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INFLAÇÃO DO FEIJÃO: "Mentiras, Despreparos ou Desinteresses"


Climaco Cezar de Souza
1)    INTRODUÇÃO
Inicialmente, informo que meu objetivo neste artigo não é desincentivar o cultivo e o desabastecimento de Feijão, em especial, da próxima safra irrigada, mas mostrar aos leitores do Agrolink que o Feijão precisa e merece ter uma política séria de incentivos em longo prazo no tocante às produções e estocagens corretas e suficientes e, sobretudo, de pesquisas reais para combate às muitíssimas pragas e doenças que dizimam e/ou encarecem a atividade e, sobretudo, para a disponibilização em curto prazo de cultivares bem mais resistentes e nem tão dependentes de irrigação ou de chuvas.
Isto foi feito plena e até rapidamente para a Soja, Milho e Algodão nos últimos anos, todas na maioria  exportáveis, iniciando, sem duvidas, pela EMBRAPA e mais, recente, talvez a maior parte pelas multis, embora a EMBRAPA não aceite muito tal crítica construtiva. Nos últimos 5 anos, a EMBRAPA e algumas Estaduais também estão fazendo boas pesquisa para os cultivos e bons resultados da Mandioca, Girassol e o Sorgo. Apenas, nossos Feijão e Trigo de cerrados, de cada dia, pouco evoluem, pouco recebem ou quase nada são, realmente, priorizados.
Em meu artigo anterior neste mesmo site sobre o Feijão no Mundo – descritivo a seguir e link ao final - o Feijão é classificado pelos médicos e nutricionistas de elevado conhecimento e renome internacional como um dos alimentos mais completos do Mundo, inclusive com plenas recomendações para seus usos em dietas hipocalóricas (baixa energia), altamente alimentícias e por baixíssimo valor. 
No Brasil, a preocupação do Governo com o Feijão e a alimentação do povo pobre parece que é tão elevada (sic) que, recente até se extinguiu o MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário (o que, realmente, mais incentivava as produções para consumo interno) e também até desativou, temporariamente, a Secretaria de Produção Rural do MAPA em 2015.
Esta novela de desabastecimento de feijão e de “inflação do feijão” já roda há muitos anos e quando os preços caírem proximamente (com a possível ampliação da nova safra, incentivada apenas pelos elevados preços atuais), em mais 60 dias, ninguém mais se lembrará da crise atual e que até já se tornou rotineira.
O quase completo desabastecimento atual foi anunciado e é esperado há uns 5 anos pela CONAB e sem nada a SPA/MAPA fazer de real para contê-lo ou minimizá-lo. Houve seguidas quedas produtivas e dos estoques sem nenhuma ação proativa ou real dos Governos.
O POVO POBRE É QUE SE VIRE E QUE ESPERE A NOVA CRISE DE DESABASTECIMENTO.
Assim, neste artigo, acho que perceberás que só não há Feijão para plena alimentação de boa qualidade do pobre brasileiro, porque o Governo, as empresas multinacionais e boa parte das Cooperativas (até ditas familiares) pouco ou não nada se importam efetivamente com isto.
Quando, e se, realmente, quiser ofertar muito mais Feijão para o povo pobre, o Governo tem que colaborar para reduzir os custos com agroquímicos e fertilizantes; idem para reduzi as elevadas perdas; idem para mudar e melhorar os processos de armazenagens (na CONAB ou em cooperativas sérias) e, principalmente, em exigir da EMBRAPA e das muitas multinacionais de sementes bem maior dedicação às pesquisas de novas variedades micro-regionais de feijão seco (a maioria no Brasil) e também de feijão molhado (verde ou macassar). Seria até recomendável vincular as maiores produções de sementes de soja, milho e algodão pelas multis à maior pesquisa e disponibilidade imediata pelas mesmas de novas cultivares, realmente, melhoradas de feijão para os agricultores. Há muitas formas de uma Política Agrícola bem intencionada para se conseguir ou se obter isto.
Está mais do que provado que, se a SPA/MAPA utilizar apenas a velha e caduca política agrícola “chiclete” de elevar ou de manter/reduzir os Preços Mínimos a cada safra, pouco ou nada funcionará bem para o Feijão em curto e médio prazo e até poderá colaborar para seu desabastecimento em longo prazo, como ocorre e se comprova no momento, por seguidos erros nos últimos 7 anos.
Por outro lado, sinceramente, Sr. Agricultor, você plantaria Feijão nas condições apontadas ao final e que o Governo insiste em manter ou parece que tenta tapear o povo, via imprensa?
Por outro lado, todos sabem que a atual Política Agrícola do Governo para Preços Mínimos (mais de Opções/PEP/VEP, Compras Diretas mais de PROAGRO ou de Seguros pelas Seguradoras Agrícolas credenciadas/apoiadas pelo MAPA ou de Seguro Agrícola Familiar (ex-MDA)) é muito lenta, burocratizada, irreal e até injusta e prejudicial para os agricultores (indução de uma falsa ilusão de renda agrícola positiva em longo prazo).
Segundo algumas poucas entidades representativas sérias (não aquelas que cobram contribuições, mas depois tapeiam seus sócios e vivem de shows e de almoços) mais algumas cooperativas e, principalmente, consultores e professores sérios, a atual Política agrícola para a Agricultura Familiar e alguns casos de Agricultura Empresarial assemelha-se a uma seguida BOLSA FAMÍLIA rural concedida às famílias e aos trabalhadores rurais APENAS PARA MANTÊ-LOS NO CAMPO E LONGE DAS GRANDES CIDADES E DO POVO URBANO.
Para muitos técnicos apolíticos, a atual Política Agrícola governamental de Preços Mínimos (PGPM) se baseia mais em pagar, se possível de forma ibopeana, algum valor ao agricultor, mas somente no ultimo momento (esperando que os agricultores desistam ou que abasteçam o mercado especulativo por preços bem menores que os custos). Também, diversos afirmam que a atual PGPM mais a política de Seguros Rurais (empresarial e familiar) visam mais a proteger os financiamentos, os bancos e as multinacionais de insumos (também com altíssimos lucros para as seguradoras) do que os agricultores reais, de qualquer porte, só que ninguém mais quer se sujeitar a isto plenamente (ou seja, a PGPM mais os Seguros podem não funcionar mais como indutores e incentivadores de cultivos emergenciais para abastecimento interno, pois os agricultores e trabalhadores cansaram).
A cada ano, é verdade, as safras e as produções de alimentos processados ampliam muito, mas só que ninguém diz a que custo isto ocorre, inclusive pelo lado ambiental.
Todos sabem que para garantir suas rendas liquidas necessárias as suas famílias, os agricultores – de qualquer porte - sempre procuram reduzir seus custos (até o ponto de nivelamento com a produtividade mínima necessária, fato que cada agricultor conhece bem e sabe de cor por cultivo e propriedade) ou procuram ampliar suas áreas a plantar e para onde levam seus filhos, sócios ou parentes.
