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Um sinal de mudança nos rumos da economia

Porém, 2015 será um ano difícil para economia, segundo economistas


Para os economistas Ricardo Amorim e Alexandre Englert, o nome de Joaquim Levy indica a retomada da rigidez no cumprimento da meta fiscal e a reconquista da confiança do mercado

Mais do que novos nomes, uma mudança de rumo na política econômica do país. É assim que os economistas Ricardo Amorim e Alexandre Englert interpretam o anúncio dos novos ministros que vão compor a equipe econômica do segundo governo de Dilma Roussef. A certeza dos palestrantes do IV Seminário de Tendências Econômicas, promovido pela Cooperativa Sicredi União Metropolitana na quinta-feira (27/11), em Porto Alegre, recai, sobretudo, no nome de Joaquim Levy, novo Ministro da Fazenda, conhecido por ser bastante rígido em relação aos gastos públicos. “A receita dele é corte de gastos, tanto que ele é chamado de ‘mãos de tesoura’”, destacou Amorim, presidente da Ricam Consultoria e um dos debatedores do programa Manhattan Connection. 

Englert, economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, destacou que Levy tem o perfil que o governo brasileiro precisa neste momento para organizar as contas públicas e segurar os investimentos dos setores e bancos públicos. “É importante que tenhamos no comando pessoas austeras e independentes politicamente”, comentou Englert, lembrando que Levy tem formação em economia na Universidade de Chicago, uma das mais ortodoxas escolas de pensamento econômico do mundo.

Os economistas acreditam que a nomeação de Levy indica que o país retomará o modelo econômico vigente até o governo Lula, sustentado pelo tripé de política macroeconômica que se baseia no controle da inflação, no câmbio flutuante e no cumprimento das metas fiscais. Medidas que Englert e Amorim consideram fundamentais para recuperar a confiança não só da indústria, setor mais debilitado com a política econômica atual, mas também do consumidor, que, com a renda mais comprometida, tem diminuído o volume de gastos com compras.

A opção por Levy também demonstra, na visão de Amorim, de que o novo ministro da Fazenda terá maior independência para decidir as medidas econômicas a serem adotadas. Isso porque Levy e Dilma não tem um relacionamento fácil. “Deve ter havido um arranjo político que garantiu a ele o poder de decisão”, aposta Amorim. Ele ressalta, ainda, que a presidente está abrindo mão de suas convicções dogmáticas - como a forte interferência do governo - por uma questão de necessidade. “O Brasil saiu dividido das eleições. Ela tem que agradar quem está contra ela”, acrescenta Amorim. “Ela precisa ganhar base de sustentação política”.

Para ele, Dilma deve enfrentar no próximo ano uma forte pressão no Congresso e nas ruas, com a crise da Petrobras, a alta da inflação e o risco de racionamento de energia, que pode derrubar o crescimento do país e causar maiores níveis de desemprego. Dar uma guinada no rumo da economia seria uma forma de emprestar sobrevida ao governo e de conter as forças de oposição.

O que esperar de 2015 

Apesar do nome de Joaquim Levy trazer otimismo ao mercado, Ricardo Amorim e Alexandre Englert apontam um 2015 difícil para economia, com a indústria a ritmo lento e o varejo experimentando queda nas vendas. Ambos acreditam que tanto a inflação como a taxa de juros devem manter trajetória ascendente, ainda consequência do represamento do reajuste dos preços administrados - aqueles que dependem de autorização do governo, casos do combustível, água e energia. 

No cenário internacional, a recuperação da economia norte-americana e a indicação de que o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) irá diminuir a taxa de juros também devem dificultar a atração de capital estrangeiro para o Brasil. “Será um ano de reajuste para o setor público e de cautela para o privado”, resume Englert.

No entanto, Amorim e Englert são unânimes em dizer que, se o governo utilizar 2015 para acertar as contas públicas e realmente mudar o modelo econômico adotado, o medo e a desconfiança dos setores produtivos, principalmente o industrial, e também do consumidor, vão começar a se dissipar e haverá uma retomada de investimentos e compras nos anos seguintes.

Amorim acredita até que, no final de 2015, o país pode surpreender e ter um PIB maior do que o esperado. “A expectativa está tão baixa que qualquer sinalização de mudança,entusiasma o mercado”, analisa. Para confirmar sua crença, ele lembra que épocas de retração e de preços baixos rendem boas oportunidades de investimento e negócios, impulsionando melhores resultados para as empresas e reiniciando o ciclo de aquecimento econômico.

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