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SP: Agricultura ainda depende das águas de março


O volume de chuvas desse mês vai ser decisivo para o futuro da agricultura do Alto Tietê no que se refere ao uso de água dos rios para a irrigação. Na sua primeira entrevista para a Região desde que foi empossado no cargo, no início de janeiro e desde que começaram a restringir a água pelos produtores rurais, o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, fala dos impactos da crise hídrica no setor agrícola e da importância da produção do Alto Tietê para o abastecimento de São Paulo. Ele ressalta que o Estado está no limite e postergando ao máximo a aplicação de uma “injeção” mais dolorida o que, em outras palavras, significaria a restrição da água para o uso produtivo em prol da garantia de disponibilidade para o consumo humano. Essa decisão dependerá das chuvas que caírem ao longo de março, cuja previsão, segundo a Secretaria de Estado de Recursos Hídricos, não é nada animadora.

Depois de um fevereiro com chuvas acima da média, a expectativa é de que os meses de março, abril e maio sejam relativamente secos. Ainda que o “sufoco imediato” passe, o secretário afirma que a agricultura não será mais a mesma depois dessa crise e que a modernização da lavoura, com culturas que demandem menos água e equipamentos de irrigação mais eficientes, será inevitável. Jardim, aliás, nega uma caça às bruxas aos agricultores do Alto Tietê e diz que o número de autuações feitas nas propriedades rurais está aquém daqueles que realmente fazem uso ilegal da água.

No entanto, a Secretaria de Estado da Agricultura não dispõe de dados oficiais sobre o número de produtores da Região que captam água dos rios e quantos desses estão irregulares. A pasta também não informou quantos agricultores atuam no Alto Tietê, sob o argumento de que o levantamento existente é de 2008, mas adianta que um novo cadastro será feito neste ano.

Confira e entrevista:

Como o senhor avalia a atual crise hídrica e os desdobramentos dela na agricultura?

A restrição hídrica que vivemos não é feita pelo governo. Quem restringiu a oferta de água foi a natureza, fruto de tudo aquilo que fizemos ao longo dos últimos séculos. Temos hoje uma mudança climática – 2014 foi o ano mais quente da terra, segundo a Nasa –, na qual os fenômenos estão mais agudos. Ou seja, o calor está demais e o frio mais intenso. Nesse quadro, já pensando no futuro, acho que a agricultura não será a mesma. Não é a mesma no mundo e não será a mesma em São Paulo. Todos torcemos para que as chuvas sejam retomadas em março e possamos passar esse sufoco imediato. Mas de qualquer forma, a exploração e a produção agropecuária terão de passar por mudanças e vamos precisar de um choque de inovação tecnológica. De forma pragmática, vamos enfrentar a crise hídrica em quatro eixos básicos. O primeiro é o de novos cultivares, que precisem de menos água. Sabemos que para o Alto Tietê é mais difícil isso porque poucos cultivos têm uma necessidade de água tão grande como a hortaliça, mas estamos buscando opções. O segundo é a parceria com fabricantes e distribuidores para um melhor uso dos equipamentos de irrigação, buscando eficiência e eficácia. O terceiro é o programa de recomposição de nascentes, que tem projetos-pilotos em Botucatu e Holambra e que vamos avançar rápido para outras regiões. E o quarto, o Cadastro Ambiental Rural, fruto do novo Código Florestal.

O senhor fala de futuro. No hoje, dá para saber se os agricultores poderão continuar a usar água normalmente ou terão uma restrição mais severa?

Março decidirá, dependendo da reservação de água que conseguirmos nesse mês, particularmente nos sistemas Cantareira e Alto Tietê. Março ditará o nosso planejamento para o ano todo. Sabemos que a peculiaridade do Alto Tietê fez com que tivéssemos aí uma situação grave de disponibilidade hídrica para a qual buscamos a melhor solução. Tem momento em que é preciso tomar decisão e estamos buscando criar condições para que essa decisão seja a mais favorável possível. O nosso ideal é ter uma recomposição de reservas (de água) que não passe por necessidade de restrição mais contundente, mas é importante que os produtores se preparem regulando equipamentos, melhorando a troca de equipamentos, regularizando a situação de outorgas. Tem uma parcela significativa que simplesmente retira a água sem nenhum trabalho de comunicação, sem solicitar os trâmites corretos. A água é um bem público, que a pessoa se apropria para sua produção e é justo que comunique a sociedade e os órgãos públicos.

Há números sobre os agricultores irregulares e o impacto deles nessa crise hídrica?

São duas respostas. Temos a resposta oficial, que é a da solicitação de outorga (legalizados). E temos uma outra resposta porque fazemos levantamentos georreferenciados. Entre o número que é efetivamente praticado, e aquilo que tem outorga concedida, todos sabemos que há uma distância e, por isso, a necessidade de regularizar. O ato declaratório que foi aberto aos produtores ajudará a aproximar esses números e criar condições para os agricultores acessarem linhas de crédito.

(A reportagem de O Diário ressalta que, apesar do pedido, não foram apresentados números).

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