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Entrevista: “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”

Entrevista com o jornalista Nicholas Vital, que lançou o livro


O Portal Agrolink entrevistou o jornalista Nicholas Vital, que lançou o livro “Agradeça aos Agrotóxicos Por Estar Vivo”. De acordo com ele, o objetivo do livro é equilibrar o debate entre orgânicos e convencionais, dando um contraponto baseado na ciência. O autor ressalta que entrevistou mais de 50 especialistas e consultou outras dezenas de estudos ao longo dos últimos dois anos. Confira:

Agrolink – Porque devemos “agradecer aos agrotóxicos por estar vivo”?

Nicholas Vital – Porque sem eles não seria possível produzir alimentos em quantidade suficiente para uma população crescente. Os idealistas pregam uma volta às origens. Eles acreditam que a agricultura orgânica é capaz de alimentar o mundo, assim como era no tempo de nossos avós, e que por isso os agrotóxicos seriam dispensáveis. Só se esquecem que a população mundial atual é imensamente maior — passou de 3 bilhões em 1960 para 7,3 bilhões em 2016 — e seguirá crescendo nas próximas décadas. Em 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas, seremos 9,7 bilhões. Até 2100, a população mundial deve ultrapassar a marca de 11 bilhões de pessoas. Será que dá para alimentar toda essa gente apenas com orgânicos, cuja produtividade é comprovadamente menor? Eu tenho certeza que não.

Agrolink – Que dados e informações foram utilizados como base?

Nicholas Vital – A apuração do livro foi muito rigorosa. Ao longo de dois anos, mais de 50 especialistas foram entrevistados e outras dezenas de estudos foram utilizados para embasar a minha teoria. São mais de 30 páginas apenas com referências bibliográficas. É importante lembrar que eu não sou médico toxicologista nem engenheiro agrônomo, por isso decidi procurar os principais especialistas no assunto. A realidade, aos olhos da ciência, é bem diferente do que é dito na televisão.

Agrolink – Os orgânicos podem ser ainda mais perigosos que os produtos convencionais?

Nicholas Vital – Se produzidos conforme as boas práticas agrícolas, tanto orgânicos quanto convencionais são produtos totalmente seguros, que não oferecem qualquer risco ao consumidor. No entanto, quando produzidos de forma incorreta, ambos podem causar problemas. O que pouca gente sabe é que orgânicos também podem ser extremamente tóxicos. Milhares de casos de intoxicação são causados pelo consumo de produtos orgânicos, em grande parte devido ao uso intensivo de esterco animal como fertilizante. Brotos de feijão orgânicos também foram responsáveis por pelo menos 35 mortes e mais de 3 mil casos de intoxicação pela bactéria E. coli na Alemanha, em 2011

Agrolink – Como o medo é usado hoje em dia para ganhar mercado?

Nicholas Vital – O cenário de medo e desconhecimento, aliados a um tema delicado, como a alimentação, foram alguns dos fatores decisivos para o crescimento dos orgânicos nos últimos anos. Notícias de fontes duvidosas servem de munição para as conversas do dia-a-dia. O fato é que se não existisse um vilão (os agrotóxicos), não faria o menor sentido pagar até 300% mais pelos alimentos orgânicos. É evidente que existem interesses comerciais por trás dessa onda orgânica. Mas inúmeros estudos sérios mostram que não existe qualquer diferença, seja nutricional ou de sabor, entre os alimentos orgânicos e os convencionais. Isso é cientificamente comprovado. Segundo os especialistas,  é difícil diferenciar esses alimentos mesmo em laboratório. Outro mito diz respeito aos problemas de saúde causados pelos agrotóxicos. Não há, na história, registro de morte comprovadamente relacionada ao consumo de alimentos convencionais, por ingestão de resíduos. Também não houve aumento nos casos de câncer, apesar do uso intensivo de agrotóxicos nos últimos cinquenta anos. De acordo com a American Câncer Society, a incidência dos principais tipos da doença se manteve estável entre 1975 e 2009.

Agrolink – Como e por que surgiu essa ideia para o livro?

Nicholas Vital – Apesar do título polêmico, o conteúdo é muito ponderado, destacando também os riscos inerentes ao uso incorreto dos pesticidas. O objetivo do livro é equilibrar o debate entre orgânicos e convencionais, dando um contraponto baseado na ciência e não em achismos, como vemos atualmente. Hoje os orgânicos representam menos de 1% do mercado, mas mesmo assim existem grupos organizados que pedem o banimento dos defensivos químicos. Trata-se de uma ideia inconsequente, mas que devido à falta de informações que rebatam esse discurso (muito bonito, é preciso admitir), conta com o apoio de muita gente, especialmente entre a população urbana. 

 

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