Isto é o que ocorre no momento com a corrida para a compra intensiva de terras ainda baratas para a abertura de novas fazendas na nova fronteira agrícola do MAPITOBA e outras como no sul e sudoeste do PA; oeste do TO; sul, nordeste e centro de RO, áreas não indígenas de RR etc..
Ocorre que poucos se lembram ou falam que para trás desta até “aplaudida” expansão, “com ouro de tolo” (também propiciada pelas novas tecnologias e cultivares adaptados) já ficaram quase 150 milhões de hectares de terras rurais muito degradadas no Centro-Sul e Centro-Oeste do Pais. Por outro lado, sabe-se que em pouco tempo estas novas fronteiras se tornarão escassas, custosas e também muito degradadas (boa parte delas tem alto ou altíssimo teor de areia). Afinal, de qualquer forma, nesta expansão desordenada de “ouro de tolo”, recuperar uma terra já degradada fica muito e muito mais caro do que comprar e abrir uma nova terra agrícola, mesmo que distante da original.
Apenas a nova técnica de ILPF - Integração Lavoura Pecuária Floresta (ainda muito custosa e que depende de muito financiamento e incentivo real) da EMBRAPA (por pura obstinação e até devoção do pesquisador ucraniano, Sr. João K) pode mudar algo em médio e longo prazo, ao, realmente, ampliar a renda liquida de cada imóvel e propiciando fixar, ou re-fixar, alguns produtores rurais em seus espaços originais. Contudo....
Assim, na prática corrente e que poucos falam, o agricultor empresarial atual do Centro-Sul, Centro-Oeste e até do oeste da BA jura que é melhor vender uma terra degradada para criadores - para uso apenas por uma pecuária de baixos resultados - e comprar terras novas na nova fronteira do que gastar muito para recuperá-las. Só que, sem entrar no mérito, ele certamente, fará o mesmo com as novas terras compradas e abertas no MAPITOBA e em outras regiões (boa parte por desconhecimentos ou por falta de uma Política Agrícola real que proteja e até amplie sua renda agrícola liquida anual em longo prazo mais que garanta e promova a independência financeira de sua família).
Pensando bem, farias diferente nesta situação? (sempre lembrando que é o agricultor quem fica com todo o risco climático mais de pragas, doenças, de oscilações de preços de vendas e de custos dos insumos e fatores e, agora, até de assaltos, roubos e mortes).
Só que esta Política Agrícola Governamental, que induz a tal comportamento de visão “pessoal” até agressiva e degradante, é suicida, pois vai custar muito para o País e o seu povo (e às famílias dos próprios agricultores degradantes) em médio e longo prazo.
Ficaria bem mais barato para os Governos e para o povo garantirem, anualmente, a renda liquida local efetiva e não via tentativas pela PGPM ou pela atual política de seguros produtivos (apenas favoráveis às seguradoras, empresas de insumos e bancos).
Para tanto, seria necessário apenas descer realmente do pedestal, deixar as mordomias dos gabinetes e ir até as universidades agrárias, idem a algumas Consultorias ou Cooperativas sérias (realmente nacionalistas, desenvolvimentistas, justas e não protetoras de bancos, seguradoras, multis etc..) e, sobretudo, aos locais de produção, tudo para se estabelecer, urgente, uma boa, progressiva e real política de Seguro de Renda e de Fundos Garantidores mais Fundos de Catástrofes, como se faz nos EUA e em outros países. Todos – sobretudo nos Governos, Congresso e Cooperativas -  citam que querem e que sabem como fazer, mas quase ninguém levanta um dedo para tanto.
Só eu já construí e apresentei ao Governo Federal, Congressistas e Entidades agrícolas (ditas representativas) duas propostas de Seguro de Renda barato, realista, executável e a favor dos agricultores E SEM COPIAR MODELOS DOS EUA OU CANADÁ. A ESALQ/USP também tem boas propostas acerca, inclusive, uma ótima que foi objeto da tese de doutorado em 2011 pelo prof. Dr. Guilherme Miqueleto – vide link a seguir. A COAMO, em parceria com a gigante re-seguradora SWISS-RE, também já tem um bom Seguro de Renda ainda em fase inicial, mas que pode melhorar para favorecer bem mais seus cooperados. Idem o BB-MAPFRE.
Neste quesito de proteção de renda é fundamental que os agricultores, cooperativas e suas entidades no Brasil construam seus próprios Seguros de Renda micro-regionalizados (como no EUA e Europa), apenas com ajudas e mesmo alguns subsídios dos Governos e sem depender totalmente de seguradoras externas ou internas (exceto das re-seguradoras) e/ou de bancos nacionais, senão os agricultores e cooperados continuarão sendo prejudicados e, pior, ainda assumindo boa parte de todos os riscos.
Afinal, a agricultura praticada de forma empresarial intensiva ou mesmo parte da familiar no Brasil tropical é bastante diferente da agricultura empresarial e dos riscos dos países de clima temperado ou frio (estes com bem menos sol, com ciclos mais curtos, pouca diversificação, seqüenciamento e rotação possíveis, menor utilização real dos solos e bem mais catástrofes ou mais abrangentes e diversificadas (freqüentes nevascas, geleiras, inundações, incêndios, tufões, furacões etc..) do que no Brasil).
Vide: 
http://www.esalq.usp.br/geser/publicacoes/31.pdf
http://www.agrolink.com.br/downloads/Programas_Seguro_Renda.pdf (esta minha proposta inicial e gratuita de Seguro de Renda foi bastante aperfeiçoada e completada em 2015 para ser apresentada já na forma de um Projeto de Lei pelo Governo ou Congressistas (se possível pela CAPADR - Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara para debates e aperfeiçoamentos conjuntos), mas ... “não houve interesses e tudo parou”. Proximamente, será publicada neste mesmo site.
Assim, no Brasil, embora fundamental até para evitar a degradação e os abandonos seqüentes – meio que ignorados e até incrivelmente aplaudidos - das atuais terras férteis e cultiváveis, o Seguro de Renda apenas nacional não consegue decolar, pois cada entidade ou consultor ou técnico do governo já tem seu próprio seguro de renda na cabeça e não aceita nem debater ou comparar os seus com os de outros, ainda mais se as Seguradoras de outros países e grandes bancos e cooperativas nacionais - “consultadas” previa e ingenuamente (sic) - não gostarem de algum (ou seja, sempre faltou gestão publica séria e para resultados também neste caso). Além disso, O Seguro de Renda nacional também não decola porque...
2)    A IMPORTÂNCIA ALIMENTÍCIA E NUTRACÊUTICA DO FEIJÃO NO MUNDO - 
Trata-se da mais importante leguminosa alimentícia para o consumo humano direto, com mais de 23 milhões de hectares cultivados em todo o Mundo. No Mundo, há mais de 40 mil espécies do grupo familiar do Feijão (diversos gêneros), mas apenas pequena parte é comestível. Em muitos países, o consumo é elevado e atinge 66 kg/pessoa/ano, sendo o segundo mais importante fonte de calorias após milho.
