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Expectativa de acumulados de chuva nos próximos meses

A ocorrência de pouca chuva favoreceu o avanço da colheita do arroz e da soja


Foto: Pixabay

Assim como em março, abril também registrou pouca chuva, agravando ainda mais a estiagem que atinge o Rio Grande do Sul (RS). Segundo a Defesa Civil, já são 375 cidades que decretaram situação de emergência, ou seja, 75% do total de municípios do Estado.

Na Zona Sul, Norte e parte da Campanha, os acumulados chegaram entre 50 e 100 milímetros. No entanto, nas demais regiões, os acumulados de precipitação não passaram de 50 mm (Figura 1A). Com isso, a anomalia de precipitação foi, mais uma vez, abaixo da média climatológica (Figura 1B).

A ocorrência de pouca chuva favoreceu o avanço da colheita do arroz e da soja, porém passou a preocupar outros setores, como a pecuária, devido à falta de chuva para o estabelecimento, a recuperação das pastagens e o abastecimento de alguns centros urbanos e rurais, devido ao baixo nível dos reservatórios.

As temperaturas mínimas ficaram dentro da normal climatológica, exceto na região da Campanha, que ficou entre -1,0 e -2,0 °C. Já as máximas ficaram acima da normal na maioria das regiões, com anomalias entre +1,0 e +3,0 °C.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

As condições oceânicas e atmosféricas continuam neutras, com viés positivo (Figura 2), pois a anomalia da Temperatura da Superfície do Mar na região do Niño3.4 esteve, em média, em +0,5 °C nos últimos cinco trimestres consecutivos móveis (OND, NDJ, DJF, JFM e FMA).

Agora você pode estar se perguntando: “Mas o fato de ter cinco trimestres consecutivos com anomalias superiores a +0,5 °C não configura um El Niño?” A resposta é sim. Mas, este é apenas um dos fatores que são levados em consideração. Para a determinação de um El Niño, outros itens precisam estar “acoplados” ao aquecimento no Pacífico.

Primeiro, esse aquecimento já ocorreu tarde, fora da época que um El Niño poderia causar maiores impactos e, além disso, o aquecimento não foi homogêneo em todas as regiões, sendo mais regular nas regiões Niño 3, 3.4 e 4.

Além disso, o aquecimento foi fraco e a região do Niño 1+2 oscilou entre períodos neutros, com anomalias negativas e positivas das águas (essa região traz maior regularidade para as chuvas no RS). Outro fator são as águas do Oceano Atlântico Sul, que estavam (e continuam) um pouco mais frias que o normal e podem estar interferindo no regime de chuvas.


Além disso tudo, esse aquecimento no Oceano Pacífico já está diminuindo. Alguns modelos climáticos já apontam para o resfriamento no Pacífico, ou seja, possivelmente continuará sob neutralidade, só que com viés negativo. Ainda não se pode dizer que haverá La Niña na próxima safra. Porém, o alerta para a irregularidade nas chuvas, com possibilidade de serem abaixo da média, se manterá ligado!

A temperatura das águas subsuperficiais está cada vez mais fria, isso reforça o que os modelos climáticos estão prevendo, que as águas irão se resfriar nos próximos meses. Contudo, o restante do outono e todo o inverno ocorrerão sob neutralidade climática.

O IRI (International Research Institute for Climate and Society) (Universidade de Columbia-EUA), prevê 64% de chance de a neutralidade continuar no trimestre junho, julho e agosto.

