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Recessão a vista?


Argemiro Luís Brum

Agora oficial, o PIB do primeiro trimestre de 2019 foi negativo em 0,2% em relação ao quarto trimestre de 2018 (lembrando que o primeiro trimestre de 2018 foi positivo em 0,5%). Ou seja, a economia brasileira piorou neste início de ano. Aliás, a mesma nunca melhorou de fato desde a grande recessão vivida em 2015 e 2016.

Nosso pífio crescimento em 2017 e 2018 não deixava dúvidas de que estávamos diante de um voo de galinha, e dos mais baixos. Assim, estamos à beira de mais uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos negativos) a julgar pelo caminhar da economia neste segundo trimestre do ano. Com isso, logicamente a tendência para 2019 piorou.

Hoje, o quadro aponta para um PIB final entre 0,5% e 1%, quando no início do ano os mais otimistas chegavam a apontar 3%. A abertura do PIB trimestral nos fornece algumas explicações. Em primeiro lugar, a indústria nacional recuou 0,7% no trimestre, consolidando, esta sim, um estágio de recessão técnica. Isto explica boa parte do alto desemprego que temos e que aumentou desde o final do ano passado, apesar de uma pequena melhoria no último levantamento.

Em segundo lugar, a agropecuária, que geralmente puxa a economia, neste trimestre apresentou resultado negativo de 0,5%. Este setor enfrentou alguns problemas climáticos regionais, assim como preços médios mais fracos. Pelo lado da demanda, além de exportações ruins (-1,9%) tem-se investimentos em péssima situação (-1,7%).

Este último caso, também com uma segunda queda consecutiva, indica que os empresários continuam desconfiados. As dificuldades para aprovar a reforma da previdência alimentam o sentimento. E investimentos são a fotografia futura da economia. Ou seja, a mesma continua desbotada. O quadro geral só não foi pior porque o consumo das famílias cresceu 0,3% no trimestre. Todavia, trata-se de um consumo de manutenção, ou seja, de sobrevivência.

Com uma população altamente endividada e inadimplente não se pode esperar um consumo sustentável, que indique pela substituição de bens e pelo produto novo. E os juros reais altíssimos aqui praticados não colaboram para uma mudança de cenário nesta rubrica. Assim, a ilusão de uma economia em recuperação, alimentada pelo simples fato das eleições, dá lugar a realidade de uma economia estagnada e em recuo, flertando novamente com a recessão.

Sempre afirmamos neste espaço que, para sair do estrago econômico causado no período de 2007 a 2016, levaríamos, pelo menos, até 2024, desde que houvesse correções de rumo neste ínterim. Por enquanto, não está havendo e, por isso, não pode ser surpresa que nosso PIB esteja apenas no nível do primeiro semestre de 2012 (a renda per capita média está 9,1% abaixo do nível do começo de 2014). Já perdemos sete anos, com tendência de perdermos muito mais se não destravarmos a economia, pois é pouca a luz no fim do túnel da crise que vivemos. 

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