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Neutralidade climática continua durante o outono e inverno deste ano

As condições oceânicas e atmosféricas continuam indicando Neutralidade


Foto: Marcel Oliveira

Fevereiro registrou precipitações abaixo da média climatológica em todo o estado do Rio Grande do Sul (RS). Apenas partes da Fronteira Oeste e Norte do Estado receberam os maiores volumes, que ficaram entre 100 e 150mm, pois algumas regiões como Camaquã e de Soledade/Serafina Corrêa, receberam entre 2 e 25mm apenas (Figura 1 A). A anomalia de precipitação na maior parte do RS foi de -50 a -100 mm, mas houve locais onde o déficit chegou entre -100 e -200 mm (Figura 1 B). O próximo boletim terá informações sobre o mês de março, mas, pode-se adiantar que na primeira quinzena não houve chuvas no RS e que, provavelmente, também será um mês com chuvas abaixo da normal climatológica.

Em resumo, o verão (período de 22 de dezembro de 2019 a 20 de março de 2020) terminou com déficit de precipitação na maioria dos municípios do RS. Devido à neutralidade climática, alertava-se que as chuvas poderiam ficar abaixo da média climatológica, como alguns modelos vinham apontando. No entanto, esperava-se que as chuvas voltassem a se regularizar em meados de março, o que não ocorreu. Isto agrava, dia a dia, a situação da forte estiagem nesse Estado. Além da falta de chuvas, duas ondas de calor, uma em final de dezembro e outra no início de março, também ajudaram a agravar a situação, devido à alta taxa de evapotranspiração que elas ocasionam.

Entretanto, se as chuvas de janeiro não tivessem ocorrido, a situação estaria bem pior e, com certeza, muitos outros municípios estariam com racionamento de água e as perdas na agricultura seriam ainda maiores, como foi no verão de 2004/2005, onde foram quatro meses consecutivos (de dezembro a março) com muita pouca chuva.

Em fevereiro, as temperaturas mínimas ficaram, em média, entre 1 e 2 °C abaixo da normal climatológica nas regiões da Campanha, Centro e Zona Sul. Já as temperaturas máximas ficaram dentro da normal na maioria das regiões. Somente na região metropolitana de Porto Alegre e na Serra as temperaturas ficaram entre 1 e 4 °C acima da média climatológica.

Condições da radiação solar durante fevereiro de 2020

A radiação solar é um fator importante para as lavouras de arroz em estádio reprodutivo. Os mapas decendiais mostram que no 1º decêndio de fevereiro (Figura 2 B), a radiação solar foi acima média climatológica em todas as regiões orizícolas. No 2º decêndio (Figura 2 C), os valores de radiação solar ficaram acima da média na metade Leste e abaixo da média na metade Oeste do Rio Grande do Sul. Já no 3º decêndio (Figura 2 D), os valores de radiação solar voltaram a ficar acima da média em todas as regiões orizícolas do Estado.

De modo geral, a média da radiação solar durante o mês de fevereiro, nas regiões orizícolas do RS, foi de 24, 1 MJ m-2, ou 575,9 cal cm-2, ou seja, ela ficou acima da normal climatológica, com anomalia de +2,9 MJ m-2 dia-1.

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

As condições oceânicas e atmosféricas continuam indicando Neutralidade. Porém, com pequeno viés positivo, visto que a anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na região Niño3.4 está em torno de +0,5 °C (Figura 3) nos últimos três trimestres consecutivos móveis (OND, NDJ e DJF). Porém, não há indicativo para a formação de um novo episódio El Niño para a próxima safra. As condições do Oceano Atlântico Sul também têm se mantido desfavoráveis às chuvas no RS, já que as águas têm se mantido dentro do padrão neutro.

Segundo o IRI (International Research Institute for Climate and Society), a fase Neutra tem 66% de chance de se manter no trimestre abril, maio e junho e de 53 % no inverno, que corresponde ao trimestre junho, julho e agosto.