Certamente, o Consumo Mundial de feijão deverá receber cada vez mais atenção futura dos consumidores, pelos aspectos de promoção da saúde. Os Feijões estão muito bem posicionados dentro do futuro mercado grande consumidor de produtos saudáveis e nutracêuticos, possuindo, geralmente, muitos atributos procurados, em especial pelos mais jovens, incluindo:
1) Valor econômico positivo (maior beneficio/custo para os consumidores);
2) Opções de refeições simples, altamente protéica e mineralizada e pouco calórica;
3) Alto teor de fibra nos grãos integrais; 
4) Pouco ou nada de prejuízos ambientais aos solos e biomas, sendo, ao contrário, um cultivo nitrificante dos solos, isto é, reparador de solos degradados e até contaminados por alguns insetos ou pragas.
Também, ao contrário do mercado quase unitário brasileiro (“carioquinha”), nos EUA se consomem muito feijões fritos, sopas, chilis, farinha de feijão com alto teor protéico e até como amido a ser utilizado em uma variedade de produtos de panificação do tipo “glúten free”.
Cerca de 45% da demanda nos EUA é pela variedade “pinto”, embora haja também o “navy” branco ou “pea”; o preto, o “great northern” e o “garbanzo” (uma vagem).
Outros fatores positivos para o maior consumo futuro, segundo estudos nos EUA:
1) Estudos recentes provam que o maior consumo de feijão está associado à redução dos distúrbios cardiovasculares, protegendo muito bem o coração;
2) Pessoas que comeram feijão por 4 ou mais vezes por semana tiveram uma redução de 22% no risco de desenvolverem doenças coronárias;
3) O consumo regular de Feijão está diretamente associado com a redução da fome, com o controle do apetite voraz e com o menor peso corporal;
4) O consumo freqüente de Feijão vem sendo associado a reduções seguidas dos níveis de triglicérides, do colesterol LDL e da pressão sanguínea;
5) A dieta com Feijão verde ou com maior teor de fibras está associada diretamente com a redução das inflamações, sobretudo intestinais.
Nos EUA, o Feijão é considerado como a fonte de proteína mais barata disponível. O Feijão seco e cozido ainda custa muito menos no varejo do que a maior parte dos alimentos de origem animal, além de não ter colesterol.
Em janeiro/2012, no varejo dos EUA, numa analise comparada de preços do Feijão com alimentos animais com volumes e teores protéicos semelhantes, tivemos:
1) O feijão seco e cozido custava US$ 0,12 por cerca de 85 gramas (meia xícara);
2) O feijão enlatado custava US$ 0,36 por cerca de 85 gramas (meia xícara drenada);
3) Um ovo grande tipo A – com nível alimentício igual ao da porção de feijão - valia US$ 0,16/ud;
4) Um pedaço de peito de frango sem pele com 85 gramas – idem acima - custava US$ 0,58; 
5) Uma porção de carne moída bovina, 90% magra e com 85 gramas (3 onças) – idem - custava US$ 0,72;
6) Uma porção de costeleta de porco, sem osso e com 85 gramas – idem - US$ 0,74;
7) Uma porção de carne bovina com 85 gramas (assada, da melhor qualidade e sem osso) – idem acima - custava US$ 0,86.
Ainda segundo estudos do mesmo USDA/ERS, uma família norte-americana com 4 pessoas que optasse por consumir Feijão no lugar da carne bovina moída somente uma vez por semana e durante um ano, poderia economizar US$ 130, além de ganhar muito em saúde (considerando-se que a carne moída bovina, 90% magra, custava US$ 3,99/454 gramas (01 pound) e que 01 kg de Feijão pinto valia US$ 1,49).
No México, a maior parte produzida vai para auto-consumo na comida “Texmex” ou em saladas. Há uma enormidade de pratos típicos com alta demanda e à base de feijão como: a) Frijoles Re-fritos (“Refried Beans”); b) Frijoles Charros (“Cowboy Beans) e c) Frijoles Negros a la oaxaqueña (“Oaxacan Black Beans”). 
No Brasil, parece que por plenos desinteresses dos Governos em realmente informar e/ou educar mais por certa desinformação ou resistências - talvez até intencionais da maioria das donas-de-casa - as famílias brasileiras só querem consumir dois tipos básicos de Feijão e, se possível, novo e idem macio e idem barato: o carioca (ou pérola ou cores) e o preto, embora haja dezenas de variedades de feijões muito nutritivos e também de fácil preparo, secos ou molhadas (verdes), disponíveis no Mundo e no Brasil.
Assim, as donas-de-casa são pouco informadas ou educadas pelos Governos, Pesquisas e Escolas sobre os muitos e fáceis modos de preparo e de servir os diversos tipos de Feijão. A maioria cozinha e serve o mesmo tipo do Feijão desde que nasceu. Há variedades pela metade do preço do “carioquinha”, como o “fradinho”, e que podem ser cozidos, re-hidratados ou amolecidos rapidamente e alcançarem alta qualidade para consumo direto ou na forma de saladas (como o feijão verde ou macassar).
3)    A EVOLUÇÃO DO SUPRIMENTO E DAS PRODUÇÕES DE FEIJÃO NO MUNDO E NO BRASIL – 
Por não se tratar de uma commodity e exportável, ou melhor, de uma grande óleo-proteiginosa de mercado (ou seja, geradoras de farelos para consumos animais e/ou de óleos para consumo humano), como a soja, o milho e caroço de algodão) quase não há dados confiáveis sobre produções, suprimentos e preços do Feijão no Mundo, sendo alguns poucos e defasados originários somente da FAO.
Embora produzido no Mundo todo e por bons volumes, principalmente na China onde a maioria é do chamado Feijão verde (tipo o nosso macassar do Nordeste), a maior parte mundial é de diversos tipos de Feijão seco. Em Feijão verde lideram a China, Indonésia e Turquia.
Também a produção para auto-consumo quase imediato é elevadíssima e pouco sobra de feijão de qualidade para o mercado mundial. Interessante, é que ao contrário do que a cátedra e os Institutos nacionais afirmam para o Brasil (possível redução continuada da demanda pela baixa elasticidade-renda), o consumo de Feijão está ampliando na Ásia, exatamente onde o PIB mundial mais cresce no Mundo e também o PIB “per capita” anual, principalmente, na China e na Índia. 
Em 2010, a produção mundial total chegou a 40,1 milhões de t., sendo 23,0 milhões de t. de Feijão seco (cerca de 58% do total) e mais 17,1 milhões de t. de Feijão verde.  
Os lideres mundiais em produção de Feijão seco são a Índia, Mianmar, Brasil e China, mas a maior parte é para auto-consumo local/regional e pouco sobra para exportar, exatamente pelo menor teor de umidade, mas bem ao contrário das exigências de elevada maciez pelos consumidores (principalmente, os brasileiros). 
