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Uma realidade absurda


Argemiro Luís Brum

É sabido que, “...levando-se em conta que nossa população cresce 0,7% ao ano na atualidade, precisamos gerar um crescimento (PIB) de 4% a 5% ao ano”. Ora, entre 2000 e 2021 nosso crescimento médio anual foi de 2,23%, ou seja, em torno da metade do necessário. Pior, entre 2011 e 2021 o mesmo ficou em pífios 0,66% anuais. E, pior ainda, entre 2014 e 2021 (período em que vivemos duas recessões) ele foi negativo de 0,2% anual. A causa principal é sustentarmos uma economia de privilégios, centrada, em especial, em parte do setor público.

Não geramos políticas amplas de crescimento e desenvolvimento social. Ou seja, o Estado continua gastando muito e mal, sem receitas correspondentes. Para 2022, ano eleitoral, as chamadas “bombas fiscais” podem chegar a R$ 200 bilhões e, para 2023, o Projeto de Diretrizes Orçamentárias, indica mais R$ 152,7 bilhões. Em tal contexto, o teto de gastos não se sustenta mais, sem falar no descalabro das emendas parlamentares, apoiadas pelo executivo federal. Enquanto isso, sobra cada vez menos dinheiro para investimentos. O Ministério da Saúde perde 20% do orçamento em 2022, enquanto o SUS, que praticamente vem tirando o Brasil da crise pandêmica, graças a vacinação e outras ações básicas, recebe cada vez menos recursos. Sem considerar os recursos extraordinários da pandemia, entre 2018 e 2020, o SUS deixou de receber R$ 22,5 bilhões.

Nesta balada, o Conselho Nacional de Saúde considera que o sistema de saúde brasileiro pode deixar de receber R$ 400 bilhões até 2036. Nos últimos dois anos, potencializado pela pandemia, o percentual de crianças de seis e sete anos, que não sabia ler e escrever no Brasil, passou de 25,1% para 40,8%. Desde 2003 já se sabe que temos uma crise de aprendizagem, e pouco ou nada é feito para mudar o quadro. Uma realidade que compromete os próximos 50 anos. Isso tudo aumenta a desigualdade social, outro gargalo enorme que temos. Atualmente, como indica o último relatório trimestral Desigualdade nas Metrópoles (ZH, 22/04/22, p.21), a renda média dos 10% mais ricos no Brasil é mais de 30 vezes superior à média da renda dos 40% mais pobres. Em 2012 a diferença era de 21 vezes. Há um enorme recuo no bem-estar da população, e nenhuma ação estrutural na economia nacional, nestes últimos anos, que nos permita uma mudança desta realidade.

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