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Soja: a prejudicial instabilidade do mercado


Argemiro Luís Brum

Nesta última safra os preços nacionais da soja melhoraram mais um pouco, chegando ao seu recorde nominal histórico em reais. Porém, a rentabilidade tem sido menor para uma grande maioria de produtores brasileiros. Isso, mesmo com Chicago se aproximando de seu recorde histórico, quando, a partir do início de março, supera, seguidamente, os US$ 17,00/bushel (lembrando que a média de abril/20 foi de apenas US$ 8,43 e a de abril/21 de US$ 14,65), e os prêmios, em plena colheita brasileira, atingem entre US$ 1,60 e US$ 1,90/bushel.

Ocorre que o câmbio mudou de rumo, chegando a perder um Real por dólar, ao se estabelecer ao redor de R$ 5,00 e até bem abaixo disso nos primeiros quatro meses do ano. Enquanto isso, o custo de produção disparou, puxado pelos mesmos fatores que elevaram o preço das commodities, e potencializados pela eclosão da guerra Rússia versus Ucrânia em fevereiro passado. Aqui no Rio Grande do Sul, nesta última safra de soja, o mesmo subiu 51% em termos médios (o aumento no custo dos fertilizantes superou os 100%).

Enquanto isso, em termos reais, o Estado gaúcho assistiu o valor médio da soja, recuar. Na última semana de abril/22 ele estava em R$ 186,86/saco, ficando abaixo dos R$ 189,70 que deveria estar. Ou seja, nos 12 meses considerados, não só o aumento nominal do preço da soja foi reduzido (9,3%, com este preço passando de R$ 170,90 para R$ 186,86/saco), como em termos reais, considerando apenas a inflação oficial (IPCA), o poder de compra atual da soja é menor. Isto é, em termos reais, o saco de soja, neste final de abril, valia menos do que um ano atrás. Para piorar o quadro, grande parte da região Centro-Sul do país foi atingida por uma seca, a qual quebrou fortemente a safra.

No Estado gaúcho a quebra ficou ao redor de 55%, e entre 70% a 80% em regiões de importante produção, caso do Noroeste, levando a redução de rentabilidade a virar prejuízo. Assim, para a maioria, o que se conseguiu capitalizar na safra 2020/21, graças a relação custo baixo e preços em disparada, se perdeu na safra seguinte pela inversão das variáveis. De forma geral, teria sido melhor se os preços e os custos tivessem se mantido estáveis, na altura do que se vivia antes de tudo que ocorreu nestes últimos dois anos. Dentro da normalidade, as próximas safras mostrarão isso com mais clareza!

 

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