O México - tão propalado para possíveis importações milagrosas e até enganosas de Feijão seco do tipo “pinto” - só produz o equivalente a 16% da produção brasileira.
Já os EUA, também possível origem enganosa de nossas compras e onde também a maior parte da variedade “pinto”, produz somente o equivalente a cerca 25% da nossa produção, embora a maioria seja consumida internamente (mais produzidos nas áreas irrigáveis de Dakota do Norte, Michigan e Nebraska, mas para alimentar o grande mercado norte-americano de “chicanos” mais de latinos, inclusive em muitos pratos da cozinha “Texmex” ou “callmex”, com elevado e crescente consumos por todos os norte-americanos). 
Apenas 20% da produção norte-americana é destinada às exportações e a maioria ocorre para países próximos, pelo menor tempo de transporte sem perda da qualidade, e o feijão que sobra no mercado é destinado às doações humanitárias e como ajuda alimentar para países famintos, ou seja, que dificilmente os EUA transferirão para outros mercados não constantes.
Vide mais dados em meu estudo completo em 2013 - “Produção e Suprimento mundial de Feijão” em:
http://www.agrolink.com.br/colunistas/producao-e-suprimento-mundial-de-feijao_4813.html 
Para ver a importância histórica do feijão para o povo brasileiro, vide também meu poema “prece do feijão” em:
http://www.agrolink.com.br/colunistas/prece-do-feijao_4223.html
No Brasil, desde a safra 2010/11, a produção de Feijão vem recuando sistematicamente e o Governo não toma nenhuma atitude proativa real para a solução, aguardando todo ano por um milagre de abastecimento (talvez nem tome nos próximos anos, sempre esperando que o mercado se ajuste mesmo que o pobre passe fome de Feijão). 
A produção que era de 3,73 milhões de t. na safra 2010/11 reduziu para 2,70 milhões na ultima safra 2015/16 (posição da CONAB em junho/2016), isto é, com queda real de -27,2%. 
Com isto, mais o incrível e desnecessário incremento descontrolado das exportações, os fundamentais estoques disponíveis ao final de cada safra reduziram de 0,69 milhão de t. na 2010/11 (já baixos) para apenas 0,14 milhão de t. ao final da atual safra 2015/16, ou seja, com queda de -79,7% de t. e suficientes para apenas 15 dias de pleno consumo do País (total de 2,9 milhão de t./ano, igual à cerca de 0,24 milhão de t. por mês).
Lembro que no momento finalizou-se a colheita da 2ª produção de feijão e inicia-se o plantio da 3ª produção do ano, a irrigada (para os que não conhecem bem o assunto, é importante informar que o Feijão do Brasil tem três produções/colheitas seqüenciais – em regiões bem diferenciadas e até distantes entre “si” -, tudo na mesma safra por ano). 
Estas duas produções/colheitas são as que realmente importam para o correto abastecimento interno por bom período e não me venham com aquela antiga desculpa publica de que todo o abastecimento se regulará já na próxima safra, vez que o Feijão é um cultivo de ciclo muito curto em alguns locais (em alguns casos de somente 70 dias, se irrigado ou favorecido), mas pode, ou não, ser realmente plantado em cada intervalo decisório.
4)    O FEIJÃO E A INFLAÇÃO NO BRASIL - 
Vilão real da inflação em 2016 (e de muitos anos anteriores), o Feijão carioca já acumula alta de 89% entre janeiro e junho, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e não há perspectivas de quedas nos preços no curto prazo, pois não há como importar feijão real, nem como produzir uma super safra de inverno (ou irrigada) esta que, em geral, corresponde a apenas 10% da safra anual total.
Há muitas verdades que todos do Setor de Feijão e do Governo sabem, mas que poucos têm a coragem de revelar e, pior, de reagirem em favor do povo. Por exemplo, importar feijão, de forma rápida, com qualidade e para realmente baixar preços, é muito difícil, para não dizer praticamente impossível, nos momentos de crise. 
Em alguns anos, visando apenas a lucrar muito mais, alguns atacadistas (ou bolsistas) e grandes redes de supermercados, em especial de São Paulo, conseguem importar – com parcimônia - algum Feijão e por certo tempo, mas, imediatamente, se afastam do mercado quando os preços voltam a recuar, seja pelo descontrole das importações, até então sigilosas, ou pela nova entrada do produto novo, mesmo que por poucos volumes. Assim, sua preocupação real não é com o pleno abastecimento, mas, obviamente, apenas em obterem bem mais lucros (sic). Pior é que o Governo assiste a isto plenamente e até incentiva em muitos anos (como ocorre no momento e até retirando impostos). Será que quase todos sabem disto, menos o Governo?
É óbvio que, numa forma emergencial e obrigatoriamente muito rápida, importar e distribuir estrategicamente pela CONAB tudo poderia ser diferente e até dar certo (inclusive com as eventuais sobras ainda com qualidade sendo destinadas ao final de certo período para a merenda escolar, hospitais ou prisões), mas...
Adicionalmente, dizer que a falta Feijão carioca no mercado em alguns anos (desculpas na ponta da língua) ocorre apenas por efeitos negativos dos eventos climáticos e/ou por falta de água nos mananciais de irrigação e/ou por ataques de pragas e de doenças, além de ser informação irresponsável e que não expressa toda a verdade, só promove ainda mais especulação nos mercados, ao ampliar o desinteresse pelos futuros plantios (quem irá plantar um cultivo “loteria”?).
Segundo o IBRAFE - Instituto Brasileiro do Feijão, “nem mesmo a suspensão da cobrança da alíquota de importação de feijão, aprovada pelo Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), em junho, por um período de 90 dias, deve interferir de forma negativa na formação dos preços internos do grão”. O feijão foi incluído na lista de exceção à Tarifa Externa Comum (TEC), reduzindo o imposto de importação de 10% para 0%. Contudo, a importação será de Feijão preto e o consumo nacional significativo é de Feijão carioca. Por isso, não haverá interferência na cotação, disse o IBRAFE”.
Assim, o problema não é tão simples e alcança patamares, desinteresses e despreparos históricos e muito piores do que se pode pensar.
Na verdade, diante dos grãos para exportação (Soja e Milho), da mandioca para fécula e do Milho doce/batatinha/cebola/alho/tomate para saladas/enlatamentos/condimentos etc., o feijão da pobreza virou prioridade “zero”.
Nos últimos 5 anos, boa parte das áreas de Feijão de sequeiro migrou para a Soja e Milho, estas com muitas variedades de sementes disponíveis até por micro-região e tipo de solo, com controles de doenças bem mais sérios e efetivos e, pior ou melhor, com custos de produção menores do que no Feijão.
