A China Popular, que necessitará importar 30 milhões de toneladas de soja ano que vem, negocia com o governo do Paraná a modernização do porto de Paranaguá com o objetivo de aumentar em 100% os embarques de soja ano que vem. A movimentação para aquele país, da ordem de 3 milhões de toneladas este ano, deverá aumentar para 6 milhões/t pelo menos.
Até o final do ano os embarques totais de soja via Paranaguá deverão atingir a 6 milhões/t para países da União Européia, Japão e para a própria China. Os embarques de farelo de soja atingiram 4 mil/t e de óleo, para o Oriente Médio, 500 mil/t.
As negociações, ainda em andamento, segundo o superintendente do porto, Eduardo Requião, prevêem o pagamento das tarifas cobradas pela administração do porto com equipamentos portuários chineses, como "ship loaders" (carregadores de commodities para navios), transponders e guindastes especializados, "tanto quanto pudermos nos comprometer em soja embarcada". Segundo Requião, a tonelada embarcada de soja pelo porto de Paranaguá custa US$ 2,50, sem contar as tarifas cobradas pelos operadores privados (US$ 2,00/t) que não entram nas negociações.
"Com esses equipamentos novos e equipes treinadas em 2004 poderemos dobrar de 51 mil toneladas diárias para 100 mil t/dia o embarque de soja", disse Requião. A única exigência chinesa é a garantia de que a soja paranaense tenha certificado de qualidade. Em relação a esse item das negociações, o superintendente explicou que a Empresa Paranaense de Classificação de Produtos (Claspar), especializada em análise de qualidade de grãos, terá de receber investimentos, para ampliar o seu quadro técnico.
A Claspar, segundo dados divulgados na última quinta-feira pelo porto, apreendeu este ano 3.200 caminhões e 250 vagões ferroviários carregados de soja "batizada" com produtos estranhos diversos. Para ser ter uma idéia somente do significado das apreensões, à época em que há fila de veículos no porto, 1.200 caminhões parados, em fila, chegam aos arredores de Curitiba. "Ou seja, poderíamos formar uma fila tripla de caminhões nos 100 quilômetros de distância entre Curitiba e o porto", disse o superintendente.
Soja transgênica
Eduardo Requião destaca ainda que, embora os chineses adquiram soja transgênica de vários países, não haverá embarques de soja transgênica nos terminais de Paranaguá para a China e nenhum outro pais, simplesmente porque o Paraná não produz o grão geneticamente modificado e a atual superintendência do porto quer se destacar por proibir embarques de transgênicos.
A Assembléia Legislativa paranaense, disse ainda Requião, já aprovou, em primeiro turno, projeto de lei proibindo a exportação de soja geneticamente modificada. "Os chineses sabem disso, porque nossos investimentos em qualidade já foram noticiados em boletins internacionais e pela própria agência Reuters, sem contar com informes diretos da Bolsa de Chicago, o que possibilitou os primeiros contatos".
O especialista Seneri Paludo, da Agência Rural, explicou ontem que os chineses realmente adquirem soja geneticamente modificada, mas tendo conhecimento prévio disso. Segundo ele, a propaganda brasileira no exterior vende a imagem de que o país não produz transgênicos, mas que já foram detectados embarques deste tipo de produto, principalmente via portos gaúchos. Para Paludo, é "perfeitamente" possível garantir as exportações de soja com certificado de qualidade. Fontes da Secretaria de Agricultura do Paraná informaram a este jornal que empresas exportadoras de grãos de Paranaguá acompanham de perto as negociações do governo estadual e da superintendência do porto de Paranaguá com a China. "As cooperativas paranaenses e o governo brasileiro têm interesse em aumentar nossas exportações de soja, que exigem a redução dos gargalos atuais existentes, principalmente na logística de transporte", afirmou.