pão encerrou o dia cotado a R$ 668,53 por tonelada, queda de 2,13% no comparativo mensal, segundo a média do Cepea para o Paraná. No Rio Grande do Sul, o trigo brando fechou a R$ 579,67.

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