Também, grande parte das antigas áreas para Feijão irrigado foi tomada, progressivamente, pelos cultivos de sementes ou de hortifrutigranjeiros não perenes (soja-semente, milho-semente, milho doce, milho verde, batatinha, cebola, alho e outras). Estes quase não precisam de Governo, pois são bem mais incentivados por modernos sistemas de parceria ou de fomento rural com grandes agroindústrias processadoras privadas; não têm dificuldades de mercados; têm grande oferta de sementes ou bulbos de elevada qualidade; são bem mais rentáveis e seguros (há uns 5 anos, não há problemas de sérias quedas de preços, nem do alho) e têm demanda imediata ou quase. 
5)    SR. AGRICULTOR: O SR. PLANTARIA MAIS FEIJÃO NA CONDIÇÃO ATUAL E MESMO COM OS PREÇOS ELEVADOS? 
Como se sabe, o feijoeiro é comumente uma planta muito atacada por inúmeras pragas e doenças que são responsáveis por grandes perdas de produtividades da cultura, o que também muito amplia seu custo de produção e seus riscos de cultivos. 
A Organização Mundial para Alimentação e Agricultura (FAO) considera que as pragas são responsáveis, em média, por cerca de 42,1% das perdas da produção agrícola mundial. Estima-se que somente os fitopatógenos (agentes causais de doenças) são responsáveis por 13,3% de danos. As plantas daninhas são responsáveis por 13,2% e os insetos e ácaros por 15,6%. 
Nos cerrados do Brasil, o clima diferenciado, bem definido e positivo para a maioria dos cultivos também em muito favorece o ataque de pragas e de doenças, ante as demais áreas do País.
Anualmente, sem entrar no mérito, são utilizados no Mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agroquímicos (alguns insistem em chamar de agrotóxicos). O consumo anual de agroquímicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente cerca de 130 mil toneladas/ano no País, representando um aumento no consumo de agroquímicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou apenas 78% nesse mesmo período. Obviamente, as culturas com maiores áreas plantadas são as que mais consomem.
No Brasil, entre os alimentos de maior consumo interno, talvez o feijão só perca em quantidade e freqüência de ataques de pragas e doenças para o tomate e a batata. 
Dentre as principais pragas do feijão, temos: 1) Broca-do-caule - Elasmopalpus lignosellus; 2) Vaquinha - Diabrotica speciosa; 3) Mosca-branca -Bemisia tabaci; 4) Caruncho - Acanthoscelides obtectus.
Já as principais doenças que atacam o feijão são: 1) Mancha-angular - Phaseoriopsis griseola; 2) Antracnose - Colletotrichum lindemunthianum; 3) Ferrugem - Uromyces appendiculatus; 4) Mancha de alternaria -Alternaria alternata, A. brassica f. sp. Phaseoli e A. brassicicola; 5)  Mofo branco - Sclerotinia sclerotiorum; 6) Crestamento bacteriano - Xanthomonas axonopodis pv. Phaseoli; 7) Mosaico dourado do feijoeiro ou Bean golden mosaic virus (BGMV).
Já em termos comparativos entre custos totais de produção, com dados oficiais da própria CONAB, o custo total de produção (incluindo remuneração dos fatores e dos investimentos) do feijão carioquinha irrigado em Unaí, em maio/2016, na produtividade esperada de 3,3 t./hectare era de R$ 5.889/hectare, igual a R$ 107,02/sc de 60 kg, ou seja, de R$ 1,78/kg. 
Com isto, baseado numa possível super margem de lucro na fazenda de 100% (pagando R$ 3,50/kg na fazenda), o preço no varejo do feijão carioquinha irrigado de alta qualidade em Brasília e Goiânia, por exemplo, (grandes consumidores regionais e próximos da fonte produtiva), mais o frete curto e os impostos totais, poderia perfeitamente baixar para R$ 4,50/kg em setembro próximo, mas, sinceramente, você acha que isto irá ocorrer, em favor dos consumidores, ou que irão remunerar melhor o agricultor na porta da fazenda em setembro de 2016? 
Já em Taquarituba (SP), o feijão irrigado para 2,7 t./hectare em março/2016 tinha custo total de produção (idem acima) de R$ 2,40/kg.
No momento, no varejo da satélite mais pobre de Brasília, o feijão “carioquinha” de qualidade é vendido por R$ 12,00 a R$ 15,00/kg, embora o “fradinho” custe apenas R$ 5,50/kg e o “preto” fica por R$ 7,80/kg no mesmo local.
Falta, ou não, uma política de controle de preços do feijão no atacado e no varejo? Ainda mais se considerando que a culpa sempre cai em cima do agricultor?
Por outro lado, também comparando com os custos totais do milho “verde ou doce” ou do “safrinha” ou do milho “semente”, todos irrigados, com os do feijão carioquinha também irrigado e no mesmo local, o custo de produção do milho 2ª colheita ou milho-doce ou milho-semente também em Unai em maio/2016 com alta tecnologia numa produtividade de 5,7 t./há era de R$ 3.123/hectare, igual a R$ 32,87/sc 60 kg, ou seja, de R$ 0,55/kg (bem caro e até anormal, mas ainda -69,1% menos do que o custo com feijão irrigado de R$ 1,78/kg). 
Adicionalmente, o custo do milho-safrinha com alta tecnologia em março/2016 numa produtividade de 6,0 t/hectare em Campos Novos do Parecis-MT (região com bom nível de precipitação até agosto, o que permitiria o cultivo de feijão até sem irrigação) era de apenas R$ 0,39/kg.
O mais impressionante é que, no perímetro irrigável de MG, GO, DF mais, oeste da BA, o custo total do alho irrigado (16,0 t./hectare) em Cristalina (GO) em janeiro/2016 era de R$ 3,47/kg ante R$ 19,10/kg de preço médio de compra no atacado do DF em julho/2016 do alho já curado e seco e incluindo impostos e fretes, conforme a CONAB. Quase toda a produção também vai para os CEASAS ou para as empresas citadas abaixo também processadoras de pasta de alho e temperos, em parte, pelo mesmo modelo produtivo do milho-doce/verde, lembrando que a remuneração do alho sempre foi a mais elevada dos cultivos irrigados, embora também se caracterize como “loteria” em alguns  anos.
Também, outros cultivos como a soja-semente (mesmo com o necessário vazio sanitário exigido por lei), milho-semente mais cebola, tomate (salada ou industrial), ervilhas e outros hortifruti irrigáveis de ciclo curto têm atraído muito mais os produtores irrigantes do que o Feijão irrigado, até porque não se configurarem tanto como “loterias” anuais ou de cada safra.
Neste momento de decisão do plantio, estas diferenças elevadas acima apontadas muito podem atrair a agricultura irrigada para outros cultivos com bem menores custos, bem menos trabalhosos e com demandas e preços finais e comercialização rápida bem mais seguros do que com Feijão irrigado. Infelizmente, a verdade “nua-e-crua” é que isto, certamente, pode preterir e até impedir o cultivo do Feijão irrigado proximamente (com custos bem maiores como vimos; com muito mais pragas/doenças que podem até dizimar os cultivos mesmo que irrigados, e cujo resultado final de renda liquida muito se sujeita a oscilação de preços no final da colheita em setembro/outubro e que ninguém consegue prever na pratica). 
