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Cultivares de arroz

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 A escolha da cultivar adequada é uma decisão que cabe ao produtor e/ou técnico, levando-se em conta que o rendimento de uma lavoura de arroz é o resultado do potencial genético da semente e das condições edafoclimáticas do local de plantio, além do manejo da lavoura. De modo geral, a cultivar é responsável por 50% do rendimento final. Consequentemente, a escolha correta da semente pode ser a razão de sucesso ou insucesso da lavoura.
Outros aspectos relacionados às características da cultivar e do sistema de produção deverão ser levados em consideração, para que a lavoura se torne mais competitiva. A escolha de cada cultivar deve atender as necessidades específicas, pois não existe uma cultivar superior que consiga atender a todas as situações. Na escolha da cultivar, o produtor deve fazer uma avaliação completa das informações geradas pela pesquisa, assistência técnica, empresas produtoras de sementes, experiências regionais e pelo comportamento em safras passadas. O produtor deverá ter em mente aspectos como adaptação da cultivar a região, produtividade e estabilidade, ciclo, tolerância a doenças e qualidade do grão. 

A melhor forma de garantir um rendimento superior é a utilização de sementes das categorias básicas, fiscalizadas e/ou certificadas e o uso de cultivares recomendadas pelas Comissões Regionais de Pesquisa, conforme descrito pelo Zoneamento agrícola da cultura para cada região do país.

Cultivares registradas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC)

Com a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997) e da instituição do Registro Nacional de Cultivares – RNC (Portaria nº 527, de 31 de dezembro de 1997) as instituições ou empresas detentoras das variedades de arroz ao fazerem o registro junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC, vinculado a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Ministério da Agricultura e do Abastecimento, ficam responsáveis por todas as informações fornecidas sobre as características e desempenho das cultivares dentro da região recomendada. A listagem completa e atualizada das cultivares de arroz registradas no Brasil está disponível para consulta na Internet (http://extranet.agricultura.gov.br/php/proton/cultivarweb/cultivares_protegidas.php ).

Em razão da diversidade genética entre cultivares, representada por diferenças nas reações a doenças e a estresses ambientais, resposta ao nitrogênio e pela desigualdade do ciclo, é aconselhável utilizar no mínimo duas cultivares com características distintas para garantir maior estabilidade da produção e facilitar o escalonamento da colheita. 

Características das cultivares de arroz irrigado

Um dos fatores que mais contribuem para elevar a lucratividade via aumento da produtividade de grãos, na lavoura de arroz, é o perfeito conhecimento, por parte do produtor, das exigências e peculiaridades das principais cultivares disponíveis para o cultivo, que permita a escolha do material genético mais adequado à sua realidade de lavoura.

Diversos parâmetros podem ser considerados para classificar as diferentes cultivares de arroz irrigado, dentre os quais destacam-se:

1. A arquitetura de planta

Embora seja uma classificação empírica, em termos práticos existem três tipos de arquitetura de plantas de arroz nas lavouras orizícolas do Brasil, assim denominadas:

a) Tradicional (gaúcha);

b) Intermediária (americana);

c) Semi anã filipina (moderna filipina) e semi anã americana (moderna americana).

A distinção de grupos de plantas auxilia aqueles que estão envolvidos com a lavoura orizícola, pois facilita tomada de decisões quanto a práticas de manejo a serem adotadas, diagnóstico de estresses bióticos (doenças) e abióticos (frio) e até prognóstico de produtividade.

Tradicional

As plantas de arquitetura "tradicional", em geral, apresentam porte superior a 105 cm, baixa capacidade de perfilhamento, folhas longas e decumbentes pilosas, rústicas e, consequentemente, menos exigentes quanto às condições de cultivo, embora possam responder favoravelmente quando conduzidas dentro da melhor tecnologia recomendada. Além disto, apresentam suscetibilidade à brusone em semeaduras tardias e/ou sob alta fertilidade de nitrogênio, ciclo biológico médio ou semi-tardio, tolerância à lâmina de água de irrigação desuniforme (terreno não aplainado) em razão do porte alto e boa resistência às doenças de importância econômica secundária, como rizoctonioses.

Os grãos destas cultivares podem ser curtos, médios ou longos, de secção transversal elipsóide, de casca pilosa clara. Dado ao alto vigor possuem boa capacidade competitiva com plantas invasoras, podendo, no entanto, apresentar acamamento quando sob alta fertilidade natural ou quando recebem doses elevadas de nitrogênio. Mesmo em condições de solo frio, o vigor inicial das plantas desse grupo permite competir com as plantas por luz solar, água e nutrientes, motivo pelo qual elas são adaptadas às semeaduras do cedo, quando geralmente ocorrem baixas temperaturas de solo.

