O tema agrícola será central nas reuniões que o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Zoellick, terá amanhã e depois com ministros em Brasília. O assunto, que antes era de interesse quase que exclusivo de Brasil e Argentina, ganhou status diferenciado em Washington. Desde o fechamento do ano fiscal de 2002, os países latino-americanos passaram a ser considerados os mercados consumidores mais promissores para as exportações agrícolas norte-americanas.
No ano fiscal 2002, os países da região substituíram a Ásia como principal destino das exportações agrícolas e do agronegócio dos Estados Unidos. Os países da região importaram 38%, ou cerca de US$ 20 bilhões, do total vendido pelos EUA.
Na prática, esse novo destaque dado por Washington ao mercado consumidor da região fornece ao Brasil mais um elemento de barganha para forçar os EUA a reduzir seus subsídios à produção agrícola, a grande batalha brasileira nas negociações da Alca.
Em depoimento ao Senado, o subsecretário de serviços agrícolas estrangeiros do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, J. B. Penn, afirmou que não há outra saída para a agricultura norte-americana, a não ser as importações pelos os mercados emergentes, com destaque para a América Latina.
"Por isso, estamos perseguindo um agenda comercial ambiciosa, que inclui a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um acordo de livre comércio com o Chile e a consolidação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), entre EUA, Canadá e México", ressaltou.
Avaliar a capacidade produtiva
Penn informou que estará no Brasil, nesta semana, para avaliar em primeira mão a capacidade produtiva da agricultura brasileira. Fará parte da comitiva de Zoellick, que chega amanhã a Brasília para uma visita de dois dias e reuniões com os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim; da Agricultura, Roberto Rodrigues; do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan; e da Fazenda, Antonio Palocci.
"A vitalidade econômica da agricultura norte americana depende da habilidade de Washington em desenvolver e aperfeiçoar as oportunidades do mercado da região, sobretudo da classe média consumidora", reforçou o subsecretário ao Senado.
Ele lembrou que, além de consumidores, países como Canadá, Argentina e Brasil são grandes exportadores agrícolas. Tratando a competição por um ponto de vista mais positivo, Penn afirmou que esse fato torna os três países aliados de Washington nos esforços para reduzir o suporte da União Européia às exportações agrícolas.
No ano fiscal 2003, as exportações agrícolas dos Estados Unidos devem atingir US$ 57 bilhões. Esse comércio gerará ganhos indiretos de US$ 84 bilhões para a economia, com processos de colheita, empacotamento, armazenamento, transportes e marketing.
Mais assuntos em pauta
Os principais produtos exportados pelos Estados Unidos são: trigo (que sofre forte concorrência da Argentina para entrar no Mercosul), arroz, grãos brutos, oleaginosas, algodão e tabaco. Mas, nos últimos anos, as vendas de produtos de maior valor agregado, como carnes, aves, animais, peles, frutas e vegetais processados, além das bebidas, têm crescido rapidamente. No segmento do agronegócio, cada US$ 1 bilhão exportado gera US$ 1,4 bilhão em atividades não-ligadas à agricultura.
O embaixador Allen Johson, principal negociador dos EUA para a área Agrícola, informou, também em depoimento ao Senado, que Zoellick vai tratar, em Brasília, das recentes decisões do governo de banir novas plantações de transgênicos e de ordenar a rotulagem dos produtos modificados geneticamente. A questão do pagamento de royalties à Monsanto, pelo uso das sementes de soja transgênica no Rio Grande do Sul, também poderá fazer parte da agenda.