Tal milho verde ou milho doce, e outros cultivos acima descritos, têm vendas garantidas e diretas no varejo de supermercados/mercados hortifruti de bairros ou para fabricação de seletas de legumes enlatados ou mesmo como milho enlatado, os três com alta demanda regional no perímetro irrigável  descrito e/ou para exportar para outros estados e até alguns países, tudo por diversas empresas processadoras da região. Há cerca de 8 grandes compradoras/fabricantes apenas no perímetro irrigado de oeste e noroeste de MG; centro, sudeste e parte do leste de GO; todo o DF e oeste da BA, boa parte incentivando e bancando os cultivos de milho-doce, milho verde e de outros enlatados apenas pré-cozidos, via projetos de fomento rural do tipo de integração de aves ou suínos. 
Naquele perímetro irrigável descrito, também há muitas (pelo menos umas 100) médias e grandes empresas produtoras de sementes de milho e de soja agindo e promovendo seus cultivos irrigados e da mesma forma acima.
Somente nesta macrorregião acima dos antigos cerrados há pelo menos 4.000 pivôs atuais e funcionando, embora apenas 3.333 sendo comprovados pelo Censo Agropecuários de 2006 em todo o País. 
Conforme excelente diagnostico de campo pela EMBRAPA (vide link abaixo), em 2013, já havia quase 18 mil pivôs para irrigação em todo o País e com área média de 50 hectares. Entre os principais Estados, MG tinha 5.573; SP com 3.528; GO com 2.872; BA com 2.792 pivôs e RS com 1.111 pivôs. 
Tais dados são fundamentais para se estabelecer qualquer Política, real, de apoio ao Feijão ou a outros cultivos com altas demandas internas, nem tão exportáveis. 
Afinal, de que adianta só termos uma balança comercial externa, altamente positiva anualmente (gerando muitas divisas) - que beneficia muito mais as multis, tradings, algumas cooperativas e os frigoríficos processadores - e em total detrimento do Suprimento adequado e da boa alimentação interna de nosso povo. O Brasil pode, deve e precisa alavancar ambas situações, desde que não se esqueça e até cobre a todos os agentes pelo pleno e adequado abastecimento interno.
Vide: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1008950/1/bol106.pdf
6)    A CRISE E AS POSSÍVEIS AÇÕES NECESSÁRIAS PARA A SOLUÇÃO EM MÉDIO PRAZO -
Realmente, a crise atual de abastecimento do Feijão parece que veio para ficar por um bom tempo e não adianta muito propalar e defender “misuras” e possíveis “mentiras” de importações. 
Como vemos, as medidas principais a tomar para voltarmos a ter feijão de qualidade são muito diminuir as perdas produtivas e de transporte; reduzir os custos de produção; propiciar meios para o pleno combate ou prevenção das muitas doenças e pragas que dizimam a atividade (ainda com pouco ou nenhum interesse real das multis) e, principalmente, pesquisar muito mais e ofertar rapidamente variedades muito mais resistentes e até menos exigentes em água (como já existe fartamente na Soja microrregional e começa a acontecer também no Milho, principalmente no dito “milho crioulo” ou “variedades”, na verdade, bem menos produtivos, mas bem menos exigentes em chuvas e por bem menores custos). 
Para o Feijão, estas possíveis novas variedades “crioulas” ou “variedades”, como no milho, podem ser fundamentais para cultivo pela agricultura familiar, mesmo se de ciclo médio, pois, em muitos casos e locais, ela só consegue hoje colher entre 5 e 10 sc de feijão por hectare (300-600 kg) e isto quando colhe, ou seja, bem fora da agricultura de mercado se não tiver custos compatíveis, mas, por outro lado, muito bom para o auto-consumo e para a boa oferta local dos excedentes, mas, apenas se tiver baixos custos, certas resistências e for bem mais tolerante à seca ou ao frio.
É preciso também muito lembrar e respeitar que nem sempre o atingimento de produtividades recordes precisa ser o alvo principal das pesquisas e dos produtores. Tudo precisa do seu ponto de equilíbrio. De que adianta produzir muito por área e com altíssimo custo, elevadíssimo risco, muitos danos seguidos ao meio ambiente e solos e ter apenas pequena margem de lucro final real. Desta forma, o Feijão – principalmente se irrigado - continuará sendo aquilo de que sempre foi acusado, injustamente, ou seja, de ser um “cultivo loteria”. 
Será que a Pesquisa, os agricultores e os governos desejam realmente isto? A Soja quase entrou nesta corrida “trouxa” (sic), que somente favorece as multis de sementes, agroquímicos e fertilizantes e as tradings poderosas, mas, “aos poucos” muitos sojicultores já perceberam que não é bem por ai que se dá a sustentabilidade das produções, da renda liquida, dos solos e do imóveis.
Se o Governo, em especial a EMBRAPA, Empresas estaduais e até algumas Cooperativas não tomarem medidas urgentes ou permanentes de curto e longo prazos para a bem maior pesquisa de novas cultivares de feijão - adaptadas às centenas de microrregiões do País (como na soja e milho), mais resistentes e menos exigentes em água e ainda com menores custos do que os cultivos concorrentes - o abastecimento do pobre estará comprometido nos próximos 5 anos, mesmo com as “idas e vindas” das safras e dos preços. 
Isto pode parecer até impossível, mas foi exatamente o que a pesquisa da EMBRAPA e das multis de sementes conseguiram fazer progressivamente – por pressão do capital e/ou do Governo - com a Soja e o Milho e já em quase todo o Brasil. Mais recente, por incrível que pareça, o mesmo já está ocorrendo até com a mandioca e o sorgo, mas nada ocorre com o nosso bendito “feijão” e o “trigo de cerrados”.  
Somente de Soja, o mercado brasileiro já tem mais de 500 cultivares disponíveis, segundo o Projeto Soja da APROSOJA e muitas, ainda melhores (mais resistentes e mais produtivas), estarão sendo lançadas nos próximos anos. Na ESALQ, parece que já estão desenvolvendo sigilosamente a futura Soja encapsulada com hidrogel (como no plantio moderno de mudas de eucalipto) e que poderá ser plantada entre 20 e 30 dias antes das chuvas de verão ou outras, desde que as plantadeiras sejam adaptadas para plantarem tal super grão (do tamanho de uma bola de gude, pelo que parece).
