CI

Cotações da soja em Chicago voltaram a recuar fortemente nesta semana

Falta de definições em torno do litígio comercial entre EUA e China


As cotações da soja em Chicago voltaram a recuar fortemente nesta semana, fechando a quinta-feira (14) em US$ 9,27/bushel, contra US$ 9,74 uma semana antes. O mercado, aos poucos, está buscando o piso de US$ 9,00/bushel, cotação que não é vista desde meados de março de 2016 (US$ 9,02/bushel).

A falta de definições em torno do litígio comercial entre EUA e China, e principalmente o excelente andamento da atual safra estadunidense, com um dos melhores climas da história até o momento, derrubam os preços em Chicago. Diante de tal contexto, os Fundos atuam fortemente na parte vendedora de contratos, puxando ainda mais para baixo as cotações. Apenas nos 10 primeiros dias úteis de junho o bushel de soja recuou 9,2%, perdendo quase um dólar de seu valor. O farelo igualmente despencou, recuando 8,3% no mesmo período, enquanto o óleo de soja perdeu 3,4%. Em 12/04 o bushel, para o primeiro mês cotado, alcançou uma das melhores cotações deste ano, fechando em US$ 10,60. Assim, em pouco mais de dois meses o recuo em seu valor (até o dia 14/06) é de 12,5% ou US$ 1,33.

Dito isso, vale lembrar sempre que o clima nos EUA será o centro das atenções até o início de setembro. Portanto, ainda há muito tempo, podendo ocorrer reversão no quadro positivo atual. Até o dia 10/06 o plantio da nova safra de soja estadunidense chegava a 93% da área esperada, contra 85% na média histórica. Quanto às condições das lavouras, 66% estão entre boas a excelentes, 28% regulares e 6% entre ruins a muito ruins.

Quanto ao litígio comercial entre EUA e China, as negociações continuam e se espera um acordo em algum momento das próximas semanas. Todavia, as tensões entre os dois países continuam, embora politicamente a reunião positiva entre EUA e Coreia do Norte, na semana que passou, tenha aliviado o ambiente na Ásiae no mundo. Vale lembrar que o presidente dos EUA deu um prazo até este dia 15/06 para que o conflito se resolva, antes de implementar as sanções comerciais contra a China, a qual promete retaliar com a implantação de tarifas sobre as importações de soja e outros produtos estadunidenses.

Por outro lado, em termos comerciais, as exportações dos EUA continuaram fracas, não ajudando a recuperar o mercado da soja. Neste sentido, as exportações líquidas estadunidenses, da oleaginosa, atingiram apenas 164.800 toneladas na semana encerrada em 31/05, ficando 5% abaixo da média das quatro semanas anteriores.

Quanto aos Fundos, na semana anterior os mesmos venderam 35 mil contratos, possuindo então 72 mil contratos em mãos. Pela primeira vez, desde meados de fevereiro, o posicionamento líquido especulativo destes Fundos apresentou um número abaixo de 100 mil contratos abertos no lado da compra.

Enfim, no dia 12/06 foi divulgado o relatório mensal de oferta e demanda do USDA, o qual poucas novidades trouxe. Foi mantida a projeção de safra dos EUA em 116,5 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais para 2018/19 naquele país foram reduzidos para 10,5 milhões de toneladas, ante 11,3 milhões indicados em maio. Em termos mundiais, a safra global de soja foi elevada para 355,2 milhões de toneladas para este novo ano comercial, com o Brasil se tornando, na projeção, o maior produtor individual de soja do mundo, com 118 milhões de toneladas, enquanto a Argentina ficaria com 56 milhões. Obviamente, será preciso combinar com o clima para que isso venha a ocorrer. Os estoques mundiais de soja estão projetados em 87 milhões de toneladas, contra 92,5 milhões em 2017/18. Enfim, as importações de soja por parte da China foram mantidas em 103 milhões de toneladas para 2018/19. Nota-se que nem mesmo a redução dos estoques finais nos EUA e no mundo na futura safra provocou uma recuperação nas cotações em Chicago.

