As mudanças tecnológicas e as novas pressões competitivas vêm induzindo mudanças nos conceitos de produção. Os cenários futuros para o agronegócio nacional e regional convergem para uma agropecuária consciente, de demandas potenciais do tipo subsistência, transição e de mercado, com crescente sensibilidade ambiental, comprometida com a preservação dos recursos naturais, da biodiversidade e da melhoria da qualidade de vida. Ademais, deve ser competitiva, com qualidade e produtividade, tecnologicamente avançada, demandante de informações técnico-gerenciais e promotora de emprego e renda.
Nas últimas décadas, a pecuária de corte e leite tem experimentado um extraordinário crescimento na Amazônia. Atualmente, o rebanho da região é superior a 30 milhões de cabeças. Apesar de ser uma exploração típica de abertura de áreas da fronteira agrícola, a pecuária continua desempenhando papel de destaque na economia regional, já que outras atividades agrícolas - mais dependentes de capital e tecnologia, porém com maiores taxas de rentabilidade econômica - que normalmente a substituem no processo de consolidação do agronegócio, até o momento não lograram uma efetiva implementação. Neste contexto, as culturas industriais (café, dendê, seringueira, cacau, pimenta-do-reino, urucum), os cereais (milho, arroz, sorgo), as oleaginosas (soja, algodão, amendoim), a fruticultura (coco, acerola, abacaxi, banana, cupuaçu etc.), as palmáceas (açaí, pupunha) e as essências florestais (mogno, cerejeira, teca etc.), ainda participam de forma cíclica ou errática na geração de emprego e renda e na composição do produto interno bruto da Amazônia.
Diversos estudos indicam que a pecuária constitui uma das atividades economicamente sustentáveis na Amazônia, a qual pode ocupar um papel de destaque na incorporação de áreas já desmatadas ou degradadas ao processo produtivo. Apesar desse extraordinário desenvolvimento, a pecuária continua a mostrar baixos índices de produtividade e eficiência nas diversas etapas da cadeia produtiva. Até agora, a sua sustentabilidade econômica baseia-se em seu caráter extensivo, sendo previsto que a competitividade global determinará a necessária adoção de modelos mais intensivos de produção. Ao mesmo tempo, a pecuária constitui uma importante fonte de emprego e estabilidade de renda para o grupo familiar, particularmente nos casos de adição de valor agregado, como no caso da utilização dos subprodutos, tais como o couro e a produção de lácteos. Ademais, a pecuária apresenta grande liquidez econômica devido a produção diária de leite e a venda anual de animais.
A pecuária tem contribuído de forma significativa para o aumento da renda do produtor, além de uma apreciável geração de mão-de-obra e desenvolvimento do agronegócio. Entretanto, tem produzido um intenso debate quanto aos impactos negativos que a atividade tem ocasionado de forma direta ou indireta. Por um lado, se acusa a pecuária de acelerar o desmatamento da floresta e, por outro, uma degradação do meio ambiente, derivada da ação dos animais.
Para concepção de melhores níveis de sustentabilidade no desenvolvimento da Amazônia, o cenário desejável deve contemplar: desenvolvimento agropecuário e florestal, com o máximo possível de conservação de recursos naturais; redução de desmatamentos, com utilização das áreas já alteradas - para tanto já temos o zoneamento agroecológico e socioeconômico; agregação de valor ambiental nas atividades agropecuárias; aumento da intensificação da terra; aumento da eficiência de mão-de-obra, com a sua respectiva qualificação; desenvolvimento da agroindústria e bioindústria; verticalização do desenvolvimento agropecuário e florestal; e, principalmente, melhor distribuição de renda.
Também se deve considerar que as necessidades mundiais de proteína animal poderão aumentar significativamente nos próximos anos, especialmente na Ásia, devido a incorporação de novos consumidores e ao aumento da renda. Essa situação é particularmente favorável para os países que formam a Amazônia, dada a proximidade aos mercados consumidores – Estados Unidos, Europa e Ásia, além das novas rotas comerciais sendo estabelecidas com acesso ao Caribe, Pacífico e Atlântico.
Não se pode deixar de analisar os aspectos de segurança alimentar na pecuária, devido ao estabelecimento, cada vez mais estrito, de barreiras não alfandegárias que têm relação com a qualidade dos alimentos. Paralelamente, os governos nacionais ou locais devem implementar eficientes sistemas de controle e vigilância sanitária para impedir o avanço de doenças e pragas. Neste contexto, a pecuária estabelecida sob os ditames das Boas Práticas Agrícolas de Produção (leite orgânico, boi orgânico, boi verde, certificação ambiental etc.) poderá ter um diferencial competitivo, viabilizando a consolidação e/ou abertura de novos mercados.
O momento é de oportunidade para as instituições regionais geradoras de conhecimentos científicos e tecnológicos, devido a alguns fatores conjunturais e indutivos: apelo Amazônico cada vez mais relevante; demanda por conhecimentos para conservação, recuperação e manejo dos recursos naturais; novos cenários de desenvolvimento do agronegócio regional e a necessidade de mudança da base tecnológica; aumento da oferta de parcerias institucionais, nacionais e internacionais; e, possibilidades de ampliar os negócios tecnológicos como uma nova atividade no agronegócio regional.
Promover o desenvolvimento da pecuária em uma região notadamente reconhecida pela necessidade de preservação ambiental e possibilitar alternativas de produção, tecnologias sustentáveis e, ao mesmo tempo, levar em consideração as implicações sócio-econômicas e ambientais da execução da atividade nesse ecossistema, são desafios que só serão superados com a efetiva participação de todos os elos que compôem a cadea produtiva da pecuária.
Estamos convictos que este evento - Seminário Internacional para o Desenvolvimento Sustentável da Pecuária na Amazônia: produtividade com qualidade ambiental - representa um marco referencial para o realinhamento e fortalecimento das ações de pesquisa, desenvolvimento, fomento, extensão rural e ensino relativos ao Agronegócio da Pecuária na Amazônia, com a finalidade de implementar políticas públicas, mecanismos e instrumentos que permitam seu desenvolvimento sustentável através da geração de renda, emprego e qualidade ambiental.