Vide:
http://www.projetosojabrasil.com.br/saiba-como-escolher-a-cultivar-de-soja-ideal/
Veja algumas novas tecnologias já liberadas para a Soja nos próximos anos.
http://www.projetosojabrasil.com.br/conheca-as-novas-variedades-de-soja-para-os-proximos-anos/
No caso do milho, em 2000, já havia cerca de 200 cultivares diferentes disponíveis, segundo a Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas-MG. Em 2013, o total colecionado pela EMBRAPA Milho e Sorgo de Sete Lagoas (MG) já teria chegado a 295 cultivares, sendo algumas enviadas pelo Cimmyt (Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo). Para a Safra 2015/16, segundo a EMBRAPA Sete Lagoas, foram disponibilizadas 477 diferentes cultivares de Milho (284 transgênicas e 193 convencionais), mas já havia sérias criticas quanto à qualidade e resultados efetivos de muitas.
http://www.apps.agr.br/upload/Cultivares%20de%20Milho%20dispon%C3%ADveis%20no%20mercado%20na%20safra%202015%2016.pdf
Hoje, já temos Soja e Milho quase em qualquer local do País e tanto para a agricultura familiar, como para a agricultura empresarial, todas com produtividades e custos compatíveis segundo os locais e as formas de exploração.
É lógico que o Feijão foi muito prejudicado e esquecido nestes últimos anos e nem podemos, minimamente, comparar as evoluções das produtividades médias obtidas com feijão nos últimos 30 anos com as produtividades médias obtidas com a Soja e com o Milho, inclusive com milho-safrinha, e em quase todos os locais. Só para lembrar, a Soja, quando iniciou seu cultivo no RS, alcançava produtividades médias de 25 a 30 sc/hectare e hoje já se alcança quase 60 sc/hectare no MT e outras áreas dos cerrados.
No caso do Feijão, embora no Mundo existam cerca de 15 tipos diferentes (vide meu estudo bem abrangente sobre o feijão no Mundo no link acima), no Brasil, os números são desencontrados e há poucas informações acerca, mas parece que há somente umas 30 diferentes cultivares disponíveis pela Pesquisa brasileira (Embrapa, Estaduais e algumas Cooperativas), sendo apenas umas 15 de Feijão carioca. 
No catalogo da EMBRAPA de sementes de Feijão 2014/2015 foram listadas apenas 9 cultivares do tipo comum (grupo carioca) mais 8 de outros tipos (demais grupos) mais 4 de feijão preto.
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/120105/1/CNPAFccf2014.pdf
Estudo realizado pela Embrapa apenas com o feijão carioca (o que realmente mais interessa) no Centro-Oeste em 2014/2015 embasou-se apenas em 10 diferentes cultivares.
http://revista.fmb.edu.br/index.php/fmb/article/download/168/160
Também, importa saber quanto a produtividade média do Feijão realmente ampliou com tais novas cultivares disponibilizadas anteriormente, onde isto ocorreu e quais foram seus custos reais? A cada ano, lança-se uma nova cultivar numa feira que dê bastante IBOPE e depois mais nada se fala sobre ela nem sobre outras mais recentes.
Assim, o que ocorreu com o Feijão, suas cultivares e suas pesquisas no Brasil?
Tudo indica que a chefia da EMBRAPA pode não estar distribuindo corretamente e de forma suficiente os recursos recebidos para a pesquisa e/ou melhoramento do Feijão. Parece que, ao contrário, a EMBRAPA ainda está claramente priorizando, até desnecessariamente neste momento, cultivos para exportação e que se configuram sempre como grandes negócios pelas multinacionais e pelas tradings, em detrimento do povo e de sua adequada alimentação.
Também para o IBRAFE, o caminho para redução de preços do Feijão é a diversificação de variedades. Recente, segundo o IBRAFE, foram lançadas no 2º Fórum Nacional do Feijão algumas variedades que servem tanto para o consumo interno, quanto para exportação.
7)    O DILEMA E O DESINTERESSE PELAS FORMAS DE ESTOCAGENS APROPRIADAS, “A ETERNA DESCULPA DA INEFICIÊNCIA OU DA PREGUIÇA” -
Por muitos motivos, ainda pouco se faz para comprar Feijão de forma rápida para sustentar os preços locais e, sobretudo, para estocar o grão estrategicamente por períodos mínimos de 120 dias e entregar ao mercado atacadista e consumidores finais nos momentos de forte alta dos preços, como agora (como dito, se não houver necessidades regionais e existirem sobras não-exportáveis – vide a seguir -, o feijão remanescente pode, perfeitamente, ser destinados ainda com alta qualidade para comida institucional, alimentação escolar, prisões etc..). 
A BUROCRACIA E A LENTIDÃO DO APOIO À COMERCIALIZAÇÃO DO FEIJÃO SÃO GIGANTES E A MAIORIA DOS AGRICULTORES E COOPERATIVAS DESISTEM DE OPERAR NO MEIO DO CAMINHO (QUE PARECE SER O QUE O GOVERNO REALMENTE QUER).
Entre uma decisão de compra imediata de Feijão em excesso regionalmente pelo Governo Federal (SPA/MAPA) mais a ação final de compra, ensacamento ideal, entrega comprovada no posto da CONAB (a operacional) mais classificação, pagamento ao agricultor etc. não há como demorar menos do que 55 dias apos a decisão inicial (25 dias para detectar e comprovar o excesso produtivo mais 10 dias para a tomada e aprovação da decisão mais 20 dias para a operação). 
Se considerarmos a compra e o necessário transporte imediato de tal Feijão comprado pelo Governo até os atacadistas e varejistas para regular o preço já elevado, ou em elevação, no varejo na capital do mesmo Estado, ou, principalmente, nas capitais ou grandes cidades distantes, seriam mais 10 a 20 dias. Assim, entre a detecção da produção em excesso mais a decisão e operação governamental, urgente, de intervenção para regular os preços locais em queda junto aos agricultores mais os transportes imediatos (sem estocagens) e a entregas no atacado e no varejo final do mesmo feijão teríamos um total, MÍNIMO E SE TUDO DER CERTO, de 65 a 75 dias, isto para um cultivo com apenas 70 a 90 dias de ciclo. Ou seja, qual atacadista, distribuidor final ou varejista, sério, compraria este feijão tardio? 
É obvio que, infeliz e vergonhosamente, muitos ainda compram tal Feijão tardio, em especial os atacadistas e fornecedores de cestas básicas para a população pobre, prisões, merenda escolar, asilos e hospitais públicos, alimentação institucional, restaurantes comunitários, alguns restaurantes industriais possivelmente até do Sistema S, concorrências públicas, mas, a qualidade final do feijão já está muito baixa, embora os lucros de tais agentes, obviamente, sejam altíssimos.