Na Argentina, até o dia 07/06, a colheita da safra 2017/18 chegava a 91% da área, enquanto a comercialização (até o dia 31/05) atingia a 55% do volume colhido, o qual está estabelecido, agora, em 37 milhões de toneladas, consolidando uma das maiores frustrações de safra de soja do país vizinho.

No Brasil, com a forte intervenção do Banco Central durante a semana, a desvalorização do Real foi controlada e o seu valor veio a R$ 3,70 por dólar em alguns momentos da semana, acusando uma valorização de 6,3% em relação ao auge de seu enfraquecimento nos primeiros dias de junho.

A soma de uma queda importante em Chicago com a valorização do Real provocou forte recuo nos preços internos da soja nesta semana. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 72,59/saco, enquanto os lotes vieram a R$ 76,00 e R$ 76,50/saco, perdendo entre 4 e 5 reais em uma semana. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 63,50/saco em Sinop e Querência (MT) e R$ 80,00/saco em Campos Novos (SC), passando por R$ 65,00 em Chapadão do Sul e São Gabriel (MS); R$ 69,00 em Goiatuba (GO); R$ 69,50 em Pedro Afonso (TO); R$ 71,50 em Uruçuí (PI); e R$ 75,00/saco nas regiões produtoras do Paraná.

Por sua vez, a comercialização da atual safra brasileira, até o dia 08/06, atingia a 71% do total disponível, contra 69% na média histórica. Por Estado da Federação, a comercialização assim se apresentava na data indicada (entre parênteses a média histórica): RS 55% (50%); PR 62% (59%); MT 85% (79%); MS 68% (68%); GO 75% (80%); SP 70% (61%); MG 69% (75%); BA 68% (82%); SC 45% (50%). Nas demais regiões produtoras do país, o percentual vendido girava entre 69% e 87% para a corrente safra (cf. Safras & Mercado).

Quanto à safra nova, que ainda será semeada, o quadro de vendas antecipadas, até o dia 08/06, era o seguinte (entre parênteses a média histórica para o período): Brasil 8,5% (6,5%); RS 6% (3%); PR 15% (4%); MT 5% (10%); MS 2% (7%); GO 5% (7%); SP 5% (3%); MG 16% (6%); BA 8% (8%); SC 5% (2%). As demais regiões produtoras do país (Maranhão, Piauí, Tocantins, Rondônia...) já apresentavam vendas antecipadas entre 15% e 21% para a nova safra brasileira de soja, a ser colhida em 2019 (cf. Safras & Mercado). Nota-se, pela primeira vez em muitos anos, uma mudança de postura do Centro-Oeste brasileiro. O mesmo está bem mais conservador em suas vendas em relação ao restante do país, apostando em uma recuperação de preços futuros que possam superar os valores que o mercado nacional atingiu entre março e maio do corrente ano. Salvo um problema climático importante na atual safra dos EUA, tal comportamento somente poderá vir de uma desvalorização ainda maior do Real com a proximidade das eleições de outubro e, até mesmo, após as mesmas, dependendo do resultado do pleito. Mas é bom não esquecer que o Banco Central tem reservas cambiais e trabalha para impedir que o Real ultrapasse em muito o teto dos R$ 3,70, como vimos nesta última semana. Além disso, se o Copom, diante do quadro internacional de juros e da economia interna, vier a aumentar ainda neste ano a Selic, a tendência é de valorização do Real e não o contrário.


Enfim, os preços brasileiros da oleaginosa só não recuaram mais porque a continuidade do litígio entre EUA e China, somado à entressafra nacional, voltou a elevar os prêmios em nossos portos, com os mesmos oscilando entre US$ 0,55 e US$ 1,20/bushel no final da corrente semana.
 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.