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Falta de chuvas pode atrapalhar plantio de grãos no Centro-Oeste



O plantio da safra brasileira de grãos 2003/04 começa no início de outubro porém o clima não deve ser 100% favorável aos trabalhos, de acordo com meteorologistas. A situação promete ser mais delicada justamente no Centro-Oeste, região responsável por 30,4% da safra nacional, estimada em 121 milhões de toneladas. "Neste ano não teremos a presença do El Niño nem da La Niña, porém isso não quer dizer que teremos condições climáticas ideais", diz Expedito Rebello, chefe da Divisão de Meteorologia Aplicada do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

No Centro-Oeste, os produtores estão só esperando a ocorrência das chuvas habituais do início da estação das águas para passar as máquinas e começar o plantio. "Os estudos indicam que em outubro as precipitações serão pouco freqüentes e o clima será sujeito a "veranicos", ou seja, períodos de sete a quinze dias de seca", afirma Rebello. Ele acredita que a soja será pouco afetada. "Existem variedades de soja muito resistentes à falta de umidade no solo. Por isso, o impacto sobre as lavouras de soja deve ser muito localizado", afirma o meteorologista.

O mesmo não se pode dizer do milho. "Dependendo da fase de desenvolvimento, se o milho ficar quinze dias sem água pode ser duramente prejudicado", diz Rebello. "Quando chover, o agricultor deve plantar logo, porque a próxima chuva pode demorar a acontecer", afirma o meteorologista, que estima que o regime de chuvas só deve se normalizar em novembro e dezembro.

Para o meteorologista Christopher Cunningham, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), há 35% de chances de que as chuvas sejam em quantidade abaixo da média histórica entre os meses de outubro e dezembro no Centro-Oeste do País. Historicamente, no trimestre as precipitações são de 800 milímetros a 1.000 milímetros para o Mato Grosso. "Não há como dizer se as chuvas serão em volume muito menor ou não em relação à média histórica", diz Cunningham. A média histórica de chuvas se refere aos anos de 1961 a 1990 e foi calculada pelos técnicos do Inmet.

No Sul do País, responsável por 47,1% da produção brasileira de grãos, a situação hoje é crítica com a falta de chuvas, porém as precipitações devem chegar bem a tempo para o plantio de grãos, que começa em novembro. Atualmente, a ausência de chuvas é favorável à colheita de trigo no Sul e Sudeste do Brasil. O clima deve se manter seco até o final de outubro, quando o regime de chuvas se normalizará.

A estiagem que atualmente prevalece sobre o Sul e Sudeste do País constitui uma ameaça às pastagens e às lavouras de café e cana-de-açúcar. Nas áreas produtoras de café não chove desde julho. "As temperaturas estão elevadas e podem afetar a florada do café", diz Rebello. A região Sul vem sofrendo com uma barreira que não deixa as frentes frias entrarem. As poucas frentes frias que conseguem vencer a barreira só têm força para ir até o Rio Grande do Sul, e poucas chegam até o Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Essa barreira só deve perder força no final de outubro e as chuvas só devem se normalizar entre novembro e dezembro.

Na região Nordeste, o clima também está seco. As chuvas que historicamente ocorrem entre os meses de janeiro e maio foram esparsas e localizadas, deixando baixos os índices de umidade do solo. Por isso, a estiagem que comumente ocorre no inverno acabou tendo seu impacto ampliado. As precipitações, no entanto, só devem voltar a ocorrer em novembro localizadamente, no sul do Piauí, sul do Maranhão e oeste da Bahia. As demais áreas só verão chuvas a partir de dezembro.

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