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Da recessão à depressão


Argemiro Luís Brum


Diante das consequências da pandemia e da incapacidade de se definir quando a mesma será superada, a economia brasileira já teria passado da fase da recessão para atingir uma depressão econômica neste primeiro semestre de 2020, com potencial de continuar assim o restante do ano. Entende-se por recessão o declínio do PIB para níveis negativos por dois ou mais trimestres consecutivos. Já a depressão indica não só o declínio do PIB, mas igualmente do nível de emprego, da produção industrial, do rendimento real etc. Pois é exatamente isso que está ocorrendo no Brasil.

Para completar o quadro, o comércio mundial vem se fechando, aumentando o protecionismo e complicando economias emergentes que dependem das exportações de bens e serviços. Além disso, em crises deste porte os investidores internacionais saem destes países emergentes e buscam refúgio em países desenvolvidos. Até o pouco que resta do Mercosul “faz água” com a saída da Argentina das futuras negociações comerciais do bloco.

Assim, o Brasil deverá fechar o ano com um PIB ao redor de -6% (existindo projeções de até -11%). A produção industrial, após registrar -9,1% no mês de março (o pior resultado para março em 18 anos), deve registrar um percentual muito pior em abril, fechando o primeiro semestre em um dos piores níveis de sua história.

Por outro lado, o desemprego, que já havia voltado a aumentar em fevereiro (antes da pandemia), atingindo a 11,6% da população, poderá chegar ao seu pior nível dos últimos 25 anos ao atingir, no final do corrente ano, a 25% da população ativa. Obviamente, isso já está reduzindo a renda média dos brasileiros em geral, a qual já estava em níveis desastrosos. Segundo estudo do IBGE recentemente divulgado, em 2019 o Brasil registrava 105 milhões de pessoas (metade da população) sobrevivendo com apenas R$ 438,00 mensais (R$ 15,00 por dia). Pior: os 10% mais pobres (cerca de 21 milhões de pessoas) sobreviviam com apenas R$ 112,00 mensais (R$ 3,73 por dia).

Desta forma, mesmo que a economia volte a funcionar, a recuperação será morosa, pois a população não tem renda para gastar. E o crédito existente é pouco e muito caro, pois a redução da Selic não resolve a questão do juro real pago pela sociedade. Enfim, superar a atual depressão, voltando para os níveis do pré-Covid-19 (que já não eram bons), levará ainda entre dois a três anos (na melhor das hipóteses, em meados de 2022). E aqui ainda não está sendo contabilizado os efeitos negativos da péssima gestão pública que o Executivo brasileiro vem realizando nestes últimos meses. 

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