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Vazio antecipado tem como objetivo reduzir a pressão da ferrugem em MT

Instrução Normativa emitida pela Sedraf e pelo Indea/MT ampliou Vazio Sanitário


A partir da safra 2014/15 o período do Vazio Sanitário estará ampliado de 90 para 138 dias, em Mato Grosso. A dilatação de 53% do período em que é proibido cultivar soja ou manter plantas vivas no solo, passa de 15 de junho a 15 de setembro, para a partir de 1º de maio. A data final segue a mesma.

A alteração, que vinha sendo discutida há alguns meses no Estado, foi confirmada por meio de Instrução Normativa publicada ontem pela Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf) e o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea). O documento, a IN 007/2014, trata de medidas fitossanitárias para prevenção e controle da ferrugem asiática, entres eles o novo período e proibição.

A dilatação do Vazio Sanitário é uma forma de conter a expansão da cultura da soja na segunda safra. O plantio sucessivo pode aumentar o risco de problemas fitossanitários como ferrugem, nematoídes e pragas como percevejos e lagartas, como argumentam especialistas. Dados, ainda estimados, apontam que em 2014 a área com safrinha de soja totalizou cerca de 100 mil hectares em Mato Grosso, a maior da história e quase três vezes superior à média.

O novo período ao Vazio Sanitário não ficou dentro do que a Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso (CDSV/Mapa) havia consensuado em uma reunião no dia 18 de agosto e nem atendeu às expectativas da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT). Na época o consenso na reunião, e que foi encaminhado ao Indea/MT, era dar início ao Vazio no dia 15 de abril. Para a entidade que representa os produtores, o ideal era que o início fosse antecipado em apenas 30 dias.

Como argumentou o coordenador da CDSV/Mapa, Wanderlei Dias Guerra, durante a reunião, a antecipação é uma forma clara de limitar a adesão dos produtores à safrinha de soja, porque a prática vai inviabilizar a produção do grão no Estado, já que aumenta a pressão de pragas e doenças no ambiente, e que passam de uma safra para outra, o que exige a utilização cada vez maior de defensivos. “Temos um uso indiscriminado de moléculas que vão perdendo a eficiência por serem sempre as mesmas, um grande aumento de custos e uma queda considerável de rendimento por hectare. Esse tripé de consequências não traz qualquer retorno financeiro ao produtor”, argumenta.

O maior argumento de que a safrinha aumenta a pressão do fungo causador da ferrugem asiática, Phakopsora pachyrhizi, conforme Dias Guerra, são os casos já confirmados de focos da doença na safra 2014/15, que mal cobriu 10% da área plantada e contabiliza seis casos em plantas voluntárias, aquelas que germinaram a partir de grãos perdidos em transporte e durante a colheita. Mesmo não sendo registros em lavoura comercial, esses casos são indicadores de que a doença está no campo. É apenas questão de tempo até atingir a safra.

DISCUSSÕES - A Aprosoja/MT, por meio da sua assessoria, disse ontem que discorda da ampliação do Vazio. O presidente, Ricardo Tomczyk, acredita que o ideal seria aumentar o fim do período para 30 de setembro para que diminua a janela do plantio, sem alterar a data de início. “A soja colhida antecipadamente acaba disseminando inóculos da ferrugem asiática para outras lavouras, quando não controlado corretamente”, argumenta.

Tomczyk reforça que a discussão está focada em uma pequena área de plantio de soja safrinha, que representa menos de 2% do total cultivado no Estado. “Estamos discutindo a eficiência de fungicidas e o impacto nas lavouras, mas os órgãos competentes tentam resolver um pequeno problema e deixam de fora 98% da área estadual”, destaca. A superfície da nova safra deve atingir 8,8 milhões de hectares.

Conforme a entidade, a direção reconhece que há problemas técnicos no manejo da safrinha de soja, mas ressalta que este período de Vazio Sanitário irá impactar fortemente no mercado de sementes. “Na safrinha há a produção de sementes salvas e isso é uma forma de regular o mercado, fato importante para o produtor”, diz Tomczyk.

Tomczyk reclama que o setor não foi ouvido adequadamente nesta discussão. “Só fomos convocados para votar sobre o período do Vazio, não nos chamaram para as discussões técnicas. Isso não é construtivo”. Ele informa que a entidade já esteve duas vezes reunida com o Indea/MT para tratar deste assunto. “A discussão precisa ser reaberta para chegarmos a um consenso”, frisa o presidente.

A Aprosoja/MT está consultando especialistas renomados de todo o país para a construção de pareceres técnicos e voltar à discussão do tema junto à CDSV. Além disso, também está em contato com entidades de outras cadeias produtivas para verificar o impacto da ampliação do Vazio Sanitário em outras culturas.

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