Dois dias antes da reunião de cúpula Estados Unidos-União Européia em Washington, o presidente norte-americano, George W. Bush, voltou a conclamar os europeus ontem a abandonar sua oposição aos alimentos geneticamente modificados, dizendo que essa postura está pondo vidas em risco no mundo em desenvolvimento.
Bush disse que a proibição da Europa a alimentos geneticamente modificados está levando produtores rurais do mundo em desenvolvimento a preterir sementes transgênicas devido a temores que seus produtos terão o acesso inderditado ao mercado europeu.
"Agindo com base em temores infundados, sem sustentação científica, muitos governos europeus barraram as importações de todos os novos produtos da biotecnologia. Devido a esses obstáculos artificiais, muitos países africanos evitam investir em biotecnologia, preocupados com a possibilidade de que seus produtos percam seu acesso a importantes mercados europeus.
Para o bem de um continente ameaçado pela fome, conclamamos os governos europeus a pôr fim a sua oposição à biotecnologia", disse George W. Bush em discurso proferido durante uma reunião de representantes do setor de biotecnologia.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos deixaram claro que levarão a proibição da União Européia aos alimentos geneticamente modificados à apreciação da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Ação "imoral"
Em Roma, poucas horas antes, William H. Lash III, secretário-assistente norte-americano de comércio para assuntos de acesso e cumprimento ao mercado, qualificou de "imoral" a proibição européia a alimentos transgênicos. Lash estava na Itália para conversações com o ministro das Relações Exteriores do país. A Itália vai assumir a presidência rotativa de seis meses da União Européia no mês que vem.
Os Estados Unidos estão dando prosseguimento a seu plano de levar a questão da moratória da Europa sobre alimentos transgênicos à Organização Mundial do Comércio (OMC), informou ontem um representante do governo americano.
A União Européia (UE) impôs uma moratória, em 1998, às importações de produtos agrícolas e de alimentos e cereais transgênicos por supostamente apresentarem uma ameaça à segurança dos consumidores. Funcionários do comércio exterior dos EUA apresentaram uma queixa à OMC para pressionar a Europa a abolir o veto imposto a estes organismos geneticamente modificados, os GMOs na sigla em inglês, argumentando que se trata de uma barreira comercial desleal.
"É importante não apenas por uma questão econômica, mas também por ser tratarem de barreiras comerciais", disse o secretário-assistente do comércio dos EUA. "O que realmente tem motivado os EUA é a moralidade, ou a imoralidade, da moratória dos GMOs", afirmou aos repórteres durante sua visita a Roma.
Vida ou morte
Nos países do Terceiro Mundo,
disse William H. Lash III, "as pessoas estão tomando decisões de vida ou de morte e recusando os GMOs que, nos últimos oito anos, tenho comido em meu país sem o menor problema".
Os cultivares transgênicos são comercializados há anos nos EUA, entre eles milho e soja geneticamente modificados a fim de resistir ao ataque de insetos e doenças. Os exportadores de produtos agrícolas americanos afirmam que a UE suspendeu compras anuais de milho transgênico no valor de cerca de US$ 300 milhões.
"É importante que este processo seja tratado na OMC e no tribunal da opinião pública para que finalmente a ciência sadia apresente uma declaração definitiva sobre este importante desafio".
As autoridades da UE insistem que não há motivo para iniciar procedimentos formais - e morosos - na OMC. O comissário do Comércio, Pascal Lamy, disse na semana passada que a moratória está gradualmente "se descongelando"
As autoridades da UE trabalham em torno de um sistema que lhes permita elaborar rótulos especiais para os alimentos transgênicos de forma que os consumidores europeus possam escolher se os comprarão ou não.
Falsificação de produtos
A moratória foi um dentre os inúmeros tópicos discutidos no encontro entre William H. Lash III e o chanceler italiano. Outras autoridades daquele país participaram das negociações. Também foram tratadas alternativas de combate à falsificação de produtos, além das relações comerciais bilaterais.
kicker: "Proibição aos transgênicos leva países pobres a decidirem sobre a vida e a morte"