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Rejeição europeia aos transgênicos é “política”, diz especialista

Entrevista com diretora-executiva do CIB, Adriana Brondani



A Alemanha anunciou recentemente a proibição do cultivo de transgênicos, após a União Europeia liberar seus membros para decidirem individualmente sobre o tema. Para medir a importância e as repercussões dessa decisão, o Agrolink entrevistou com exclusividade uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, a diretora-executiva do
Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani. Confira:

Agrolink - Como o CIB recebeu e avalia a notícia de que a Alemanha é mais um país europeu a proibir o cultivo de transgênicos?

Adriana Brondani -
Historicamente, alguns países europeus são refratários ao cultivo de transgênicos, muito embora essas mesmas nações sejam importadoras desses produtos. A França é um exemplo desse comportamento pouco coerente. Isso significa dizer que esses países consideram os produtos seguros para consumo (uma vez que importam), mas não para cultivo (já que não plantam). Esse posicionamento não encontra nenhum respaldo nos mais de 20 anos de pesquisas com transgênicos financiados, inclusive, pela própria Comissão Europeia. 

Agrolink - Por que diversos países europeus têm ido nesse sentido?

Adriana Brondani -
Não há como saber ao certo as razões que levam o bloco a tomar essas decisões. Entretanto, dados econômicos e históricos nos levam a concluir que se tratam de questões políticas, não de biossegurança, muito embora essa possa ser a roupagem da mensagem. Com a pressão da opinião pública local, bastante contrária ao uso da biotecnologia na agricultura, os governantes eventualmente acabam aprovando o banimento dos cultivos transgênicos. Como a agricultura europeia é altamente subsidiada e muitos dos alimentos que são consumidos no continente são importados (e, diversas vezes, esses produtos são geneticamente modificados), a decisão de proibir o plantio não tem um impacto devastador na economia, embora tenha grande repercussão na opinião pública. Devemos nos lembrar também que, na corrida tecnológica pelo desenvolvimento de alimentos geneticamente modificados, a Europa, por uma série de razões, tem ficado para trás quando comparada a países como os Estados Unidos. Essas decisões podem também ter como objetivo reduzir o mercado dos produtos americanos. 

Agrolink - Existe falta de estudos ou pesquisas comprovando a segurança dos OGM na Europa?

Adriana Brondani - Não. Eu poderia citar estudos realizados em diversos países do mundo, mas vou preferir citar a própria Comissão Europeia como fonte, um balanço dos estudos financiados pela própria instituição na última década a respeito dos transgênicos. Segundo o levantamento divulgado pelo órgão científico que representa aquele bloco de países, a conclusão é que os transgênicos são tão seguros quanto suas variedades convencionais para a saúde e o meio ambiente. Dos 50 projetos de pesquisa apresentados na publicação, trabalhos que envolveram mais de 400 grupos de investigação científica, a principal conclusão é a de que “não há nenhuma evidência científica associando os OGMs a maiores riscos que as suas variedades convencionais”. 

Agrolink - Como essas proibições afetam outros países nos quais o cultivo de transgênicos é permitido?

Adriana Brondani - Esses países estão proibindo o cultivo, não a importação. Uma vez que a agricultura na Europa não é um setor que exporta commodities, como é o caso de Estados Unidos, Brasil e Argentina, por exemplo, essa é uma decisão que impacta muito mais a dinâmica do mercado interno. 


Agrolink - O que seria necessário para que a população (no Brasil e no mundo) entendesse de forma definitiva a segurança e a importância dos OGM na agricultura? 

Adriana Brondani - Ter acesso a informações técnicas e científicas em linguagem acessível. Ocorre que, com o advento das mídias online, qualquer declaração, falsa ou verdadeira, superficial ou altamente fundamentada, pode ganhar repercussão. Além disso, especialmente em temas que estão na fronteira do conhecimento, como é o caso da biotecnologia, é natural que as pessoas tenham um certo estranhamento. Por fim, há também o desafio de comunicar temas de alta complexidade em linguagem acessível. Ao unirmos esses fatores temos um terreno fértil para proliferação de boatos. Entretanto, o trabalho de informar corretamente a população sobre esses temas vem sendo feito e a imprensa deve ser uma aliada nesse processo de desconstrução de mitos.

Saiba mais

Adriana Brondani - diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, Adriana Brondani é bióloga, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também fez mestrado e doutorado. Tem um histórico de atividades acadêmicas como professora de graduação e mestrado em bioquímica e biologia molecular na Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS) e de pós-graduação na UFRGS e na PUC, Pontifícia Universidade Católica. Trabalhou no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e na Fundação Soad (Fundação de Pesquisas contra o Câncer), com linhas de investigação em câncer.

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