Intermediária

As plantas desse grupo, em geral, possuem o porte intermediário (ao redor de 100 cm), folhas curtas, estreitas, semi-eretas e lisas. Como regra, as plantas apresentam baixo vigor inicial quando em semeaduras do cedo, em função da baixa temperatura do solo.

Em razão do porte e vigor inicial, são cultivares exigentes principalmente quanto ao preparo do solo, incluindo aplainamento e controle de plantas daninhas. Têm o ciclo, em geral, variando entre precoce e médio, baixa capacidade de perfilhamento, baixa resistência às doenças de importância econômica secundária (especialmente as rizoctonioses), porém são fontes de resistência à ponta branca.

Os grãos podem ser curtos, médios ou longos, tipo patna (longo, fino e cilíndrico), de alta qualidade e aceitação no mercado internacional. Em razão da fácil debulha, são cultivares impróprias à colheita manual. Possuem suscetibilidade à brusone variável, porém a maioria é atacada sob níveis elevados de nitrogênio e deficiente manejo de água, principalmente com retardo no início da irrigação. Em função da precocidade, algumas delas toleram as semeaduras tardias.

Semi anã filipina

Inclui todas as cultivares de porte baixo (ou semi-anão), inferior a 100 cm, folhas curtas e eretas (pilosas ou lisas) e de alta capacidade de perfilhamento, o que proporciona condições de produzir mais grãos que as cultivares de outros grupos.

Essas cultivares possuem colmos fortes, tolerando níveis elevados de nitrogênio em cobertura, sem sofrerem acamamento. O ciclo biológico vai de precoce a tardio e os grãos tipo patna, de casca pilosa ou lisa. Em geral, as cultivares possuem reações variáveis às raças de brusone, predominando a reação intermediária.

Em condições de solo frio, demonstram vigor inicial mediano, indicando baixa competição com as plantas daninhas. Devido à arquitetura das plantas, respondem em produção de grãos a níveis mais altos de nitrogênio do que as cultivares dos demais grupos até aqui descritos. O porte baixo e alta degranação natural das sementes obriga ao corte mecanizado. O porte semi-anão, juntamente com o vigor inicial médio, tornam as cultivares de arquitetura "moderna filipina" altamente exigentes quanto ao preparo e aplainamento do solo (uniformidade na altura da lâmina de água) e ao controle inicial de inços.

A dormência e a debulha características das cultivares deste grupo, não permite o uso da mesma área para produção de sementes de outra cultivar, especialmente nos primeiros anos de cultivo.

Semi anã americana

Inclui as cultivares de porte baixo (ou semi anão moderno), inferior a 100 cm. As plantas possuem folhas de superfície lisa, cor verde-azulada, curtas, hábito ereto e baixa capacidade de perfilhamento, característica que a diferencia das plantas do tipo moderna filipina. As panículas são, geralmente, compactas com alta fertilidade de espiguetas, superando a da moderna filipina, principalmente sob condições ambientais de ampla variação térmica do ar, pois toleram mais frio na fase reprodutiva.

As plantas dessas cultivares possuem colmos fortes e robustos, por isso, toleram níveis elevados de nitrogênio em cobertura, sem acamarem, podendo ser alternativas no sistema de implantação do arroz através de sementes pré-germinadas. O ciclo biológico vai de precoce a mediano e os grãos tipo patna, de casca lisa. Em geral, as cultivares possuem reações variáveis às raças de brusone, predominando a reação intermediária.

Em condições de solo frio, demonstram vigor inicial mediano, indicando baixa competição com as plantas daninhas. Devido à arquitetura das plantas, respondem em produção de grãos a níveis altos de nitrogênio, a exemplo das cultivares do grupo moderna filipina. O porte baixo obriga ao corte mecanizado e a baixa debulha natural das sementes evita maiores perdas na faixa recomendada de colheita, entre 19 à 23% de umidade no grão. O porte semi-anão, juntamente com o vigor inicial médio, tornam as cultivares de arquitetura moderna americana altamente exigentes quanto ao preparo e aplainamento do solo (uniformidade na altura da lâmina de água) e ao controle inicial de inços.

2. Ciclo/grupo de maturação

Quanto ao ciclo de desenvolvimento, as cultivares de arroz irrigado do clima subtropical do Sul do Brasil, variam, no Rio Grande do Sul, entre super precoce (<100 dias), precoce ( 110-120 dias), médio (121-130 dias) e semi tardio ( >130dias). Em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul e nos demais estados produtores, o ciclo é definido como precoce (<120 dias), médio (121-135 dias), semi-tardio (136-150 dias) e tardio (> 150 dias).

