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PIB: copo meio cheio e meio vazio


Argemiro Luís Brum

O PIB brasileiro do primeiro trimestre, que cresceu 1%, deve ser visto de duas maneiras: pelo ângulo do copo meio cheio e pelo ângulo do copo meio vazio. Pelo lado do copo meio cheio tem-se o fato de que o crescimento foi mais robusto do que se imaginava no início do ano. Com isso, altera-se a tendência de um PIB, no final de 2022, entre -0,3% e +0,3%. O quadro, agora, permite esperar algo entre +0,5% e +1% ao final do ano.

Igualmente verifica-se uma resposta razoável do consumo das famílias, fato que se repercutiu no desempenho do setor de serviços. Enfim, a atividade interna foi relativamente boa, apesar das agruras gerais. Pelo lado do copo meio vazio, e que exige atenção, está o fato de as previsões iniciais apontarem um crescimento entre 1,5% e 1,8%, o que não ocorreu. Igualmente, e razão para preocupações futuras, está o crescimento negativo (-3,5%) na Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, os investimentos, após 8% de crescimento no trimestre anterior.

E sem investimentos, compromete-se o crescimento futuro. De tal forma que a taxa de investimento recuou para 18,7% do PIB, contra 19,7% no mesmo período do ano passado. Isto é, investiu-se menos do que no período mais agudo da pandemia, apontando que o empresariado continua temeroso com as condições do país, em especial quanto ao que virá pós-eleições. Outro aspecto que carrega o lado vazio do copo está no fato de a indústria continuar estagnada, enquanto a agropecuária, ultimamente o carro-chefe de nosso PIB, diante das perdas climáticas, ter registrado -0,9%.

No caso da indústria, a principal geradora de empregos mais robustos, em abril a mesma estava operando 1,5% abaixo de fevereiro de 2020, antes da pandemia, e 18% abaixo do pico alcançado em maio de 2011, antes das fortes recessões que vivemos na década. Enfim, tem-se a indicação de que, em sendo o setor de serviços o elemento de alavancagem do PIB, o mesmo ainda, no primeiro trimestre, não captou suficientemente os efeitos da disparada inflacionária nacional, com a consequente elevação dos juros. Isso leva a crer que os PIBs trimestrais futuros sejam menores, sendo que o país precisaria crescer 4% ao ano. Assim, apesar de positivo, o PIB trimestral indica apenas uma recuperação ao pífio nível que nos levou à década perdida encerrada em 2020. Sem reformas, não temos tração para irmos mais longe.

 

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