No caso de possíveis armazenagens com qualidade, sabe-se que no Nordeste, Norte e áreas pobres do Sudeste, a Agricultura familiar – sem ajudas reais dos Sistemas de Pesquisas estaduais ou da EMBRAPA - desenvolveu e usa há anos sistemas bastante eficientes de estocagens do Feijão por longo período e com qualidade (como fizeram com a “carne de panela”, “lingüiças”, “carne de sol”, “farofas de carne” e a maioria dos “grãos” nos locais sem eletricidade). Para tanto, muitos agricultores AF misturam o Feijão ainda em grãos com “terra de formigueiro” e depois enterram revoltos por lona plásticas, um pouco herméticas, pequenos e médios volumes por até 6 meses (obviamente, a intenção é reduzir a perda rápida da umidade e ainda tentar obter algo de vácuo mais a proteção adicional do grão pela terra vermelha do subsolo contendo muitos metais biocidas/inseticidas e também quase que estéril em contaminações). Já outros estocam os grãos em garrafas “pet”, quase que sem ar, daquelas para 2,0 litros de refrigerantes, colocadas no escuro e penduradas quase que no teto interno das residências humildes. 
Em alguns locais, fazem ainda melhor que é a estocagem do Feijão meio-seco em “bombonas” plásticas herméticas com até 200 litros, boa parte usadas no transporte de azeitona importada. Muitos retiram o ar final desses recipientes, de forma a obterem um vácuo quase que total, mediante a introdução em um furo de até 20 cm no centro dos grãos – antes do fechamento total da “bombona” - de uma pequena lata de sardinha ou outras mais horizontais, contendo algodão embebido em álcool e em “chamas” (alguns ainda colocam uma tampa de lata furada para cobrir o pequeno buraco, mas obviamente a “bombona” não pode estar completamente cheia/transbordando). Obviamente, trata-se de sistema humilde, até rústico e muito barato, mas que muito prolonga o período de estocagem do Feijão familiar (boa parte para auto-consumo da própria família mais de parentes e até de vizinhos) e mantém a boa qualidade e até boa parte da umidade inicial. Os objetivos principais são preservar certa umidade e, ao mesmo tempo, matar rapidamente os insetos, larvas e doenças e impedir a entrada da luz solar e de ventos.
De forma bem semelhante, é óbvio que a CONAB e algumas Cooperativas já têm, ou deveriam ter, alguns destes silos modernos e herméticos com, ou sem, injeção de gás carbônico (que podem preservar a qualidade e a umidade por no mínimo 6 meses, sendo que no Café – vide link abaixo - já se chega a 12 meses de estocagens estratégicas sem perder o sabor e a cor e apenas estocados em “big-bag” herméticos). 
Assim, se de interesse real de algumas Cooperativas credenciadas pela CONAB – incentivadas apenas um pouco pelo Governo, sobretudo nos investimentos iniciais mínimos necessários – é perfeitamente possível armazenar Feijão de alta qualidade com a mesma tecnologia acima para o Café (outro produto com consumidor muito exigente e que perde a cor e o sabor rapidamente, se não for bem estocado). Com certeza, ao final de 12 meses, também o Feijão estocado em “big-bag” herméticos, com injeção ou não de C02, estaria perfeito para plenos usos para consumo interno (isto para efetivamente regular os preços e sem desestimular novos plantios) e até para exportar. ASSIM, MAIS UMA VEZ DESAFIO: “ESTOCAGEM DE BOA QUALIDADE DO FEIJÃO SÓ NÃO FAZEM PORQUE NÃO QUEREM”. 
Será que o Governo não tem mesmo como pagar ou incentivar as Cooperativas locais para que instalem, rapidamente, tais sistemas herméticos baratos e promovam tais estocagens estratégicas ainda em “big-bag” a seu mandato?
PORQUE A PESQUISA NUNCA DESENVOLVEU ESTE TIPO DE ARMAZÉM PARA CAFÉ E PARA FEIJÃO, E QUE FOI OBJETO DE TESE PERFEITA NA UFLA AINDA EM 2010? SERÁ PRECISO COBRAR DA EMBRAPA E DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS DE PESQUISA A PRIORIZAREM E/OU REAPRENDEREM A FAZER PESQUISAS PARA RESULTADOS REAIS E APENAS PARA BEM ALIMENTAR NOSSO POVO? (vide acima porque no Feijão e no Trigo – nosso próximo debate e questionamento neste site -, as pesquisas nunca avançam ou não são priorizadas ou não se mostram os bons resultados de pesquisas anteriores).
Vejamos - para auxiliar no entendimento das ainda não-armazenagens corretas e estratégicas de Feijão - as conclusões a que chegou a mestranda “Fabiana Carmanini” mais seu orientador da Federal de Lavras em sua tese de mestrado em 2010 (“Armazenamento de Café beneficiado em embalagens herméticas com injeção de C02”), acerca do armazenamento perfeito e por até 12 meses de Café, mostrando que possivelmente para armazenar o Feijão seco de forma igual seriam necessárias apenas algumas pequenas modificações.
“O acondicionamento de grãos de café beneficiado em “big-bag” revestido com atmosfera modificada e controlada (sem e com injeção de até 60% de CO2, respectivamente), em escala comercial, apresentou-se como alternativa viável para o armazenamento durante 12 meses. As avaliações físicas, químicas e sensoriais dos grãos acondicionados em “big-bag” revestido com atmosfera modificada e controlada, acrescido da preservação da qualidade, demonstraram INTENSIFICAÇÃO da coloração verde dos grãos durante o período de armazenamento, e classificação do café como safra atual após 12 meses de armazenamento. A análise sensorial do café acondicionado em atmosfera controlada APRESENTOU AS MAIORES NOTAS PARA A POSIÇÃO MEDIANA, MOSTRANDO ELEVADO POTENCIAL PARA A PRESERVAÇÃO DA QUALIDADE SENSORIAL dos grãos de café”
ISTO, SIM, É PESQUISA PARA RESULTADOS. 
Por outro lado, “SE A EXTENSÃO BRASILEIRA ESTIVESSE REALMENTE FUNCIONANDO, MUITOS CAFEICULTORES E SUAS COOPERATIVAS JÁ PODERIAM ESTAR ADOTANDO ESTA TÉCNICA ACIMA, MAS AI VEM OUTRA NOVELA/ERRO, POIS O GOVERNO TENTA EXTINGUIR RAPIDAMENTE A NOVA ANATER, APÓS ANOS E MAIS ANOS DE LUTAS DE TODOS OS SEGMENTOS PARA RECRIÁ-LA”.
http://docplayer.com.br/7327870-Armazenamento-de-cafe-beneficiado-em-embalagens-hermeticas-com-injecao-de-co-2-fabiana-carmanini-ribeiro.html
Finalizando, aqui também se conclui que, sem contar com um sistema eficiente, barato e rápido de estocagem hermética do Feijão em armazéns da CONAB e/ou de Cooperativas locais ou microrregionais credenciadas pela CONAB, ou próprias, não há como garantir o abastecimento do feijão de qualidade nem como realmente regular os preços recebidos pelo agricultores ou os preços pagos pelo consumidores finais.
ASSIM, NO CASO DO ABASTECIMENTO PLENO DE FEIJÃO DE QUALIDADE, É PRECISO MUITA DISPOSIÇÃO, RAPIDEZ DE AÇÃO, VONTADE POLÍTICA REAL E IMEDIATA E PROFISSIONALISMO. 
FIM

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