Cutivares de ciclo super precoce e precoce

As cultivares super-precoces têm importância nas lavouras que apresentam peculiaridades de cultivo, como por exemplo, em locais da lavoura de alta infestação de plantas de arroz vermelho e preto, cuja concorrência por nutrientes, água e luminosidade com cultivar de ciclo biológico semelhante, não permite mais lucratividade. As cultivares super-precoces são colhidas antes da maturação do arroz vermelho, propiciando redução no índice de sementes da invasora na lavoura e lucratividade ao negócio. A colheita do cedo, também, leva à obtenção de um melhor preço por entrar antes no mercado e em condições de clima quente e luminoso, proporciona uma soca (segunda colheita à custos baixos) na mesma safra.

As cultivares precoces apresentam o ciclo em torno de dez dias inferior ao das cultivares de ciclo médio. Consequentemente mostram um potencial produtivo ligeiramente inferior. Contudo, este tipo de cultivar permite ao agricultor, estabelecer, no planejamento da lavoura, o escalonamento adequado no plantio e, principalmente, na colheita, com base na sua realidade de infra-estrutura de máquinas, mão-de-obra, capacidade de secagem, transporte, entre outras. Assim como as super-precoces, estas cultivares são uma alternativa para o plantio em regiões sujeitas à ocorrência, com maior frequência, de períodos de baixas temperaturas, na fases mais críticas da cultura.

Cultivares de ciclo Médio

As cultivares de ciclo médio, uma vez bem manejadas, apresentam potencial produtivo, em lavouras comerciais, acima dos 10.000 kg ha-1. Como regra, um dos problemas mais acentuados deste grupo de cultivares, é a sensibilidade a baixas temperaturas, especialmente, quando estas coincidirem com as fases de diferenciação dos primórdios florais (emborrachamento) e floração, consideradas as mais críticas do desenvolvimento das plantas.

Cultivares de ciclo semi tardio e tardio

As cultivares de ciclo semi tardio compreendem aquelas que apresentam, em média, o período entre a emergência e a maturação igual ou superior a 135 dias. 

Uso de melhoramento genético para obtenção de cultivares de arroz

As novas cultivares de arroz são obtidas através de processos e técnicas de melhoramento que possibilitam aos melhoristas selecionarem os melhores indivíduos através do fenótipo e, mais recentemente, com a ajuda da biotecnologia (marcadores moleculares), diretamente através do genótipo, o que oferece maior segurança, pois a influência ambiental, neste caso, é insignificante.

Para tanto, são necessárias duas etapas básicas :

a) obtenção de variabilidade genética;

b) seleção dos genótipos superiores.

Para obter e explorar a variabilidade no programa de melhoramento de arroz, é necessário o conhecimento da constituição genética das populações com que trabalha e decidir quais os genitores (pais) que serão utilizados no programa de hibridações controladas.

Outra fonte muito explorada em arroz irrigado é a variabilidade natural encontrada, frequentemente, em cultivares comerciais e que pode ser atribuída à pequena taxa de segregação residual das próprias cultivares ou ao cruzamento natural existente em arroz.

A decisão de onde, como e quando deve ser iniciado o processo de seleção também depende de vários fatores. De modo geral, a seleção para características associadas ao rendimento de grãos e comportamento agronômico deve ser realizada em ambientes uniformes, que representem as características da região ou regiões, para qual a nova cultivar está sendo selecionado. Por outro lado, para avaliar características que dizem respeito à tolerância à estresses relacionados ao solo e clima ou, ainda, a agentes biológicos como pragas e doenças, os programas de melhoramento simulam efeitos sobre as plantas em seleção.

Para características qualitativas, aquelas governadas por um ou poucos genes, como ausência de pilosidade em arroz, qualidade importante para a lavoura e indústria do arroz, o ambiente tem pouca influência e a herdabilidade é alta. Nestes casos, a seleção já é realizada nas gerações mais precoces do processo de melhoramento (F2 e F3).

Para características quantitativas, como rendimento de grãos, qualidade determinada pela interação de muitos pares de genes com o meio ambiente, a seleção vai desde as primeiras gerações (F2-F3) até as mais avançadas (F5-F7).

O melhoramento genético do arroz visa principalmente a obtenção de cultivares com elevado potencial produtivo, alta qualidade industrial, comercial e culinária do grão, além de tipo de grão, ciclo biológico e altura da planta, adequados à colheita mecanizada. Também, devem ter reação de resistência às doenças (brusone), insetos, bem como tolerância ao frio, a toxicidade por ferro e a salinização do solo e da água. Em síntese, a cultivar deve ter produtividade alta e estável, com tipo e qualidade (intrínseca) de grão que atendam as necessidades e preferências do usuário do arroz.
 

 

José Luis da Silva Nunes

Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia

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