A maior alta no preço do arroz da história de Mato Grosso será a grande responsável pelo aumento do plantio na próxima safra. O preço da saca de 60 quilos está perto dos R$ 40, em relação aos R$ 19,50 registrados no mesmo período de 2002, aumento de 105%. A partir desse crescimento, a estimativa é de que a área a ser cultivada com o grão chegue em torno dos 500 mil hectares na safra 2003/04, que começa a ser plantada no mês de outubro. Assim, haverá aumento superior a 8% na área e a produção deve passar dos atuais 1,3 milhão de toneladas para mais de 1,4 milhão (+ 7,7%).
As razões que explicam a histórica alta do preço do arroz no Mato Grosso são basicamente a escassez e um gerenciamento da oferta feito ao longo do ano. O analista de mercado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Paulo Morceli, diz que "este ano o produtor guardou o arroz e foi vendendo aos poucos, o que garantiu os preços sempre em patamares superiores", afirma.
Pouco estoque
A técnica da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rosimeire Cristina, diz que mais de 95% da produção já foi comercializada e resta muito pouco estocado. Porém, uma grande produção para o ano que vem anuncia que deve ser pensada uma política de armazenagem e de escoamento. "Falta política de sustentação de preços", diz Rosimeire.
Neste ano, os produtores de Mato Grosso abasteceram o mercado com mais rapidez do que no passado. Tradicional fornecedor para o Nordeste do Brasil, grande parte da produção de arroz do Mato Grosso foi vendido para São Paulo em 2003. Isso provocou a necessidade de o Nordeste buscar arroz importado nos últimos meses do ano. Com a medida do governo que reduz impostos para importação entre primeiro de outubro e final de dezembro, 500 mil toneladas de arroz devem ser trazidos da Tailândia e do Vietnã para abastecer o mercado interno de diferentes regiões do País.
A concorrência entre o arroz do Rio Grande do Sul e o de Mato Grosso pelo mercado paulista se deu "de forma saudável", diz Morceli. Ele informa que o aumento no preço ocorreu em todo o Brasil mas, segundo o acompanhamento diário da Conab, a alta foi maior em Mato Grosso. Neste mês o arroz do estado subiu 16,8% ante alta de 4,5% no Rio Grande do Sul. Nas regiões gaúchas da Campanha, Fronteira Oeste e Depressão Central houve quebra na safra, estimada em 15%.
A quebra no Rio Grande do Sul foi provocada por perdas ocorridas em razão do excesso de chuvas durante o plantio e a colheita e o frio na época da floração. Em contrapartida, no Mato Grosso não houveram grandes problemas e ao final da safra, em abril de 2003, a produção era de 1,3 milhão de toneladas, com alta de 9% em relação à safra 2001/02, segundo dados da Famato. O aumento é explicado pelo preço em disparada devido à escassez, porque há alguns anos os produtores preferiam cultivar soja, por conta dos preços estimulados pela alta do dólar.
Preço histórico
"O atual preço do arroz é o melhor da história de Mato Grosso", afirma Rosimeire Cristina. Para Aldo Lobo, analista de Safras & Mercado, o fato de o arroz servir para abertura de terra, rotação de cultura, vai impulsionar ainda mais o aumento. A técnica da Famato calcula que, na previsão mais conservadora, a área vai subir 8% e chegar a 480,2 mil hectares, tendo com base 444 mil hectares plantados na safra 2002/03. Lobo diz que a elevação da área plantada para próxima safra é de 18%. Com base em 380 mil hectares plantados na última safra.
Em todo País, deverão ser cultivados 3,514 milhões de hectares, elevação de 8,7% em relação aos 3,232 milhões de hectares da safra anterior. Levando em consideração uma produtividade de 2,9 toneladas por hectare, a Safras & Mercado projeta produção de 1,305 milhão de toneladas para o Mato Grosso em 2003/04, em comparação a 1,075 milhão de toneladas na safra passada. No Brasil a produção deve atingir 11,696 milhões de toneladas na próxima safra, ante 10,572 milhões de toneladas em 2002/03.