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A China e Seus Problemas Sociais


Argemiro Luís Brum
China, a partir do momento em que ingressou na economia de mercado, em meados dos anos de 1980, passou a conquistar rapidamente espaço comercial mundo afora. Desde então um dos seus grandes trunfos, e motivo de fortes acusações internacionais, é de que seus produtos conquistam espaços por obterem competitividade graças à forte exploração de sua mãode- obra. Os países industrializados, nas negociações da Organização Mundial do Comércio, chegaram a cunhar a expressão “dumping social” para caracterizar esse tipo de ação. Pois bem, desde maio passado a China está às voltas com fortes manifestações de operários de suas diferentes fábricas, inclusive nas transnacionais lá instaladas, que reclamam melhores condições de trabalho e aumentos salariais. Certo número de assalariados chega ao extremo de se suicidar diante da situação em que vive (11 operários teriam optado por este caminho nos primeiros cinco meses do ano, apenas na empresa Foxconn, que trabalha para a Apple na montagem de iPhones). Outra empresa atingida é a japonesa Honda, que se viu obrigada a paralisar suas quatro fábricas na China por falta de peças (caixas de câmbio) devido a greve de seus assalariados chineses. Uma das empresas é co-gerida juntamente com duas empresas estatais chinesas, sendo que a produção total da empresa japonesa teria crescido 38% nos primeiros cinco meses de 2010, alcançando 650.000 unidades. Seu objetivo é atingir 830.000 unidades em 2012. Tais números dão a dimensão dos prejuízos gerados pelas greves, que aumentam a cada ano mesmo não sendo previstas pela Constituição ditatorial chinesa. O que surpreende nisso tudo é que raramente ocorrem movimentos grevistas junto a montadoras de automóveis na China. Ou seja, algo de importante está ocorrendo naquele país no momento.

A China e Seus Problemas Sociais (II)

Uma das principais reivindicações dos grevistas é o aumento salarial. Afinal, segundo um dos operários entrevistado pelo Cotidiano do Povo, o salário de base é de apenas 1.211 yuans (equivalente a R$ 244,20). Ora, os gastos com aluguel, alimentação e despesas correntes permitem que o trabalhador chinês consiga poupar menos do que R$ 100,00 mensais (o que para os padrões brasileiros é muito). Assim, a demanda dos operários é um aumento salarial entre 500 e 1.000 yuans por mês. Ou seja, o maior país comunista do mundo se vê às voltas com a necessidade de melhor redistribuir sua riqueza. Afinal, segundo recente editorial do China Daily, no primeiro trimestre de 2010 a renda cresceu 9,7% no setor urbano e 16,3% no setor rural. Um ritmo considerado muito lento em relação aos ganhos das empresas, sejam elas transnacionais ou estatais. Para complicar as coisas, em função de sua política de natalidade do “filho único”, o número de pessoas entre 15 e 24 anos que chega ao mercado de trabalho passará de 227 milhões de indivíduos em 2010 para 150 milhões em 2024. Diante disso, o excedente de mão-de-obra barata se esgotará e a China, para manter seu sistema produtivo, terá necessariamente que aumentar os salários de seus operários em todos os setores. Para a economia chinesa, que vem crescendo fortemente nos últimos anos, tal situação é mais do que perigosa, pois tende a alimentar um processo inflacionário já presente no país. Ao mesmo tempo, se as reivindicações forem aceitas, os custos de produção aumentarão na China, podendo retirar competitividade dos produtos exportados, favorecendo as indústrias do resto do mundo e particularmente setores específicos no Brasil. Isso igualmente poderá servir de justificativa para o governo chinês adiar a valorização de sua moeda, anunciada há poucas semanas.

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