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Sorgo é a nova estrela do mercado agrícola nos EUA

Em 2014, os EUA exportaram 15 vezes mais sorgo para a China que em 2013


Enquanto muitos agricultores americanos batalhavam com os preços baixos dos grãos no ano passado, Mike Baker escondia um ás na manga: o sorgo.

De repente, a gramínea, há muito ofuscada por culturas mais abundantes, está com a demanda em alta graças ao apetite crescente da China por ração animal e uma mudança nas preferências de compra do país asiático que o afastou do milho estrangeiro. As importações de sorgo americano pela China se multiplicaram por 15 em 2014, fazendo com que o preço da commodity superasse o do milho em partes dos Estados Unidos, um fato raro que destaca como mudanças políticas em Pequim podem ter um impacto de longo alcance no comércio mundial de grãos.

Após a colheita de fim de ano, Baker vendeu rapidamente a maior parte da produção de seus mais de 300 hectares de sorgo para o mercado de exportação, aproveitando a demanda chinesa. “Este foi basicamente o primeiro ano em que eu realmente me senti no controle da situação e não tive medo de definir meu preço”, diz o agricultor de 35 anos, cuja propriedade fica no Estado de Nebraska.

O ritmo de compras da China tem surpreendido muitos operadores do mercado agrícola e tradings de grãos que negociam sorgo, uma cultura resistente à seca. Alguns negociadores de grãos no Kansas estão oferecendo aos produtores cerca de 10% a mais pelo sorgo do que pelo milho, invertendo o prêmio de cerca de 10% que o milho normalmente consegue. Não há mercado de futuros para o sorgo, por isso os negociadores usam futuros de milho como preços de referência e para a gestão de risco.

A alta nas exportações está beneficiando não só grandes comerciantes de sorgo, como a Archer Daniels Midland Co. ADM -0.12%  , mas também operadores de grãos e transportadoras menores.

“É diferente de tudo que já vi em minha carreira, e faço isso há cerca de 30 anos”, diz Charlie Sauerwein, gerente do setor de grãos da WindRiver Grain LLC, uma empresa do Kansas que transporta grãos por trem para portos americanos. O incremento no volume de sorgo transportado tem ajudado a WindRiver a compensar a recente queda nos carregamentos de trigo para exportação provocada pela demanda mais fraca, diz ele.

Nos primeiros 11 meses de 2014, o volume de sorgo enviado para a China pelos EUA saltou para 5,7 milhões de toneladas, avaliado em US$ 1,3 bilhão, ante pouco mais de 362 mil toneladas no ano anterior, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). Antes de 2013, a China comprava apenas pequenas quantidades de sorgo dos EUA, o maior produtor e exportador mundial dessa cultura.

Muitos operadores do mercado agrícola esperam que o ritmo de encomendas chinesas desacelere porque os EUA não têm sorgo suficiente para sustentá-lo. O USDA estima que os EUA produziram 11 milhões de toneladas de sorgo no ano passado, comparado com cerca de 10 milhões de toneladas no ano anterior. Em contraste, a produção de milho dos EUA alcançou um recorde de 360 milhões de toneladas em 2014.



A China também pode começar a transferir parte das encomendas de sorgo para a Austrália, à medida que a produção do país fique disponível nos próximos meses, diz Mike O’Dea, consultor de gestão de risco da corretora de commodities INTL FCStone. Isso provavelmente levará os preços do sorgo a cair um pouco em relação aos níveis “extremamente altos” de hoje, diz O’Dea, que representa operadores de silos que compram sorgo.

As empresas chinesas estão comprando todo esse sorgo para alimentar porcos, galinhas e patos porque é mais barato importar o grão do que comprar o milho produzido na China, dizem analistas. Os preços do milho no mercado interno são altos porque o governo chinês tem comprado grãos dos agricultores locais, pagando um prêmio alto para elevar a renda dos agricultores, segundo analistas.

Além de ser usado como ração, o sorgo americano exportado para a China também é empregado pela indústria de bebidas na fabricação de produtos como o “baijiu”, uma popular bebida alcoólica chinesa, dizem profissionais do setor nos EUA.

As importações chinesas de milho dos EUA caíram drasticamente no último ano, depois que Pequim rejeitou carregamentos que tinham grãos geneticamente modificados não aprovados pelas autoridades locais. Recentemente, a China aprovou o milho transgênico, levando os analistas a especular que a China deve retomar volumes significativos de importações dos EUA. Isso, por sua vez, poderia abocanhar parte das compras de sorgo e de outros alimentos alternativos.

O ministério da Agricultura da China não quis comentar sobre suas políticas de importação de grãos. Ma Wenfeng, analista sênior da Beijing Orient Agribusiness Consultant Ltd., uma consultoria ligada ao governo, diz que o milho provavelmente vai começar a superar o sorgo porque muitos criadores de animais consideram o milho um alimento de melhor qualidade.

Analistas dizem que o sorgo americano ganhou impulso recentemente na China em parte porque não é geneticamente modificado, o que significa um risco regulatório menor do que o que afetou o milho. Ele também não está sujeito a cotas que limitam a importação das empresas, como é o caso do milho.

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