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Alimentos do Brasil para a Índia, oportunidades


Amélio Dall’Agnol

A China já surpreendeu o mundo. Agora é a vez da Índia. Segundo estimativas do Banco Mundial, a Índia conta com uma população de 1,35 bilhões (2018), sendo pouco inferior à da China (1,39 bilhões), mas sinalizando com a possibilidade de ultrapassá-la até 2030, dado o atual ritmo de crescimento da sua população. A ONU estima que a Índia terá 1,52 bilhões de habitantes em 2100; 167 milhões a mais do que a população atual. O país precisará produzir mais alimentos ou importar. Oportunidade para o Brasil.

A Índia iniciou as mudanças estruturais que a estão levando ao sucesso sócio econômico no século XXI, iniciativa que a China teve a partir da década de 1980: desburocratizar, abrir o mercado, facilitar negócios. A Índia é a 7ª maior economia do planeta, à frente do Brasil. Mas o ritmo de crescimento do PIB indiano é muito superior ao do Brasil. Nos anos mais recentes desta década, cresceu a uma taxa média anual de cerca de 7º, ante um Brasil que permaneceu estagnado. 

A principal força da economia indiana reside no setor de serviços, mas é na agricultura tradicional onde mais de 50% da força de trabalho do país está concentrada, atuando em propriedades minúsculas (tamanho médio de 1,2 hectares), onde produzem principalmente trigo, arroz, chá, algodão, juta, cana de açúcar e pulses (grão de bico, ervilha, lentilha...). A predominância é de pequenas propriedades, mas também existem grandes plantações de chá, tabaco e algodão, produtos direcionadas para a exportação; herança dos colonizadores ingleses. 

Apesar do predomínio de pequenas propriedades familiares, a Índia é um grande produtor agrícola, ficando atrás, apenas, da China, Estados Unidos e Brasil, pela ordem de importância. Mas, dada a sua enorme população, consome quase tudo, em contraste com a do Brasil, que produz muito, e consome pouco, dado que sua população é seis vezes menor. 

A principal força de trabalho da agricultura indiana tem origem na mão de obra familiar. A mecanização é quase inexistente nas propriedades familiares. A agroindustrialização também é incipiente (processa menos de 10% do que produz) e a produção é comercializada nos mercados tradicionais, com pouca agregação de valor. A oferta é instável e, como consequência, há grande volatilidade nos preços. O atual governo (Narendra Modi) está empenhado em alterar essa realidade, modificando a política de subsídios (ineficiente), de controle de preços, de estoques públicos e de direitos de propriedade.

O Brasil, que tem no setor agrícola uma das maiores (ou seria a maior!) fortalezas da sua economia, poderia estabelecer parcerias para implementar o comércio bilateral, hoje restrito a menos de U$ 8,0 bilhões/ano; insignificantes considerando o tamanho dos dois países e o contraste do comércio que o Brasil tem com a China, que é 10 vezes maior. A realidade atual da Índia não é muito diferente da que foi a da China nos anos 1980, razão pela qual poderíamos antever grandes possibilidades de negócios com os indianos, igual aconteceu com os chineses, hoje nossos principais parceiros comerciais.

Dado o potencial de consumo alimentar de uma nação de 1,35 bilhões de pessoas e em crescimento, estima-se que dificilmente a Índia terá condições de atender - com produção própria - a demanda crescente por alimentos que virão do aumento da população e, principalmente, do enriquecimento dessa gente que, com mais dinheiro no bolso consumirá mais e por mais tempo, visto que com a melhoria das condições de vida aumentará a sobrevida dos cidadãos indianos.

Do Brasil a Índia importa poucos produtos: petróleo, óleo de soja e açúcar, mas o Brasil tem potencial para exportar muito mais: etanol, por exemplo, para atender o desejo indiano de consolidar a mistura de 10% do biocombustível na gasolina. A Índia poderia produzir o próprio etanol, pois é um grande produtor de cana de açúcar, mas precisa dessa matéria prima para fins alimentares. 

Além do etanol, outra grande oportunidade do Brasil no comércio com a Índia estaria no fornecimento de proteínas animais. Com o enriquecimento da população, muitos indianos estão aderindo a uma alimentação não vegetariana, onde o Brasil poderia entrar como grande fornecedor de frango e produtos lácteos.

Além de alimentos, o Brasil tem potencial para exportar para a Índia muitos outros produtos, mas precisa interagir mais com o gigante asiático.

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