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Sojicultor de Goiás combate fogo com avião

O tempo seco, que já dura cerca de 120 dias no quarto produtor de soja do Brasil, favoreceu a ocorrência de incêndios no Estado no inverno


Produtores de soja de Goiás estão liberados pelas normas fitossanitárias para plantar a partir desta quarta-feira, mas ainda aguardam chuvas para iniciar os trabalhos, precipitações essas previstas para os próximos dias que também poderiam ajudar no combate a focos de incêndio no Estado.

O tempo seco, que já dura cerca de 120 dias no quarto produtor de soja do Brasil, favoreceu a ocorrência de incêndios no Estado no inverno, o que levou agricultores a ampliarem os esforços para combater o fogo, inclusive com a utilização de uma brigada aérea, com até cinco aviões em alguns momentos.

Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), diferentemente do que alguns imaginam, o produtor rural não é o “vilão” das queimadas, mas sim um dos agentes mais prejudicados, já que o fogo queima a palhada, fundamental para a prática do plantio direto, que garante a umidade do solo, entre outros benefícios agronômicos.

“Estamos torcendo por chuvas para refrescar o ambiente, para dar uma acalmada nos incêndios, e também para poder realizar o plantio”, disse à Reuters o presidente da Aprosoja-GO, Adriano Barzotto, por telefone, nesta quarta-feira.

Enquanto as chuvas de primavera não se regularizam, algo esperado apenas para meados de outubro, o setor segue atento no combate aos incêndios. Em setembro deste ano, até o dia 25, os focos de incêndio em Goiás chegaram a mais de 4.038, enquanto no mesmo mês inteiro em 2018 foram detectados 1.070 no Estado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Os produtores integrantes da brigada contra incêndio trocam mensagens em grupos de aplicativos de mensagens instantâneas, para iniciar o combate o mais breve possível, contou o presidente da Aprosoja-GO.

Enquanto mobilizam trator com grade e caminhão pipa contra os incêndios, a brigada aérea, que ganhou reforço este ano após estrear em 2018, é acionada para deslocar as aeronaves.

Cada avião agrícola, que normalmente atua na aplicação de defensivos, mas que na época da entressafra fica ocioso, consegue despejar 700 litros de água nos incêndios, facilitando os trabalhos da brigada terrestre.

Segundo a associação, o trabalho tem feito a diferença na região. “Fica muito mais rápido, os focos de incêndio sempre acontecem, é uma garrafa, uma tampinha deixada na beira da estrada, que gera o fogo. O que estamos observando é que, com a brigada aérea, a extensão do dano é muito menor.”

Segundo a Aprosoja, antes, os focos de incêndio chegavam a queimar até 1.000 hectares de palhada e reserva ambiental, o que não mais tem acontecido.

Barzotto comentou que a iniciativa já chamou a atenção de produtores de outros Estados, como Bahia, Tocantins e Mato Grosso, que procuraram a Aprosoja de Goiás para obter mais informações. “Provavelmente, no ano que vem, teremos mais brigadas áreas.”

Somente nos meses de julho e agosto a empresa Aerotex Aviação Agrícola, que fornece os aviões para a brigada aérea, fez cerca de 80 horas de voo e 400 lançamentos de água para combater incêndios no Estado.

Em setembro, com o tempo mais seco e quente, o trabalho se intensificou: foram 82 horas de voo até o momento, ante 30 horas no mesmo mês do ano passado.

Com a esperada chegada das chuvas em outubro, a expectativa é de que os produtores possam voltar suas atenções para a atividade principal, ampliando a área plantada de soja na safra 2019/20 em 3% ante a passada, disse o presidente da Aprosoja. Segundo ele, se o clima favorecer, Goiás tem potencial de produzir 12 milhões de toneladas, ante 10,5 milhões na temporada anterior.

Neste ano, pela primeira vez, o vazio fitossanitário contra o fungo da ferrugem terminou mais cedo, com produtores podendo iniciar os trabalhos já em 25 de setembro, versus 1º de outubro, anteriormente. A mudança deixa o calendário goiano mais próximo dos Estados vizinhos.

PROJETO SOLIDÁRIO
De acordo com a Aprosoja, produtores rateiam o custeio de manutenção dos aviões e de salários dos pilotos e técnicos. Quem aciona a brigada aérea é responsável por pagar as horas de voo, mas os vizinhos acabam compartilhando esse custo porque sabem que o fogo descontrolado pode alcançar suas fazendas.

Conforme o presidente da Aprosoja, do total pago pelos produtores, 50% custeia a operação dos aviões e o restante é destinado para atividades assistenciais, em uma forma de envolver as comunidades. No final de agosto, duas delas receberam um total de 60 mil reais, segundo a Aprosoja.

“São inúmeros os benefícios de se ter uma brigada aérea em funcionamento. Primeiro, manter a preservação do meio ambiente... outra vantagem da brigada é a integração entre os produtores e o lado filantrópico”, destacou Barzotto.

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