Previsão para a precipitação no trimestre junho, julho e agosto de 2020

Em maio, as projeções indicavam chuvas abaixo da média. Agora, com as recentes chuvas, é possível que a Metade Oeste do Estado fique com anomalias positivas de precipitação. Isso demonstra um erro na previsão, mas, ao mesmo tempo, é uma excelente notícia. Para o próximo trimestre, as simulações do modelo CFSv2 (Climate Forecast System), da NOAA (Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia), têm sinalizado condições com mais chuva. Confira a previsão para os próximos três meses:

Junho: tanto as simulações antigas quanto as mais recentes mostram que a precipitação ficará acima da média climatológica. As anomalias de precipitação previstas variam entre +20 e +30 mm.
Julho: as simulações antigas oscilavam bastante. Agora, nas últimas atualizações, o modelo CFSv2 tem mostrado que as chuvas devem ficar acima da média climatológica. As anomalias de precipitação previstas variam entre +30 e +50 mm.
Agosto: as simulações antigas sinalizavam que o mês seria de chuvas abaixo da média. Nas simulações mais recentes, as projeções de precipitação têm oscilado entre valores dentro da média.
Essas oscilações nas previsões de precipitação para o mês são normais, visto que estamos em um período de neutralidade climática, que significa irregularidade na precipitação. Ou seja, haverá momentos com chuvas mais frequentes e fortes e momentos sem ocorrência de chuvas.

Os mapas com as normais climatológicas da precipitação em junho (A), julho (B) e agosto (C) dão uma ideia de como é a sua distribuição no RS (Figura 3). Através dos mapas, observa-se que os menores acumulados ocorrem na Fronteira Oeste, na Campanha e na Zona Sul. Já os mapas D, E e F são uma ilustração de qual deverá ser o padrão das chuvas, se acima, abaixo ou dentro da normal climatológica. Essa ilustração foi com base no padrão predominante das últimas atualizações do modelo CFSv2.

De maneira geral, no decorrer de maio observou-se que o corredor de umidade, que vem da região Amazônica e da Cordilheira dos Andes, voltou a se posicionar para o Sul do Brasil, favorecendo assim, as chuvas no RS. É fato o aumento na frequência e nos volumes de precipitação ao longo desse mês. Para junho e julho é esperado que este cenário seja predominante.

Além disso, durante os meses de inverno, há menor radiação solar, menores temperaturas e umidade relativa do ar mais alta, que favorecem a menor evaporação da água do solo. Com isso, haverá aumento do acúmulo de água pelo solo e pelos reservatórios. Para agosto, as previsões ainda estão oscilando e é necessário ver como os fatores oceânicos e atmosféricos irão se comportar, para, assim, ter-se uma previsão mais assertiva.

A grande questão é se as chuvas serão suficientes para repor o nível dos reservatórios. Essa questão é bastante delicada, pois depende da área de captação do reservatório e do seu tamanho. Suponhamos que vai chover exatamente o valor da normal climatológica da precipitação, nos municípios de Uruguaiana, Bagé e Santa Maria nos meses de maio, junho, julho e agosto. O somatório dos quatro meses para cada um dos três locais seria de 324 mm, 521 mm e 573 mm, respectivamente. Ou seja, provavelmente isto não seja suficiente para repor o nível dos reservatórios e seria necessário chover acima do normal nestes quatro meses.

Você sabia que a pandemia está afetando as observações e a previsão do tempo?

Segundo a OMM (Organização Meteorológica Mundial – WMO, na sigla em inglês), a pandemia do Covid-19 está causando crescente impacto na quantidade e na qualidade das observações e previsões do tempo, bem como no monitoramento da atmosfera e do clima (Figura 4).

As medições meteorológicas realizadas em aeronaves caíram, em média 75 a 80%, em comparação com o normal, mas com variações regionais muito grandes. No Hemisfério Sul, por exemplo, a perda está próxima de 90%. As observações meteorológicas da superfície estão em declínio, especialmente na África e em partes da América Central e do Sul, onde muitas estações são manuais (quando uma pessoa precisa ir fazer a medição da temperatura de quanto choveu e, assim, por diante) e não automáticas, sendo afetadas por bloqueios e teletrabalho obrigatório.

Grande parte do sistema de observação global, como por exemplo, componentes de satélite e muitas redes de observação terrestres, é parcial ou totalmente automatizada e, portanto, continua a funcionar sem degradação significativa.

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