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Produtores estimam maior colheita de trigo dos últimos dez anos



Agricultores estimam para esta safra produção de 4,5 milhões de toneladas, 50% a mais em relação ao ano anterior. Após uma década de preços baixos e problemas climáticos sem fim, o produtor de trigo tem o que comemorar. As cotações estão remuneradoras e por enquanto nenhuma geada forte e generalizada prejudicou as plantações. Por isso, o governo deve elevar hoje - em seu novo levantamento de safra - sua projeção para a safra nacional do grão, atualmente prevista em 4,5 milhões de toneladas. "A produtividade brasileira seguramente será superior a 2 mil quilos por hectare", diz Paulo Magno Rabelo, analista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A projeção anterior era de 1.960 quilos o hectare. Dessa forma, a safra deve se aproximar de 4,6 milhões de toneladas.

Os preços não estão tão elevados como no ano passado, quando a disparada do dólar, que chegou a R$ 3,80, deu um empurrãozinho ao mercado e a saca chegou a R$ 37. Mas mesmo aos preços atuais, de R$ 26,70 no norte do Paraná - ou 11% menores em relação a 2002 -, o trigo continua um bom negócio. "Com o mercado de milho ruim como está, sou mais o trigo neste inverno", diz Antonio Pedrini, agricultor que plantou 300 hectares de trigo em Maringá, norte do Paraná.

"Contrariando anos anteriores, quando historicamente o milho de safrinha é mais rentável que o trigo, neste ano as duas culturas estão praticamente empatadas", diz José Cícero Aderaldo, gerente de comercialização da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar). Estima-se que a lucratividade do milho de safrinha e do trigo estejam equivalentes, em quase R$ 380 o hectare colhido.

Na área de atuação da Cocamar, praticamente 90% da safra de 65 mil toneladas já foi colhida. Cerca de 15% da área cultivada foi afetada por chuvas na última semana, na fase final de colheita. "As chuvas podem ter afetado de 3% a 5% da produção da região", diz Aderaldo.

Pedrini, que encerrou sua colheita na segunda-feira desta semana, diz que o último lote de trigo veio germinado. "Foi um ano perfeito, sem geadas nem secas, com exceção da chuva no final da colheita", afirma.

Em todo o Brasil, 17% da área cultivada, estimada em 2,36 milhões de hectares, foi colhida, segundo a Safras & Mercado. Em São Paulo e no Mato Grosso do Sul os trabalhos já foram praticamente concluídos e a colheita no Paraná chega a 24%. "Ainda é cedo para comemorar uma safra recorde porque o Rio Grande do Sul sequer começou a colher e historicamente o estado é muito suscetível a ocorrência de geadas", diz Aldo Lobo, analista da Safras. Ele prevê que o Brasil produzirá 4,87 milhões de toneladas de trigo.

Paridade de importação

Para Rabelo, da Conab, os preços devem se manter firmes neste ano, graças à queda da produção mundial, ao aumento da demanda e à paridade de importação da Argentina, maior fornecedor de trigo do Brasil, com vendas de 5 milhões de toneladas. "Com a paridade a R$ 31 a saca, posto no norte do Paraná, ainda há muito espaço para os preços subirem internamente", diz.

Para Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, as chuvas no Paraná já estão afetando a qualidade do grão, o que deve resultar em preços mais baixos. Além disso, a colheita da safra argentina, que se inicia em novembro e é projetada em 14 milhões de toneladas, deve colocar pressão no mercado brasileiro. "Prova disso é que o preço na Argentina, que era de US$ 170 a tonelada (FOB), hoje é de US$ 158", diz.

Segundo Lawrence Pih, o agricultor tem uma pequena janela - de setembro a outubro, antes da colheita da Argentina - para comercializar sua safra. Ele diz que os moinhos brasileiros estão comprando apenas o estritamente necessário para rodar as máquinas.

Se os moinhos não têm pressa para comprar, o produtor tampouco tem pressa de vender. Capitalizado pela safra de soja, o triticultor paranaense acredita que o trigo colhido antes das chuvas deve receber um prêmio no mercado. E, por isso, deve esperar por preços melhores. Na região da Cocamar, por exemplo, entre 35% e 40% da safra foi comercializada, bem atrás dos 60% historicamente registrados nesta época do ano. "O meu sonho é vender a R$ 35. E vou levar minha aposta o mais longe que puder", diz Pedrini. Hoje a saca está cotada a R$ 26,70.

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