CI

A Agricultura Natural e a criação de valor na cadeia produtiva de frangos de corte


Opinião Livre

 Luiz Carlos Demattê Filho¹, 

Os avanços técnicos e produtivos estão presentes de forma intensa em cadeias agroindustriais e a produção de frangos de corte não é uma exceção. Muito pelo contrário. A estrutura predominantemente integrada e verticalizada conferiu ganhos de escala e de produtividade consideráveis, tornando-a altamente eficiente, ampliando sobremaneira a oferta de uma proteína de alto valor. Esta eficiência, no entanto, tem sido questionada quanto a sua intensidade, quanto ao uso de antibióticos e quanto às condições de desconforto e aglomeração impostas aos animais expondo os a doenças e más condições de vida. 

Dados já não tão recentes, gerados por pesquisas e divulgados em órgãos oficiais como FAO apontam uma aceleração considerável de eventos epidemio-zoonóticos ao redor do mundo nos últimos 20 anos. A saúde de animais de produções e a proximidade com animais de vida livre têm impactado a cadeia global de saúde e bem-estar de seres humanos de uma forma sem precedentes na história. O mesmo órgão em seu relatório, World Livestock de 2013, afirma que mais de 70% de doenças humanas são originadas em animais. A pandemia causada pelo novo coronavírus, seguramente, aumentará este percentual. Nesta mesma linha, órgãos como a OMS apontam que o desenvolvimento de resistência bacteriana é um dos principais eventos de impacto à saúde pública, com níveis alarmantes de resistência bacteriana crescendo em todo o mundo. 

Todos esses fatos têm criado condições e estimulado as pessoas na busca por hábitos de vida saudáveis, incluindo, obviamente, os cuidados com a alimentação. A Korin é uma empresa que tem se beneficiado por esta demanda crescente por alimentos que atendam estes anseios. Ela surgiu em 1994, resultado de trabalhos de apoio e fomento a agricultores que adotaram práticas produtivas embasadas nos conceitos e princípios da Agricultura Natural, conforme preconizada pelo pensador japonês Mokiti Okada (Japão, 1882-1955). Esta agricultura embasada na natureza é considerada por Mokiti Okada como um dos pilares de uma sociedade ideal, destacando que sua finalidade reside na responsabilidade pelo abastecimento de alimentos que, originados em acordo com os princípios, processos e funções presentes na natureza, serão capazes de conduzir os seres humanos a um estado de saúde integral, possibilitando o desenvolvimento de uma civilização pacífica, saudável e próspera. 

O modelo possui uma base teórica que privilegia a saúde de produtores e consumidores, a responsabilidade social, a preservação do meio ambiente e as práticas de produção mais naturais, respondendo às expectativas do número crescente de consumidores. 

A compreensão dos fenômenos naturais promove inovações em produtos e processos que, quando aplicados aos sistemas produtivos, torna-os resilientes e aderentes aos ideais de sustentabilidade nas suas dimensões ambientais, sociais e econômicas.

Um exemplo muito ilustrativo dessas inovações aconteceu há praticamente trinta anos, quando iniciamos o desenvolvimento de frangos e ovos sem a utilização de antibióticos, promotores de crescimento, quimioterápicos, anticoccidianos e ingredientes de origem animal na dieta das aves. Este processo, para ser bem sucedido, precisou dar grande ênfase ao bem-estar dos animais, pois esta é a forma mais natural e eficaz de promover a competência imunológica necessária para que as aves sejam resilientes e capazes de superar os desafios sanitários. Uma série de estratégias nutricionais foram desenvolvidas com o uso de substâncias naturais como probióticos, ácidos orgânicos, extratos de plantas e óleos essenciais, cujas combinações resultaram em ganhos de produtividade. Nada disso, no entanto, foi utilizado como “remédios”, mas sim como simulações das condições naturais que estes animais experimentaram em sua evolução biológica. Com isso, a Korin foi a primeira empresa a criar uma norma de produção sem o uso de antibióticos. Esta norma se transformou num protocolo de auditoria e certificação de processo. Este mecanismo foi adotado por empresas certificadoras, as quais foram treinadas pela Korin no método de produção e, atualmente, este protocolo de auditoria tem sido utilizado por grandes empresas do setor em seus produtos livres de antibióticos, demonstrando nossa contribuição na transferência de tecnologias e no benefício social que nosso trabalho tem gerado. Fruto de nossas condutas, já há muito estabelecidas em bem-estar animal, fomos a primeira empresa no Brasil com frango e ovos certificados bem-estar animal e, atualmente, somos também a primeira e única empresa a não utilizar grãos transgênicos na alimentação das aves.

 Todas essas diferenciações estratégicas e produtivas criadas a partir da Agricultura Natural se transformou numa plataforma de criação de valor da empresa e a perspectiva de tomar a natureza como um padrão promove, invariavelmente, diferenciais que se refletem nos resultados de forma muito pragmática. 

Outro exemplo significativo é que os produtores integrados são orientados, não apenas na produção, mas também em todos os quesitos que possam transformar sua propriedade rural e manter suas atividades de forma sustentável. Baseado na metodologia do Apoia – NovoRural, desenvolvida pela Embrapa para análise de desempenho ambiental da atividade rural, a empresa demonstrou excelentes índices de sustentabilidade, consagrando-se como modelo de desenvolvimento sustentável ao receber o prêmio Eco, promovido pela Câmara de Comércio BrasilEstados Unidos (AMCHAM), nos anos de 2012, 2013 e 2016. 

A produção de frangos e ovos divide-se em três categorias: Sustentável – sem uso de antibióticos terapêuticos ou como melhoradores de desempenho e sem ingredientes de origem animal e transgênicos na dieta; Caipira: criados nos mesmos moldes que o Sustentável, mas com utilização de raça de crescimento lento sendo portanto, abatidos com idade maior; e Orgânico: criados de acordo com a legislação brasileira, com ingredientes vegetais orgânicos na ração. Fomos a primeira empresa brasileira a exportar frangos orgânicos, este um mercado em franco crescimento em todo o mundo e com grande potencial na criação de cadeias de valor. 

Hoje, os produtos Korin, sobretudo a carne de frango, devido à cadeia de frios, chega a todos os estados brasileiros contribuindo para a conscientização de milhares de consumidores. A empresa estima que 600 mil pessoas, consumam seus produtos mensalmente. 

Desta forma, como uma agroindústria, a Korin exerce uma grande influência no seu ambiente de produção rural e contribui com a elevação da consciência de milhares de pessoas em todo o Brasil para as questões sociais, ambientais e de saúde, concernentes à agricultura e a produção de alimentos. 

Em resumo, A Korin é talvez a empresa de maior sucesso na história recente da atividade avícola a trabalhar o conceito de cadeia de valor, conseguindo grandes diferenciações produtivas e mercadológicas.

 ¹ Diretor superintendente da Korin Agricultura e Meio Ambiente, é doutor pelo Programa de Pós graduação em Ecologia Aplicada – Cena/Esalq – USP e pós doutorando pelo Depto de Operações e Sustentabilidade da EAESP- FGV/SP.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.