Mesma produtividade reduzindo um terço da água de irrigação
Determinar a variação do consumo hídrico em função do tempo, em áreas irrigadas, é fundamental para o manejo da água na agricultura. Um estudo, conduzido pelo pesquisador Wagner Wolff, possibilitou o desenvolvimento de um algoritmo para mapeamento da evapotranspiração (ET) em culturas agrícolas, otimizado por observações de campo. Esse estudo (Optimized algorithm for evapotranspiration retrieval via remote sensing) foi publicado na revista Agricultural Water Management, em março de 2022.
Existem diferentes algoritmos para calcular o balanço de energia na superfície de uma área agrícola, que podem ser estabelecidos por sensoriamento remoto. O problema é que esses algoritmos foram formulados para condições específicas de sensores remotos, níveis de sensoriamento [que pode ser orbital - por meio de satélites - e suborbital - por meio de drones), e que varria em função do clima, solo e culturas.
A generalização dos algoritmos, para áreas com muita diversidade, como ocorre na agricultura brasileira, é um grande desafio. O principal diferencial do algoritmo desenvolvido no estudo em tela é a característica de ele ser ajustado a partir de observações no campo. Para cada processamento, os parâmetros e modelos do algoritmo são atualizados e o mapeamento da evapotranspiração é realizado com alta exatidão.
Denominado Ground-Truthed Surface Energy Balance (GT-SEB), o algoritmo utiliza observações in situ de evapotranspiração para calibragem. Alimentado por dados de sensores remotos em satélites e drones e de estações meteorológicas, o GT-SEB explora observações de campo para fusão de dados. Para cada área de processamento, restrições são impostas, gerando novos parâmetros e modelos. Assim, uma melhor performance é obtida, incertezas são reduzidas e o algoritmo apresenta uma maior generalização para diferentes condições climáticas.
A principal aplicação do algoritmo é o manejo de irrigação por taxa variável em pivô central. Mediante o mapeamento da evapotranspiração, é possível determinar zonas de manejo de irrigação como se fossem “fatias de pizza”. Para cada “fatia”, a velocidade de avanço do pivô central é controlada de forma que a água a ser aplicada varie setor por setor. Em comparação com o manejo de irrigação convencional, determinando a demanda de irrigação apenas pelo sensor no campo, e irrigando de forma fixa, o manejo de irrigação por taxa variável possibilitou uma economia de 31% no uso de água e energia.
A íntegra do artigo científico pode ser acessada em https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0378377421006673?via%3Dihub.
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro fundador do Comitê Estratégico Soja Brasil e do Conselho Científico Agro Sustentável.