A previsão atualizada pela NOAA (Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia) no dia 12 de março elevou as chances de configuração de um evento La Niña para a próxima safra. Isso gerou certo alarde e pânico entre os produtores do RS, visto que se está sob forte estiagem no momento. A NOAA prevê, para o outubro, novembro e dezembro de 2020, 40% de chance para La Niña e 41% de chance para Neutralidade, ou seja, pela média dos modelos, as chances são as mesmas para os dois eventos. O que ocorre é que um ou dois modelos estão indicando maior probabilidade para a La Niña.

No entanto, deve-se ressaltar que as previsões feitas agora durante o período do outono possuem confiabilidade menor, com isso, a atenção deve ser redobrada na interpretação das previsões. Outro fator a ser considerado, é que o trimestre em questão ainda está bastante distante. Por isso, é necessário acompanhar as previsões nos próximos meses, para ver se este padrão irá continuar, mas, por enquanto, até o inverno, o padrão predominante será o da Neutralidade.

Com relação às temperaturas, massas de ar frio deverão chegar já em abril, após a passagem de frentes frias. Frio mais intenso, com risco para geadas, só a partir de maio.

Mesmo assim, as médias mensais previstas são de temperaturas entre a normal climatológica ou pouco acima do padrão, entre +1 e +2 °C, para os próximos três meses.

Abril: as chuvas ainda vão demorar a regularizar, tanto que as previsões têm mudado bastante. A expectativa é de que as precipitações ainda fiquem abaixo da média, entre -10 e -35 mm. Lembrando que a média climatológica em abril é de 110 mm no Sul e Leste, de 160 mm no Oeste e de 170 mm no Centro do Estado.

Maio: as simulações para maio também têm oscilado, mas as últimas atualizações mostram um cenário mais chuvoso, com expectativa de precipitações superiores à média climatológica. As anomalias de precipitação devem ficar entre +10 e +30 mm.

Junho: as simulações são mais consistentes e apontam para precipitações acima da média climatológica. As anomalias devem ficar entre +10 e +35 mm, em relação à normal climatológica.

Independentemente se as precipitações ficarem acima ou abaixo da normal climatológica, o fato é que, com a chegada do outono, a tendência é de que as frentes frias passem com maior frequência sobre o Estado e, com isso, a umidade retorne gradualmente. O padrão mais atuante neste verão foi a ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), que provocou muita chuva no Sudeste, retendo a umidade por lá, ou seja, literalmente não sobrou umidade para a formação de nuvens no RS, causando maior ausência de chuvas e consequente estiagem.

O outono iniciou no dia 20 de março e com ele algumas mudanças nos padrões de tempo começarão a ser percebidas. Como este é um período de transição entre as estações quente (verão) e fria (inverno), poderão ser observadas características das duas estações. Abaixo seguem alguns dos padrões predominantes de outono:

O ingresso de frentes frias (sistema de baixa pressão atmosférica) começa a ficar mais frequente e, depois do sistema de baixa pressão, vem o sistema de alta pressão atmosférica, geralmente acompanhado por temperaturas amenas e tempo mais ventoso de Sul e Sudoeste.
A Alta Subtropical, localizada no Oceano Atlântico, é móvel e se intensifica no outono. Algumas vezes ela consegue influenciar parte do Brasil e do estado do RS, tornando o tempo mais seco, com grande amplitude térmica diária (diferença entre as temperaturas mínima e máxima).
 Não raro, ocorre o ingresso de massas de ar mais frio, típicas do inverno, ainda durante o outono. As frentes frias, com caraterísticas continentais, trazem consigo os ventos de Sul e temperaturas baixas, o que se pode chamar de ondas de frio.
Há, ainda, a possibilidade de formação de tempestades severas nesta época do ano, que é quando alguns padrões sinóticos se combinam, desencadeando em situações de chuvas fortes, acompanhadas de temporais mais intensos.
Com relação à colheita de grãos da safra 2019/2020, os produtores poderão ter problemas, devido à ocorrência de chuvas e, também, ao tempo mais úmido, com formação de nevoeiros, típicos da estação. Então, poderão enfrentar esses problemas, aquelas lavouras de arroz semeadas tardiamente, e a soja, cujo pico de colheita deverá ser no mês de abril.

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